Um novo Ensino Médio

Um novo Ensino Médio

"O atual Ensino Médio não agrada aos estudantes, nem serve ao povo; temos um esquema rígido, que provoca o afastamento dos jovens", afirma Arnaldo Niskier

Fonte: O Globo (RJ) 25 de setembro de 2015


Quando se pensa em reformar a estrutura da Educação brasileira, a questão mais delicada certamente envolve o seu confuso Ensino médio. Os fundamentos da Lei 9394/96, nesse aspecto, estão inteiramente superados. Previu-se na LDB uma Base Nacional Comum para o currículo. Quase 20 anos depois, somente agora o assunto ganhou a prioridade do MEC, com a valorização dos conceitos de interdisciplinaridade e regionalização, especialmente em Português, Geografia, História e Biologia.


Está em curso o Plano Nacional de Educação, com as 20 metas previstas. Mas já se tem a certeza de que muitas delas ficarão pelo caminho, em virtude da absoluta falta de recursos financeiros, dada a crise econômica. Logo após ser nomeado para o MEC, o filósofo Renato Janine Ribeiro foi "homenageado" com o corte de R$ 9,4 bilhões do seu orçamento. Está em palpos de aranha.


Enquanto isso o setor, como se fosse uma torre de babel, assiste estarrecido a uma série de propostas alternativas lançadas pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, como se tivéssemos tempo para esse exercício de redundância criminosa.


O atual Ensino médio não agrada aos estudantes, nem serve ao povo, para repetirmos o que dizia o Educador Lourenço Filho há muitos anos. Temos um esquema rígido, que provoca o afastamento dos jovens de 15 a 18 anos (cerca de metade deles encontra-se fora das Escolas). As matérias do currículo, numerosas e estanques, não conversam entre si, o que levou o especialista Roberto Boclin a defender a tese de que se deveria adotar o Ensino técnico como mecanismo inclusivo. É a melhor maneira de tirar os jovens da rua, do tráfico, e facilitar o seu encontro com as possibilidades do emprego.


O Ensino médio deve oferecer habilidades e competências aos Alunos segundo suas escolhas pessoais - e de acordo com as variações do mercado. É o que faz com sucesso o Sistema S desde a década de 50, com a boa tradição dos seus cursos profissionalizantes. O mesmo pode ser dito em relação aos Cefets. Não se entende por que esses modelos não foram generalizados, como aconteceu com sucesso em países como a Coreia do Sul, o Japão e a Alemanha. Aqui ainda existe uma resistência incompreensível.


Temos 507 mil Docentes no Ensino médio. Sabe-se que 40% desse total poderão se aposentar nos próximos seis anos, agravando o tamanho da crise. Faltam Professores de Matemática, Física, Química e Biologia. Não há mestres formados em Física para ensinar Robótica. A Resolução 2/2015, do Conselho Nacional de Educação, procura corrigir as deficiências das licenciaturas, mas não prevê a formação de Professores para o Ensino técnico, como se ele não existisse (ou não devesse existir). Isso faz sentido?


Faltam investimentos na qualificação de Professores. Faltam também laboratórios e bibliotecas. Diante disso, como oferecer aos nossos educandos a possibilidade de uma Educação de qualidade? Como afirma a Professora Terezinha Saraiva, "o Ensino médio é uma preocupação nacional."

 

Artigo publicado somente em veículo impresso 




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