Vandalismo na escola

Vandalismo na escola

"Não temos nem água para lavar as mãos", diz diretora de escola depredada na Capital

Vice-diretora notou, na manhã desta segunda-feira, sinais de vandalismo na escola

Por: Schirlei Alves         18/07/2016

Vice-diretora comparou cenas encontradas na escola a resultado de guerra     Foto: Omar Freitas / Agencia RBS

A equipe pedagógica da Escola Estadual Erico Verissimo, no Bairro Jardim Carvalho, na Zona Leste de Porto Alegre, acreditava estar vivendo uma nova era após enfrentar o terror que pairava à porta da escola. Pelo menos quatro tiroteios entre o fim do ano passado e abril deste ano puseram alunos no chão como garantia de que não seriam atingidos por bala perdida ou fecharam os portões da unidade. Era possível ouvir a violência de perto, muito perto.

Quando a calmaria chegou e o medo foi embora, os professores passaram a trabalhar o tema em sala de aula. Violência contra a mulher, bullying e o direito das criança e do adolescente foram alguns dos assuntos incluídos no cotidiano. Na última sexta-feira, as portas foram abertas à comunidade e à Brigada Militar para apresentar o projeto Aluno Cidadão. "Diga não à violência" e "Mais amor, por favor" eram alguns dos títulos dos trabalhos que emolduravam as paredes da escola. Os profissionais saíram de lá com a sensação de que a luz finalmente voltava a brilhar.

Pó químico dos extintores de incêndio foi espalhado em mais de trinta salas   Foto: Omar Freitas / Agencia RBS

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Mas, o sonho transformou-se em pesadelo três dias depois. A vice-diretora foi a primeira a entrar na escola na manhã desta segunda-feira. Notou que a grade da sala da diretora estava arrombada. Ao se aproximar, percebeu que havia sinais de vandalismo e um pó amarelado marcando o corredor. As pernas amoleceram. Avisou a diretora e chamou a polícia. 

A violência, que até então era perceptível apenas aos ouvidos, alcançou os olhos. Ela tomou conta do lugar que há três meses foi considerado pela BM o mais seguro da comunidade em meio à hostilidade provocada pelo tráfico de drogas. As cenas que a vice-diretora encontrou a partir dali foram comparadas por ela mesma ao resultado de uma guerra.

Vandalismo foi percebido na manhã desta segunda-feira  Foto: Omar Freitas / Agencia RBS

— O que esperar de uma coisa dessas? Estamos aqui há 13 anos construindo esse patrimônio. Cada computador, cada coisinha aqui fomos nós que conseguimos adquirir economizando nos repasses de verba. Era uma escola totalmente equipada. Agora, só me resta chorar — lamentou a vice-diretora diante do cenário de horror.

Três dias de destruição

Vizinhos ouviram barulhos dentro da escola na sexta-feira e no sábado à noite. A BM fez rondas, mas não percebeu nenhuma movimentação. Outro morador viu uma nuvem branca no telhado na tarde de domingo, mas pensou que fosse o vapor de um lava-jato.

Nem alimentos foram poupados em vandalismo na escola Erico Verissimo, na Zona Leste da Capital   Foto: Omar Freitas / Agencia RBS

Na verdade eram vândalos trabalhando na destruição da escola. Não sobrou um caderno, uma caneta ou um alimento intactos. Não havia uma única cadeira limpa. O pó-químico dos extintores de incêndio foi espalhado em mais de 30 salas de aula. Computadores, instrumentos musicais, livros, cadernos e trabalhos escolares foram minuciosamente destruídos. A bandeira de Porto Alegre foi hasteada na parede mais alta da escola rabiscada com um símbolo já desenhado anteriormente por alunos nas mesas de aula. "É tudo nosso" diz o recado deixado na lousa da diretora.

— Não temos nem água para lavar as mãos. Destruíram tudo, furaram os monitores. Provavelmente não tenho mais o registro dos alunos — disse a diretora em meio a um suspiro desolador.

Território conflagrado
 A Escola Estadual de Ensino Fundamental Erico Verissimo ocupa uma quadra inteira da Rua Comendador Eduardo Secco, quase no topo do morro. O prédio está inserido na Vila Ipê 1, dentro do bairro Jardim Carvalho, próximo aos bairros Bom Jesus – reduto da facção Bala na Cara – e Vila Jardim – base do grupo que se denomina Antibala. Desde dezembro do ano passado, os dois bandos protagonizam conflito sangrento. O duelo que se espalha por diferentes pontos de Porto Alegre, também se reproduz na região da escola. 

Moradores e estudantes da Vila Colina, também dentro do bairro Jardim Carvalho, estão impedidos de passar a "fronteira" até a Erico Verissimo que, na lógica do crime, está dentro de território controlado pelos Antibala. A Colina, por outro lado, é dominada pelos Bala na Cara. 

Os símbolos deixados pelos vândalos indicam que o ataque é mais um "recado" de escracho de criminosos da Vila Colina no território inimigo. Neste ano, já somam 41 as mortes ligadas ao tráfico de drogas nas três áreas:

Vila Jardim: 21
Jardim Carvalho: 13
Bom Jesus: 7


http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/policia/noticia/2016/07/nao-temos-nem-agua-para-lavar-as-maos-diz-diretora-de-escola-depredada-na-capital-6708832.html 

 

Estado promete recuperar em um mês escola destruída por vandalismo na Capital

Após visitar a Escola Estadual Erico Verissimo, que teve 30 salas destruídas por vândalos no fim de semana, secretário de Educação pretende reerguer a unidade até agosto, quando os alunos retornam das férias

Por: Schirlei Alves 19/07/2016

Estado promete recuperar em um mês escola destruída por vandalismo na Capital Carlos Macedo/Agencia RBS
Secretário estadual da Educação, Luís Alcoba de Freitas, quer viabilizar a recuperação da escola até agosto  Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS

Com os ânimos mais calmos, o dia seguinte à descoberta da destruição da Escola Estadual Erico Veríssimo, no Bairro Jardim Carvalho, teve clima de recomeço. A diretora, Silvia Faturi, e as funcionárias da coordenação receberam a visita do secretário estadual de Educação, Luís Alcoba de Freitas, do comandante do 20º BPM, tenente-coronel Egon Kvietinski, e de uma empresa especializada em limpeza de produto químico para avaliar os estragos e fazer o levantamento do prejuízo.

O secretário promete correr contra o tempo para viabilizar a recuperação da escola até agosto, quando as aulas devem ser retomadas pelo calendário oficial.

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O limite de verba disponível para contrato emergencial é de R$ 150 mil. Empresas poderão concorrer ao processo por meio de carta convite, que é mais acelerado do que uma licitação convencional (procedimento administrativo público de contratação de serviço ou compra de produto). A secretaria terá de adquirir equipamentos de informática, material escolar, mantimentos e providenciar algumas reformas. 

— Ninguém imagina que uma escola que beneficia a comunidade será objeto de um ato dessa natureza. Temos que tentar reconstruí-la rapidamente até o início das aulas — disse o secretário.

Escola Estadual Erico Verissimo foi destruída no fim de semana Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS

A Brigada Militar deve intensificar o ritmo de monitoramento, mas seguindo o mesmo modelo de rondas que já vinha adotando até então.

A escola foi atacada durante o fim de semana. Os vândalos destruíram 30 das 40 salas de aula. Equipamentos de informática, materiais escolares e instrumentos musicais foram destruídos. Também ficou sem água e com problemas de energia elétrica. Mensagens em tom de ameaça foram gravadas em algumas salas. Um notebook, uma câmera fotográfica profissional, dinheiro e um HD externo foram furtados.

Símbolo faz referência à banda

Os vândalos rabiscaram um símbolo em todas as salas depredadas. Os professores perceberam que se tratava de uma mesma imagem já gravada pelos alunos nas mesas de aula, só não sabiam o significado. A suspeita de que a marca poderia ter alguma conexão com facção criminosa foi descartada pela polícia nesta terça-feira.

Segundo o delegado responsável pela investigação, Fernando Soares, o símbolo faz referência a uma banda de rap nacional que é popular entre os adolescentes. A polícia já tem suspeitos e acredita que há alunos envolvidos.

Brigada Militar deve intensificar o ritmo de monitoramento      Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS

A motivação ainda não está clara, mas há suspeita de represália pelo fato de a escola ter firmado parceria com a BM em projetos sociais e por promover debates sobre violência, ou por alguns alunos terem sido repreendidos de forma mais rígida. Professores chegaram a ser ameaçados em mensagens nas salas do 9º ano.

Violência atinge outras escolas

Além da Erico Verissimo, que antecipou as férias de julho por causa da destruição, outras seis escolas modificaram a rotina com medo da violência.  Cinco delas ficam localizadas em bairros da Zona Sul, onde há registro de guerra por causa do tráfico. As escolas Clotilde Cachapuz de Medeiros, Matias de Albuquerque e Anísio Teixeira, no Bairro Espírito Santo, reduziram o horário de funcionamento na semana passada, mas já retomaram as atividades. As escolas Custódio de Mello e Professores Langendonck, na Vila dos Sargentos, Bairro Serraria, anteciparam uma semana de férias. As aulas nas duas unidades também devem iniciar uma semana antes da data prevista.

Segundo delegado, símbolo faz referência a banda de rap nacional popular entre adolescentes   Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS

A Escola Estadual Mariz e Barros, no Bairro Mário Quintana, Zona Norte, decidiu reduzir o horário na terça e na quarta-feira desta semana porque duas professoras e um aluno foram assaltados em frente à instituição.

Em resposta à insegurança vivida pelas comunidades escolares, o secretário Luís Alcoba disse que está tentando viabilizar com a secretaria da Segurança Pública do Estado a integração das câmeras de vigilância das escolas com o centro de monitoramento da polícia para agilizar o atendimento das ocorrências. Não há previsão para implantar a medida. 

 

http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2016/07/estado-promete-recuperar-em-um-mes-escola-destruida-por-vandalismo-na-capital-6730966.html 




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