Memorização e aprendizagem

Memorização e aprendizagem

Memorização e aprendizagem: potencializando resultados 



Algumas lembranças nunca se apagam da memória. O cheiro do bolo assando no forno da casa da avó, o dia do nascimento do primeiro filho, o número do telefone de alguém importante. Mas a fixação de conteúdos nem sempre ocorre com a mesma facilidade – o estudante que estuda às vésperas da prova, apenas preocupado com a nota, provavelmente vai esquecer tudo aquilo que leu algumas horas depois do exame.

A diferença entre os dois exemplos está na forma como as informações são processadas pela memória. Compreender a forma como as memórias são formadas pode fazer uma grande diferença na construção de um aprendizado sólido e permanente.

“Do ponto de vista genérico é o aprendizado que leva à memória. Se aprende coisas e depois se guarda. Agora, enquanto se aprende também se usa a memória do que foi aprendido previamente – seja na aula passada ou na frase anterior – para poder entender o que está sendo transmitido”, resume o professor Ivan Izquierdo. Médico e neurologista, ele coordena o Centro de Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Argentino naturalizado brasileiro, ele foi um dos pioneiros no estudo da neurobiologia da memória e do aprendizado.

Existem dois tipos principais de memória – a de curto e a de longo prazo. A primeira é a que se utiliza para registrar informações de uso prático e imediato, que são rapidamente descartadas. É a memória de longo prazo a responsável por guardar conhecimentos que serão utilizados ao longo da vida – e é lá que estarão armazenados os conteúdos que forem transmitidos de maneira eficiente pelo professor.

“É muito importante que isso esteja chegando ao entendimento geral. O papel da neurociência no aprendizado escolar só está chegando agora no Brasil, mas com muita força, muita pressão”, aponta o professor Izquierdo.

As informações que são recebidas pelo aluno se transformam em estímulos para o cérebro e circulam pelo córtex antes de serem armazenadas ou descartadas. Se encontrar um outro conteúdo que foi apreendido anteriormente e tem relação com o que foi recém-apresentado, será mais facilmente armazenada.

O importante é que o professor encontre um “gancho” para pendurar esse novo conhecimento e fixá-lo aos já arquivados. Por isso a importância da aprendizagem significativa: se aquele conteúdo não fizer sentido prático, se o aluno não conseguir conectá-lo com aquilo que já sabe ou que faz parte de sua vida, dificilmente será arquivado de forma sólida na memória de longo prazo.

Emoção

Alguns fatores podem facilitar o processo de memorização. Um deles é a capacidade de conectar o novo conhecimento que está sendo apresentado a outros aprendizados já consolidados. Outra “arma” muito importante para a formação das memórias é a emoção. Eventos e experiências com forte carga emotiva dificilmente são esquecidos. O mesmo pode ser aplicado na transmissão dos conteúdos escolares.

Se o momento do aprendizado for associado a algum tipo de emoção, as chances de que aquelas informações sigam direto para a memória de longo prazo são muito maiores. “As memórias vão se formar dependendo da capacidade do professor de criar situações que sejam favoráveis a isso”, aponta Elvira Souza Lima, pesquisadora em Desenvolvimento Humano.

Trazer a emoção para a sala de aula pode ser uma estratégia eficaz para a apreensão e memorização dos conteúdos. O aluno vai associar aquela informação ao sentimento envolvido no momento em que ela estava sendo apresentada. “Se a aula é agradável, se o professor é uma pessoa que estimula os sentimentos, isso terá um efeito positivo. Mas se ele é chato e grita, essa é uma emoção que não vai acompanhar aquele conhecimento, mas vai castigar a memória”, compara Izquierdo.

Com formação em Neurociência, Psicologia e Antropologia, Elvira destaca que a memória não se forma de uma hora para outra, existe um “tempo biológico” para que isso ocorra. “O aluno não vai memorizar vendo o conteúdo uma só vez. É preciso haver atividades intermediárias, como o estudo. O planejamento pedagógico, a organização do currículo, a intervenção que o professor faz, tudo isso deve levar em conta esses critérios de formação da memória”, diz Elvira.

Além da emoção, ela destaca outro “gatilho” importante para ajudar o armazenamento das informações no cérebro: a imaginação. “Para formar novas redes e ampliar o nosso arquivo, tem que haver uma participação da imaginação. O que mobiliza a atenção do jovem e da criança é a imaginação, e a memória está muito colada com essa capacidade”, aponta Elvira.

Atividades que estimulem o uso da imaginação não podem ficar de fora do currículo. “Para que a criança crie um acervo de memória, uma questão fundamental, principalmente na educação infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental, é estimular as atividades lúdicas que desenvolvam a imaginação. Lá na frente isso pode ser fundamental, por exemplo, para compreender a complexidade de uma reação química”, compara.

Decorar x Memorizar

Por muito tempo, a memorização foi confundida com a “decoreba” e virou tabu nas escolas. Um erro, na avaliação dos pesquisadores sobre o tema. Elvira destaca que no caso de alguns conteúdos, como a tabuada, é impossível fugir das técnicas de repetição para que as informações sejam fixadas; poesias e letras de música seguem o mesmo princípio. “Ninguém consegue manter tudo na cabeça. Decorar é, no sentido positivo, [válido para] quando não é necessário pensar no porquê você aprendeu”, diz.

O professor Izquierdo completa: “decorar vem da expressão ‘de coração’. Isso porque toda experiência envolve algum tipo de emoção. O indivíduo, quando sentia que estava aprendendo, dizia que o coração batia mais rápido. O ato de decorar é uma das tantas formas da memorização e para algumas coisas é absolutamente insubstituível”, afirma.

O recurso, entretanto, não pode ser o único no processo de consolidação das informações. No caso da tabuada, por exemplo, além de decorar os resultados, o estudante precisa também entender o princípio multiplicativo. “A repetição é uma das técnicas mais úteis para aprender. Mas como única metodologia, ela é ruim”, diz o professor.

 

Matéria publicada na edição de dezembro de 2012 da revista Gestão Educacional.

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