Sem licenciatura na disciplina que ensinam
Brasil não tem professor suficiente com a formação adequada
Apenas 48% dos docentes têm a licenciatura na disciplina que ensinam. A situação é melhor no Sul e Sudeste e muito pior no Nordeste
Fonte: Jornal 15 de outubro de 2014
Assista a matéria aqui.
O professor é o profissional que explica o mundo para os alunos e mostra para a criança que é possível realizar o sonho de ser médico, cientista, engenheiro, advogado. Porém, estão faltando professores no país, principalmente os que são especializados.
Português, física, química, matemática... ao todo são 13 as disciplinas previstas nas diretrizes curriculares do ensino médio. Um levantamento feito pelo movimento Todos Pela Educação mostra que no Brasil não há professores com a formação adequada em número suficiente para ensinar todas essas matérias.
Apenas 48% dos professores que dão aula no ensino médio e nos últimos anos do fundamental têm a chamada licenciatura na disciplina que ensinam. A situação é melhor no Sul e Sudeste, com 58% dos professores dando aula nas matérias de suas especialidades, e bem ruim no Nordeste, onde só 34% estão na sua área de formação. Até conseguir trabalho e bom salário na escola particular, Leandro Andrade da Rocha, professor de história e filosofia, teve que se virar para atender as carências das escolas públicas onde trabalhava. “Já tive que dar como apoio aula de educação física, aula de artes”, relata.
Dificuldade em se dedicar a apenas uma escola, ter tempo para continuar estudando e os salários baixos estão entre os principais motivos do desinteresse pela profissão de professor. A situação precisa mudar com urgência. “Maiores salários e melhores condições de trabalho. A situação é dramática nos anos finais de ensino fundamental. No ensino médio, a situação melhora um pouco, mas a gente também tem um percentual grande de escolas sem laboratório de ciências, por exemplo. Então, é importante a gente dar ao professor condição dele trabalhar”, afirma Alejandra Meraz Velasco, coordenadora geral do Todos Pela Educação.
Enquanto a verdadeira revolução na educação que todos esperam não vem, alunos agradecem a sorte de encontrar bons mestre em meio a tantas dificuldades. “Sem eles, a gente não ia saber nada. Eles são muito especiais pra gente”, comemora um estudante.
Para os professores não tem presente melhor. “Quando eu vejo um aluno meu que se tornou um profissional de excelência, mas acima de tudo, se tornou um ser humano de excelência, essa é minha satisfação, meus olhos brilham. Por isso que falo que eu acredito na educação”, diz o professor Leandro.
Três em cada quatro professores do Brasil têm curso superior
Pedagogia é a terceira maior curso em número de matriculados no Ensino Superior
Fonte: R7 11 de outubro de 2014
No Brasil, 75% do total dos professores de educação básica (creche ao ensino médio) têm formação superior, segundo dados constam no Censo Universitário de 2013 divulgado este ano pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
Quanto à formação dos docentes, outra informação se destaca. A graduação em pedagogia é a terceira maior em número de matriculados no ensino superior brasileiro: seus 614 mil estudantes representam 8,4% dos matriculados nessa fase dos estudos (total de 7,3 milhões de universitários).
No topo da lista dos cursos mais procurados está administração (800 mil matriculados), seguido por direito (769 mil).
Os dados do censo também mostram que 80% são mulheres e 29% têm entre 41 e 50 anos. Os brancos representam 43% da categoria, sendo 28% negros e 1% indígenas e amarelos — 28% não declararam a cor.
Contraponto
Apesar do panorama positivo, dados da ONG Todos pela Educação revelam que os profissionais da área da educação com nível superior têm remuneração 52% menor do que outros com a mesma escolaridade.
Já um levantamento do Portal Observatório da Educação mostra que 67,5% dos professores dos anos finais do ensino fundamental não têm formação específica na área em que lecionam. No ensino médio, o percentual chega a 51,7%.
Carreira e valorização
Para Márcia Aparecida Jacomini, professora do departamento de educação da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a baixa remuneração e as condições de trabalho dos professores explicam parte do cenário.
— O problema é que muitos professores formados em licenciaturas específicas não vão atuar na docência. Um dos principais motivos para isso é a baixa remuneração da área, combinada com uma carreira que muitas vezes não apresenta condições de trabalho atrativas.
A professora destaca que a devido ao fato de muitos estados e municípios estabelecerem contratos de menos de 40 horas de trabalho semanais — com salários equivalentes—, muitos professores são obrigados a ter jornadas extensas de trabalhos “ para conseguir um salários razoável”.
No início de carreira, profissionais da área da educação recebem em média R$ 1.868 no Brasil. Formados em administração, por exemplo, recebem cerca de R$ 2.852 e direito R$ 2.686, segundo sondagem de mercado realizada pela Catho.
Prevendo mudanças quanto ao tema, o novo PNE (Plano Nacional da Educação) prevê a valorização do magistério público por meio da aproximação do rendimento médio dos professores com mais de 11 anos de escolaridade ao rendimento dos demais profissionais com escolaridade equivalente.
Confira aqui mapa do piso salarial dos professores com licenciatura plena no Brasil.
Pagamento dos professores com licenciatura plena no Brasil
Piso nacional 2014: R$ 1.697,00 para máximo de 40h semanais*
Cinco estados pagam menos de três salários mínimos para professor; sete não remuneram hora extra-classe
No mês do professor, especialistas falam sobre a valorização da carreira no País
Ao menos cinco estados não pagam aos professores com nível médio os R$ 1.697 previstos na lei nacional do piso docente, que foi criada para garantir um valor mínimo a ser pago para os professores. Esse é o caso de Alagoas, Bahia, Goiás, Espírito Santo e Paraná.
O RS também não paga o PISO, paga um completivo para quem não recebe o valor como remuneração, não como o básico dos Planos de Carreira
Veja a tabela de vencimentos
Novembro14 - Magistério - estimativa
Maio 2014 – Magistério – Estimativa
As informações foram levantadas pela CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), que pesquisou vencimentos (salário sem gratificações) dos docentes em todos os estados e no Distrito Federal em maio deste ano.
A maioria desses estados remunera corretamente apenas os profissionais com ensino superior, que representam 75% dos professores do País.
Três em cada quatro professores do Brasil têm curso superior
Segundo o secretário de assuntos educacionais da CNTE, Heleno Araújo, muitos estados achataram a carreira dos profissionais que têm formação superior para garantir o pagamento do piso da categoria.
— Há estados onde, antes da existência da lei, a diferença de salários dos professores com médio e dos professores com ensino superior era 34%. Mas, para aplicar a lei do piso, alguns governos fizeram essa diferença cair para menos de 1%. Isso significa que passamos alguns anos com uma diferença de apenas R$ 10 entre profissionais com nível médio e profissionais com superior.
Para Márcia Jacomini, professora do departamento de educação da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o não cumprimento parcial o total da lei do piso reforça a ideia de desvalorização da carreira docente.
O representante da CNTE também reforça que este cenário desestimula a formação continuada.
— O professor acaba pensando para quê vou estudar mais se vou continuar a ganhar pouco. Isso desestimula os profissionais de hoje e do futuro, como os estudantes que não estão querendo fazer licenciatura.
Hora atividade
O levantamento feito pela CNTE mostra, ainda, que oito redes estaduais de educação não garantem o horário previsto em lei para que docente realizem seus trabalhos fora de sala, o chamado HTPC (Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo). São eles: Maranhã, Bahia, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Sancionada em 2008, a lei do piso docente estabelece que o pagamento dos profissionais seja feito considerando uma jornada de trabalho com o limite máximo de 2/3 da carga horária para o desempenho das aulas, e 1/3 (33%) para o trabalho extra-classe.
Nesse tempo, os professores devem realizar atividades como correção de provas e trabalhos e confecção do planejamento.
Márcia explica que o fato de que muitos professores não trabalham no regime de 40 horas de semanais atrapalha a definição do piso nacional e as condições de trabalho.
— Muitas vezes, estados e municípios não cumprem a lei quanto à hora atividade, porque o horário de trabalho semanal do professor na rede é de 20 ou 25 horas. Daí eles alegam que, nesses casos, estar menos tempo na sala de aula vai fazer muita diferença e acabam garantindo hora extra-atividade apenas para quem trabalha 40 horas semanais.
Valorização profissional
As dificuldades com relação à carreira e às condições de trabalho fazem com que docentes e a sociedade tenham uma imagem pessimista da carreira.
Divulgado no início deste ano, o Índice Global de Status de Professores coloca o Brasil no segundo pior lugar de um ranking de 21 países que mede como a população enxerga a profissão de professor.
Os brasileiros responderam negativamente a perguntas como “Você encorajaria seu filho para se tornar professor?”, “Você acredita que a remuneração dos professores é justa?” e “Quanto você acredita que os alunos respeitam o professor?”.
Menos de 20% das pessoas possivelmente ou seguramente encorajariam os seus filhos a se tornarem professores. Em contrapartida, mais de 45% dos pesquisados possivelmente ou seguramente não encorajariam seus filhos a se tornarem professores.
Quando questionados se os alunos respeitam os pedagogos, aproximadamente 65% dos brasileiros disseram que não. Além disso, a grande maioria (88%) acredita que os docentes deveriam ser remunerados de acordo com o desempenho dos seus alunos.
O estudo foi criado pelo professor de economia da Universidade de Sussex, Peter Dolton, e pelo professor associado do Departamento de Estatística e Econometria da Universidade de Málaga, Oscar Marcenaro-Gutierrez.
https://profemarli.comunidades.net/index.php?pagina=1606247922