As lições de Rosa Luxemburgo

As lições de Rosa Luxemburgo

As lições de Rosa Luxemburgo

(por Marino Boeira)

 

Revendo na televisão o magnífico filme que Margarethe von Trotta fez sobre Rosa Luxemburgo, em 1986, com Barbara Sukova numa fantástica interpretação, é que podemos nos dar conta de como o pensamento dessa alemã-polonesa, é ainda muito importante nos dias de hoje.

Nascida em Zamosc, na Polônia, em 1871, doutora em Filosofia e Economia, Rosa Luxemburgo foi ativista política e lutou em favor das revoluções socialistas do início do século passado, na Polônia, na Rússia e na Alemanha

Numa época em que as mulheres pouca participavam das disputas políticas, ela se destacou pela oratória (era chamada de Rosa Sangrenta) e pelos debates que travou com os grandes nomes da social democracia da época, como Leo Joguiches, Berstein, Ebert, Kautsky e Liebknecht.

Denunciando fortemente os objetivos econômicos que estavam por trás da Primeira Grande Guerra Mundial, viu seus companheiros da social democracia traírem o compromisso com a paz e votar com seus governos conservadores em favor da guerra.

Quando a guerra terminou, com o assombroso número de mais de 9 milhões de soldados mortos, ganhou força a ideia de que a responsabilidade pelo conflito era em boa parte devida aos interesses mercantilistas dos países europeus, principalmente após a vitória dos comunistas na Rússia em 1917.

Na Alemanha, onde a monarquia foi substituída por uma frágil república sediada em Weimar, revolucionários de esquerda e ativistas direitistas, estes quase todos ex-soldados do exército, desmobilizados depois da guerra, e, reunidos em milícias denominadas de “freikorps”, se empenhavam em conflitos quase diários.

Junto com Karl Liebknecht, Rosa Luxemburgo fundou a Liga Espartaquista, que mais tarde daria origem ao Partido Comunista Alemão, para disputar a liderança entre os trabalhadores com Social Democracia, que originalmente de formação marxista, se inclinava agora para posições de centro.

Diante da grande crise social e econômica em que mergulhava a Europa após a guerra, Rosa Luxemburgo proclamou que só havia dois caminhos pela frente: o socialismo ou a barbárie, mas sempre defendeu que a conquista do socialismo seria um longo processo em que o respeito aos verdadeiros interesses do povo era fundamental.

Quando, usando como exemplo o sucesso da ação revolucionária de Lênin em São Petersburgo em 1917, Liebknetch tentou tomar pela força o poder em Berlim, ela criticou seu companheiro, com um discurso que ainda hoje é válido para alguns grupos voluntaristas que pretendem chegar ao poder sem antes conquistar o apoio do povo.

“A abolição da dominação do capital, a realização de uma ordem social socialista – isso, e nada menos, é o tema histórico da revolução atual. É uma tarefa descomunal, e uma que não será cumprida no piscar de um olho apenas pela emissão de alguns decretos vindos de cima. Somente pela ação consciente das massas trabalhadoras na cidade e no país que pode ser trazida à vida, somente através da mais alta maturidade intelectual das pessoas e do idealismo inesgotável ela pode ser trazida com segurança através de todas as tempestades e encontrar o seu caminho ao porto”.

Os conflitos de rua em Berlim terminaram com a vitória das milícias “frekorps” e Rosa Luxemburgo e Liebknetch foram presos e imediatamente assassinados por integrantes desses grupos armados, que mais tarde iriam aderir ao nazismo.

Porém, o sonho de um novo mundo possível de Rosa Luxemburgo permanece válido até hoje.

Um mundo onde sejamos

Socialmente iguais,

Humanamente diferentes e

Totalmente livres.

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Marino Boeira é professor universitário.

 

http://www.sul21.com.br/jornal/as-licoes-de-rosa-luxemburgo-por-marino-boeira/




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