Movimento estudantil não acordou
O movimento estudantil não acordou em junho, dizem pesquisadores

Para o mestre em história pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Célio Ricardo Tasinafo, não houve um despertar de consciência crítica porque as reivindicações ficaram lá no período das maiores manifestações e não tiveram continuidade ou outros desdobramentos concretos.
"Não estou desmerecendo a revogação do aumento da passagem [uma das pautas levantadas pelos manifestantes], mas depois de junho tivemos casos muito mais graves na política e não vimos grandes mobilizações", exemplifica Tasinafo se referindo ao julgamento do mensalão e à prisão do parlamentar Natan Donadon.
"O gigante acordou, mas as propostas depois de junho se tornaram tão amplas que acabaram se perdendo. Melhoria geral no ensino, ser contra corrupção, exigir hospitais no padrão Fifa são demandas vagas", acrescenta Tasinafo. "A gente precisa ter projetos concretos de financiamento do ensino superior além do Fies, projetos que abordem a qualidade do ensino superior, que reforce que só o aumento de vagas e a garantia de bolsas não são suficientes."
Para o o professor Renato Cancian, doutor em ciências sociais pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), as manifestações que tomaram o país entre junho e agosto não podem sequer ser consideradas "estudantis". "Embora os protestos de junho tenham sido protagonizados por jovens, essa categoria social saiu às ruas em sua condição de cidadãos, conscientes de seus direitos de cidadania", argumenta.
Representações estudantis

"O movimento estudantil é um movimento social protagonizado por jovens, na condição de estudantes, que se organizam a partir das organizações estudantis representativas, como DCEs (Diretórios Centrais Estudantis), UEEs (União Estadual dos Estudantes), UNE (União Nacional dos Estudantes), entre outros", define o professor Renato Cancian.
No Brasil, a UNE (União Nacional dos Estudantes), UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e ANEL (Assembleia Nacional de Estudantes – Livre) são três das entidades mais conhecidas.
Um dos períodos mais simbólicos para os movimentos estudantis foi o de combate ao regime militar, segundo o historiador Tasinafo.
"O ano de 1968 foi bem representativo. No período, a UNE ganhou bastante destaque, mesmo enquanto agia na clandestinidade. Foi a mobilização popular mais simbólica e persistente que contou com grande ajuda dos estudantes. O problema foi que após o período a UNE foi perdendo força. Pra muitos, a UNE é lembrada hoje apenas como 'aquela' da carteirinha dos estudantes", lembra.
UNE, UBES e ANEL
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A UNE (União Nacional dos Estudantes) surgiu no dia 11 de agosto de 1937 na Casa do Estudante do Brasil, no Rio de Janeiro, e passou a reunir e representar entidades ligadas a movimentos estudantis brasileiros. Atualmente, ela defende a ampliação para 10% do PIB (Produto Interno Bruto) em educação.
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A UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) foi oficializada em julho de 1948, no 1° Congresso Nacional dos Estudantes Secundários, realizado no Rio de Janeiro. Uma de suas principais bandeiras é a reforma do ensino médio brasileiro.
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A ANEL (Assembleia Nacional de Estudantes – Livre) foi fundada em 2009 em oposição a UNE, durante um Congresso Nacional de Estudantes, realizado no Rio de Janeiro. A entidade se diz independente política, ou seja, não aceita apoio de governos; e independente financeira, onde não aceita verbas de governos e nem de empresários.
Distanciamento de entidades estudantis
Na opinião do pesquisador Marcos Ribeiro Mesquita, o comportamento na participação em movimentos da juventude tem mudado com os anos.
De acordo com seu artigo "Movimento estudantil brasileiro: Práticas militantes na ótica dos Novos Movimentos Sociais", a mudança aconteceu porque a classe de estudantes se tornou mais plural e não se limitou às organizações estudantis. Além disso, a constituição de novos coletivos trouxe novidades em termos de organização, estimulando uma participação mais "democrática, autônoma e horizontalizada".
Célio Tasinafo acrescenta que no caso da UNE o afastamento de boa parte dos estudantes se deu pela aproximação da entidade com partidos políticos após a redemocratização do Brasil.
"Muitas das chapas que disputam sua presidência são compostas por integrantes de partidos. Outra coisa é que os jovens acabam reconhecendo ex-participantes da UNE que se tornaram políticos envolvidos com propinas e corrupção."
Grau de participação dos jovens e o que eles valorizam no Brasil
- 45%A participação em mobilizações de rua e outras ações diretas foram mencionadas como as melhores formas de atuação que podem melhorar o Brasil
- 44%Mencionaram que a atuação em associações ou coletivos que se organizam em prol de uma causa pode contribuir com o país
Um levantamento, sobre o perfil e opinião dos jovens brasileiros neste ano, finalizado um mês antes da onda de protestos ter início, já dava indícios do interesse da categoria em manifestações de ruas.
De acordo com a soma das opções mencionadas pelos entrevistados, com idade entre 15 e 29 anos, a participação em mobilizações de rua e outras ações diretas são as melhores formas de atuação que podem melhorar o Brasil (45%).
O estudo indica também que 44% dos participantes mencionaram que a atuação em associações ou coletivos que se organizam em prol de uma causa pode contribuir com o país.
Em relação às coisas que os jovens mais valorizam no Brasil, a 'possibilidade de estudo' foi a mais citada, com 63% da soma das menções. A 'liberdade de expressão' (55%) e 'estabilidade econômica' (46%) apareceram na segunda e terceira colocação, respectivamente.
Como desafios que o país precisa enfrentar, os jovens participantes citaram a melhorias na saúde da população (99%), na educação (98%) e redução do desemprego (95%).
Estudantes lutaram por democracia e educação

REBELDES COM CAUSA: IDEOLOGIAS E MOVIMENTOS REVOLUCIONÁRIOS QUE MARCARAM A HISTÓRIA

A pintura futurista de Carlo Carrà registra a tensão e as cenas de confronto do funeral do anarquista Galli, morto pela polícia italiana. Concebida como uma ideologia libertadora e individualista, o anarquismo tem inspirado movimentos sociais desde o século 19 e suas premissas ecoam até os nossos dias. No Brasil, a criação da Colônia Cecília em 1890 foi uma das primeiras experiências.
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A imagem é de Vladimir Lênin discursando para os operários da fábrica Putilov, na Rússia. Nesse quadro, o pintor soviético Isaak Brodski consegue captar um dos traços marcantes da personalidade do líder bolchevista, a capacidade de se comunicar claramente e tocar o coração das massas. O porquê da vitória do bolchevismo na revolução russa você descobre aqui.
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A queda do Muro de Berlim em 1989 marcou época. Consideradas como a simbologia do fim do comunismo, as cenas da destruição do muro apontavam o surgimento de uma nova realidade histórica. Mesmo que a ideologia comunista remonte à Antiguidade clássica na concepção de um modelo de sociedade nunca alcançado, não se pode dizer que atualmente ela já seja uma filosofia descartada.
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O movimento que desencadeou a queda do presidente João Goulart em 1964 e iniciou o regime militar no Brasil foi um golpe de estado ou uma revolução? Apesar de o senso comum aceitar o uso do termo revolução, a resposta a essa questão hoje parece não levantar mais questionamento. Na foto, o deputado Ulysses Guimarães celebra a Constituição de 1988 e a retomada da democracia. Leia mais José Cruz/ABr
Grève era o nome dessa praça em Paris onde, no final do século 18, os trabalhadores costumavam se reunir em busca de trabalho. Desse costume nasceu a generalização da palavra que agora serve para identificar um fenômeno social tão comum nos dias atuais. Saiba mais sobre os diferentes conceitos dos movimentos grevistas.
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Ao dar importância às massas camponesas pobres que eram maioria na China, o revolucionário Mao Tsé-Tung estava mudando o destino de seu país e rompendo com o passado tradicionalista. A foto é de uma escultura colocada diante do mausoléu do líder chinês, monumento que acabou se transformando num local de grande visitação pública. Saiba por que o termo maoísmo não era bem-visto na China.
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O termo revolução ganhou significado político somente a partir do século 17, quando movimentos sociais questionam a ordem estabelecida. No século 18, com as revoluções americana e francesa, o vocábulo passou a representar a luta por novas formas de governo. Há quem defenda que só se pode falar de revolução quando se faz o uso da violência para legitimar a mudança. No quadro, a execução de Maria Antonieta em 1793 parece confirmar a tese.
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