Transtorno decorrente da violência

Transtorno decorrente da violência

Dez por cento da população mundial possui algum transtorno decorrente da violência

Professor da PUCRS observa salienta que o problema pode se manifestar de diferentes formas

Marcas de confrontos a tiros em imóveis causam transtornos mentais às pessoas que vivem nas proximidades | Foto: Tarsila Pereira / CP Memória

Marcas de confrontos a tiros em imóveis causam transtornos mentais às pessoas que vivem nas proximidades | Foto: Tarsila Pereira / CP Memória

A criminalidade assusta, tira vidas e faz com que muitos se escondam atrás de muros e cercas. Mas para uma parcela de 10% da população mundial, o equivalente a 700 milhões de pessoas, os efeitos da violência levam ao desenvolvimento de um transtorno mental. O alerta é do professor Christian Haag Kristensen, do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse (Nepte), da PUCRS. Ele observa que, de forma geral, as reações das pessoas a uma ação violenta são passageiras e duram poucos dias. O problema é quando perduram por vários meses e acabam causando impacto na rotina diária. “Após um assalto a mão armada, por exemplo, algumas pessoas seguem processando aquela operação, não como no passado, mas no aqui e agora”, analisa o professor. “Seguem lembrando, tendo pesadelos e até quando veem uma pessoa parecida (com aquela que cometeu o crime) o corpo reage. É como se o evento estivesse acontecendo”, comenta. 

Kristensen salienta que o transtorno pode se manifestar de diferentes formas: um estresse pós-traumático, um quadro de depressão ou ainda causar a síndrome do pânico. Há também a possibilidade de o indivíduo consumir álcool, drogas ou medicamentos para tentar resolver o problema por conta própria em vez de procurar ajuda com um psicólogo. No Ambulatório de Trauma e Estresse do Nepte, mais de 70% do público atendido é devido a violência interpessoal (termo que engloba desde assaltos, agressões físicas e violência doméstica até casos de estupro). Ao todo, 210 dos 300 novos pacientes que procuram o espaço todo ano se encaixam nesse perfil.

O professor explica que o tratamento para o transtorno ocorre pela terapia cognitiva-comportamental e dura em média quatro meses, mas pode variar de pessoa para pessoa. Mas como funciona? A partir de três frentes, explica Kristensen. Com o pensamento, para tentar reverter a maneira como a pessoa processa a situação traumática. Outra forma é diminuir a resposta de medo que lembre o fato, na tentativa de os pacientes aprenderem a controlar as emoções. Se no dia do assalto estava chovendo, por exemplo, o tratamento vai tentar trabalhar com a pessoa para que não tenha medo ao sair às ruas nessa condição climática. Ou seja, deixar de fazer essa associação. 

Outro ponto trabalhado é para o paciente modificar comportamentos. Por exemplo, se uma pessoa é assaltada próximo do trabalho, passa a desenvolver um transtorno e começa a evitar aquele espaço. “Ela começa a não querer mais retornar ao local, tende a evitar o espaço.” O professor observa que este comportamento é visível em funcionários de bancos, alguns vítimas de assaltos ou sequestros, e que passam a evitar os espaços da agência de uma forma geral.

 

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