Unidos da Pureza
Enfim, juntos: Lula, Dilma, Temer e Aécio. Todos contra a Polícia Federal, o Ministério Público, a OAB e a Justiça. Manifesto contra o Estado de Exceção. Vai dar samba e nova escola, a Unidos da Pureza. Nada aconteceu. É tudo culpa da vontade de aparecer de procuradores ideologizados. Aquelas malas de dinheiro do primo Fred eram só um empréstimo privado do Joesley Batista ao senador Aécio. A delação do dono da JBS envolvendo a família Neves foi só um truque para obter vantagens e obter o perdão judicial. Não parece tudo claro?
Os advogados criminalistas estão indignados. Antes, eles ganhavam todas. Era habeas-corpus até de madrugada. Cliente vip não passava perto de cadeia. Alguns ainda não passam. Especialmente os de plumagem vistosa. Chega a dar pena. Todos perseguidos, injustiçados, acusados por bandidos da pior espécie, enlameados por oportunistas e alvejados por delações sem a apresentação de provas. Políticos reclamam da desqualificação da política pela mídia. Mas trabalham diariamente para confirmar o que deles se diz de pior. Não agem. Atuam. Não argumentam. Recitam. Não legislam. Representam. Jogam.
Entre os mais destacados atores do momento estão três gaúchos: Carlos Marun, Darcísio Perondi e Alceu Moreira. Falando nisso, onde anda o DEM? Sumiu. Antes tão eloquente no discurso contra a corrupção, o DEM saiu de cena. Marun (PMDB-MS) destacou-se como ator na defesa da inocência de Eduardo Cunha. Merecia um Oscar pelo difícil papel. Perondi e Moreira usaram e abusaram da retórica para descrever a “roubalheira” do governo Dilma. Eram leões. Hoje miam quanto à corrupção e urram leoninamente na defesa da inocência de Temer. Que desempenho! Eu daria Oscar de ator coadjuvante aos três. O prêmio principal iria para o próprio Michel Temer. Fantástico. Chego a pensar que ele crê piamente no que diz. E o jogo de mãos. Elas não param.
Eu me pergunto: as mãos de Temer confirmam ou negam o que ele diz? Fico vidrado naqueles dedos de mágico de circo pobre. Eu não jogaria cartas com Temer. Ele me hipnotizaria e me tomaria a carteira. E a expressão? O que comunica aquele ar vampiresco? Não quero ser injusto na premiação. O Oscar precisa ser dividido entre Temer, Aécio e Lula. São três gigantes. Cada qual com seu estilo. Aécio foi ao apogeu da grande arte ao dizer que sempre confiou na justiça brasileira. Temer quebrou tudo ao declarar que nada o destruirá. Lula perdeu pontos. Não fez declaração tão retumbante. Precisa se redimir com uma daquelas frases inimitáveis: nunca na história deste país houve um presidente tão honesto, transparente e com a vida devassada.
Getúlio Vargas dizia não ter amigos de quem não pudesse se separar nem inimigos de quem não pudesse se aproximar. Salvo Carlos Lacerda. Deve ser esse espírito ampliado que aproxima advogados de Lula, Dilma, Temer e Aécio para uma cruzada contra os abusos do poder judiciário. Todos contra Sérgio Moro. O lema dessa união de lesados poderá ser o concebido pelo criativo Romero Jucá, que vestia verde-amarelo e fazia coraçãozinho contra a corrupção: “estancar a sangria”.