Sem reproduzir preconceitos
As animações que abordam gênero, etnia e orientação sexual sem reproduzir preconceitos
- Matheus Moreira 05 Fev 2017
Desenhos dos canais Cartoon Network e Nickelodeon fogem de estigmas ao apresentar questões sobre identidade
Algumas animações de sucesso hoje assistidas pelo público infantil, como “Hora da Aventura”, “Steven Universo” e “Avatar: A lenda de Korra” têm algo em comum: levaram para a TV questões de gênero, raça e orientação sexual.
Para dois pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina, os desenhos animados têm um papel importante na representação da diversidade, inserindo personagens que se assemelham a pessoas que poderiam ser alvo de preconceito.
No artigo “Pedagogias queer em ação: personagens de desenhos, questões de gênero e noções de diferença”, Adalberto Inocêncio e Moisés Oliveira analisam como os desenhos abordam a constituição de significados de gênero. Eles concluem que personagens como as Crystal Gems (espécie alienígena de guerreiras intergaláticas), de “Steven Universo”, favorecem a compreensão da identidade de quem não se enquadra no padrão heterossexual e branco.
Sucessos para assistir e debater
“STEVEN UNIVERSO”
A série tem quatro temporadas e 118 episódios. Criada por Rebecca Sugar e exibida no Cartoon Network, acompanha Steven — um garoto fora do padrão de beleza — e as Crystal Gems, guerreiras intergaláticas que defendem a terra de ameaças espaciais.
Steven é meio humano e meio gem. O grupo que o seriado acompanha traz as gems Garnet, Ametista e Pérola, desenvolvendo questões como formações variadas de família (Steven mora apenas com o seu pai) e reconhecimento de gênero, tema que aborda abertamente. As gems são oficialmente queer, ou seja, os padrões heteronormativos ou binários (ou homem, ou mulher) de classificação são irrelevantes no curso de sua vida. A mãe de Steven, uma gem que morreu durante o parto, era bissexual.
“HORA DE AVENTURA”
Foi lançada em 2010 e tem 252 episódios. No fim de 2016, a série foi renovada para a sua nona e última temporada. Na animação, Finn é o último humano vivo após a Mushroom War, uma guerra apocalíptica que serve de metáfora para uma guerra nuclear. Além de tratar da passagem da infância para a adolescência e de isolamento e depressão, a série discute gênero e identidade.
Criadas por Pendleton Ward, animador e roteirista americano, as personagens Princesa Jujuba e Marceline têm um relacionamento lésbico sugerido. Com os rumores sobre essa possibilidade, as cenas de afeto entre ambas passaram a surgir com maior frequência, confirmando as teorias de fãs.
O desenho trata ainda do descobrimento das relações amorosas e, assim como “Steven Universo”, traz personagens sem gênero definido. Alguns episódios do seriado brincam com o espectador e invertem o gênero de todos os personagens. Finn, por exemplo, passa a ser Fiona, e Jake, seu cachorro falante e metamorfo, se transforma em Cake (uma gata, também metamorfa).
“AVATAR: A LENDA DE KORRA”
Em 22 de dezembro de 2014, Bryan Konietzko, um dos criadores de “Avatar: A Lenda de Korra”, confirmou o relacionamento entre a protagonista e outra personagem feminina do mesmo gênero, Asami. Até então, a composição final do último episódio da série animada pela Nickelodeon — que terminou em dezembro de 2014 — havia apenas levantado rumores sobre a possibilidade de um casal lésbico. “Nossa intenção com a última cena era deixar o mais evidente possível que sim, Korra e Asami têm sentimentos românticos uma pela outra”, escreveu Konietzko.
A série, desde o primeiro episódio, já abordava temas como estresse pós-traumático, depressão e identidade. Após o anúncio do relacionamento de Korra e Asami, os produtores passaram a falar com mais entusiasmo sobre o casal e a desenhar rascunhos e peças de divulgação em suas plataformas pessoais com cenas românticas entre as personagens. Essas ilustrações não foram animadas e nem chegaram a ser veiculadas pela Nickelodeon.