Tiradentes

Tiradentes

Tiradentes e a Inconfidência Mineira

Por: Patrícia Giuffrida
Ilustração: J.S.Rangel

Ilustração: J.S.Rangel

Em 21 de abril, comemora-se o Dia de Tiradentes. A ocasião rende uma boa discussão em sala de aula sobre a Inconfidência Mineira.  

A professora de História Flávia Aidar, formadora de professores e consultora de projetos educativos, sugere uma discussão sobre o papel de mártir da independência atribuído a Tiradentes. É possível, segundo ela, apresentar aos alunos duas versões de textos, em geral, encontradas em livros didáticos. Uma delas aponta Tiradentes como liderança no processo de libertação não só da região de Minas Gerais, mas de toda a colônia. 

A outra versão, contrária à primeira, questiona essa interpretação. "Há documentos que mostram uma visão menos heroica dele", afirma a professora. "Em pleno século 18, a colônia não era pensada como nação. Além disso, a comunicação era difícil, o que nos leva a crer que seria improvável um movimento de independência generalizado por todo o território", completa. Após a leitura, abra um debate sobre o tema com os alunos.

O objetivo é mostrar ao grupo que a História não é um conhecimento estático. Para estudar o passado, é preciso recorrer a diversas fontes, questionar pontos de vista criticá-los e compará-los. 

Nesta página, reunimos outras sugestões de aulas e reportagens sobre o tema, publicadas por NOVA ESCOLA.

Visões do passado 
Análise de telas e gravuras que retratam fatos históricos. Acompanha uma sugestão para que turmas de 6º e 7º ano discutam as diferentes faces com que Tiradentes é mostrado em pinturas de diversas épocas. 

Preservar é preciso
Há mais de vinte anos, as igrejas e os casarões de Ouro Preto, MG, ganhavam o status de Patrimônio da Humanidade. Além de uma boa aula de História sobre a Inconfidência Mineira, aproveite para trabalhar os conceitos de preservação e patrimônio cultural com seus alunos. 

A independência do Brasil e o Território Nacional  
Sequência didática para Ensino Fundamental II, sobre o processo de independência do Brasil.  

Uma arquitetura extraída do ouro 
Plano de aula para o Ensino Médio que tem como objetivo estabelecer relações entre o barroco brasileiro e a situação político-econômica das várias regiões do período colonial. A ideia é mostrar aos alunos como se interligam a mineração colonial, a produção da arte barroca, as cidades do ouro e os inconfidentes. 

O diálogo entre os textos 
Inconfidência Mineira também é tema a ser tratado em Língua Portuguesa. Neste plano de aula, que aborda momentos da história literária, como o Arcadismo, o destaque fica com o poeta e inconfidente Tomás Antônio Gonzaga.

https://novaescola.org.br/conteudo/2450/tiradentes-e-a-inconfidencia-mineira

9 mitos e uma verdade sobre Tiradentes e a Inconfidência Mineira

Será que você consegue adivinhar o que é fato e o que é mito sobre esse importante acontecimento histórico?

Por: Nairim Bernardo

Joaquim José da Silva Xavier, conhecido na história como Tiradentes, foi enforcado e esquartejado no dia 21 de abril de 1792. Em 1965, foi proclamado Patrono Cívico da Nação Brasileira pela Lei 4.867 e é a única pessoa do país homenageada com um feriado na data de sua morte. Do século 18 para cá, muitas histórias se construíram ao redor da figura do mártir e da Inconfidência Mineira, revolta colonial da qual participou.


 

Mas o que é mentira e o que é verdade na história desse personagem histórico? Elencamos dez afirmações recorrentes quando se fala desse momento do Brasil. Apenas uma é real. Veja se você consegue descobrir:

1) Os inconfidentes lutaram pela Independência do Brasil;

2) O grande motivo da Inconfidência Mineira foi a cobrança de impostos sobre o ouro retirado das minas;

3) A Inconfidência Mineira foi o movimento separatista mais importante do Brasil;

4) Conhecemos Joaquim José da Silva Xavier como Tiradentes por que ele tinha o título de dentista;

5) Era líder do movimento;

6) Jogaram sal no chão do terreno de sua casa para que nada mais crescesse;

7) Ele se entregou para salvar os outros inconfidentes;

8) O famoso quadro Tiradentes esquartejado foi pintado por Pedro Américo, que presenciou a morte do mártir;

9) O sumiço da cabeça de Tiradentes não passa de uma lenda;

10) O corpo do mártir está enterrado no município mineiro de Tiradentes.

Pronto? Então vamos às respostas:

1) Os inconfidentes lutaram pela Independência do Brasil

Na verdade, não. Quando a Inconfidência Mineira ocorreu, no século 18, ainda não havia a mesma consciência de Brasil como nação que temos hoje. Logo, eles não buscavam libertar todos os estados brasileiros do domínio da Coroa Portuguesa. O movimento tinha motivações específicas da região das minas, e atingia no máximo os estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

2) O grande motivo da Inconfidência Mineira foi a cobrança de impostos sobre o ouro retirado das minas

“Não se pode dizer que a cobrança de impostos foi o único motivo, isso é reducionismo. Havia um arrocho tributário, sim, e a cobrança de impostos foi usada para exaltar os ânimos da população contra o governo. Mas não foi a causa do movimento”, explica o professor Luiz Carlos Villalta, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ainda segundo ele, o que fez as pessoas se reunirem enquanto grupo e se voltarem contra a coroa foi o fato de terem sido prejudicados política e financeiramente por uma série de motivos. Alguns deles perderam cargos políticos e a possibilidade de praticarem negócios legais e ilegais que poderiam enriquecê-los. “Tiradentes, por exemplo, que era militar, não foi promovido a Comandante do destacamento da Serra da Mantiqueira”. Era por essa serra que o ouro de Minas Gerais chegava até São Paulo. Logo, sendo comandante militar da região, ele poderia contrabandear algum ouro em benefício próprio.

3) A Inconfidência Mineira foi o movimento separatista mais importante do Brasil

Não é bem assim. A Inconfidência teve um impacto muito importante para a história do país, mas muitas outras revoltas coloniais, até mais bem sucedidas, ocorreram. A Revolução Pernambucana de 1817, por exemplo, conseguiu instituir um governo republicano, liberdade religiosa e de imprensa, soberania popular e abolição da escravatura lenta e gradual. Esse governo foi mantido por quase dois meses, mas foi violentamente reprimido pelo governo português. O movimento mineiro nunca passou de uma conspiração, mas por que então ganhou tanto destaque? “A Revolução Pernambucana ocorreu no Nordeste do país. Já a Inconfidência foi um movimento da elite branca de uma região que detinha grande poder econômico e sempre foi mais valorizada do que as outras”, explica Juliano Custódio Sobrinho, professor de História da Uninove.

VEJA TAMBÉM:

-Vídeo: Por que mataram Tiradentes?
-Tiradentes é um exemplo de como heróis são construídos

4) Conhecemos Joaquim José da Silva Xavier como Tiradentes por que ele era dentista

Ele “cuidava” de dentes, mas não possuía o título de dentista, até mesmo porque só há registros da palavra dentista para designar uma categoria profissional a partir de 1800, data posterior a sua morte. No século 17, os médicos se recusavam a mexer nos dentes das pessoas e quem “cuidava” dessa parte do corpo eram os barbeiros. Mas o trabalho consistia em apenas extrair o dente, de forma bastante rudimentar e dolorosa. Foi a partir de 1631 que a Coroa Portuguesa passou a multar quem exercesse essa prática sem licença. Nesse contexto, surgiram os tira-dentes. E, ao contrário da maioria dos demais, Tiradentes não só extraía dentes como também os fabricava, com ossos de animais, e os implantava.

5) Era líder do movimento

Essa é uma afirmação bastante equivocada. Apesar de ter tido um papel muito importante, nunca foi líder. “Foi ele quem levou as discussões que ocorriam em reuniões privadas para um ambiente mais público, como sítios, prostíbulos, tavernas. E como ele não era uma pessoa tão bem relacionando quanto os outros inconfidentes, era o de classe mais baixa entre eles e não pertencia ao grupo de letrados, foi usado como bode expiatório”, explica Luiz Carlos Villalta, professor do departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais .

 

6) Jogaram sal no chão do terreno de sua casa para que nada mais crescesse

É verdade. Devido ao crime de lesa-majestade (traição à pessoa do rei), considerado gravíssimo, a casa onde morava Tiradentes foi demolida e o terreno foi salgado. Seus  descendentes também foram declarados infames. “Hoje pode parecer algo sem importância, mas a ideia de honra era muito importante naquela época. Ferir ou retirar a honra era uma das piores coisas que poderia acontecer a alguém”, explica Luiz Carlos Villalta.

7) Ele se entregou para para salvar os outros inconfidentes

Na verdade, ele foi entregue. Em uma espécie de delação premiada, o coronel Joaquim Silvério dos Reis, que inclusive era amigo de Tiradentes, denunciou os colegas às autoridades da Coroa Portuguesa para obter o perdão de suas dívidas.

8) O famoso quadro Tiradentes esquartejado foi pintado por Pedro Américo, que presenciou a morte do mártir

O quadro é de 1893 e seu pintor nasceu em 1843. Ou seja, Pedro Américo não só não presenciou a morte de Tiradentes como não era nem mesmo nascido quando ela ocorreu, em 1792. O pintor exaltava os sentimentos nacionalistas em suas obras, como é perceptível no famoso quadro O grito do Ipiranga. Com o fim da monarquia, perde o cargo de pintor oficial e decide pintar uma série de quadros sobre o movimento mineiro buscando recuperar o apoio do governo. A série não aconteceu, mas o quadro Tiradentes esquartejado tornou-se uma das principais obras da história do país.


 

9) O sumiço da cabeça de Tiradentes não passa de uma lenda

Pode parecer mentira, mas não é. A pena imposta a ele é chamada de punição exemplar, ou seja, deveria servir de exemplo para que outros não cometessem o mesmo erro de trair o rei. Para que isso ficasse claro para o maior número possível de pessoas, seu corpo foi esquartejado e as partes expostas em locais públicos. A cabeça, estava exposta em uma praça da cidade de Ouro Preto, antiga Vila Rica. Durante a noite, ela simplesmente sumiu. Hoje, a praça possui o nome de Tiradentes.

10) O corpo do mártir está enterrado no município mineiro de Tiradentes

Não. O que sobrou de seu corpo, foi enterrado  em segredo no altar da antiga Capela de Sant'Anna de Sebolas, atual Igreja Nossa Senhora de Sant’Anna de Sebollas, que fica no município de Paraíba do Sul, no estado do Rio de Janeiro.

https://novaescola.org.br/conteudo/4914/9-mitos-e-uma-verdade-sobre-tiradentes-e-a-inconfidencia-mineira 

Revolução Francesa e Conjuração Baiana: dois fatos separados apenas geograficamente

Do outro lado do oceano, a Revolução Francesa. Deste, a Conjuração Baiana. A distância é grande, mas os dois fatos tiveram muito em comum

Por: Anna Rachel Ferreira
Praça do Hospício, local de grande movimentação, onde foram enforcados e esquartejados os líderes da Conjuração Baiana. Louis-Julien Jacottet. Hospice de N. S. da Piudade a Bahia. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
Praça do Hospício, local de grande movimentação, onde foram enforcados e esquartejados os líderes da Conjuração Baiana

O dia: 12 de agosto de 1798. Panfletos com ameaças à Coroa Portuguesa estão afixados em muros de Salvador e convocam a população a uma revolução, à instauração da República Baiana, na qual "todos serão iguais, não haverá diferença, só haverá liberdade, igualdade e fraternidade". Os revoltosos se reúnem para arquitetar uma luta armada, mas o governo português interrompe o encontro. Os participantes fogem, mas nos dias seguintes 41 deles são presos. As investigações policiais levam um ano e têm como resultado o enforcamento e o esquartejamento em praça pública de quatro líderes. 

O fato - conhecido como Conjuração Baiana, Revolta dos Búzios, Revolução dos Alfaiates e Inconfidência Baiana - não pode ser estudado apenas como mais uma revolta do período colonial, como por exemplo a Inconfidência Mineira. Isso porque faz parte do estudo de História saber que fatos estão interligados. Quando o foco é a Conjuração, portanto, é essencial levar em conta seu contexto. A Revolução Francesa, por exemplo, teve grande influência no conflito baiano (leia o que diz uma recente pesquisa sobre o tema no quadro abaixo)

Pensando nisso, o professor Manoel Cantalejo, da EM Ministro Alcides Carneiro, na capital fluminense, fez seu planejamento para trabalhar com a garotada do 8º ano. Ele já tinha dedicado aulas expositivas à Revolução Francesa e proposto a leitura da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que fez parte da primeira constituição do governo revolucionário. Os alunos sublinharam o texto destacando as reivindicações da população e escreveram no caderno as conclusões das discussões feitas, formando seu material de consulta. 

Os registros foram retomados quando o educador ensinou a Conjuração Baiana. Primeiro ele explicou quando e onde o conflito havia ocorrido e lembrou a importância da participação do povo, que lutava pela criação de uma república, pela abolição da escravatura, pelo aumento de salário e pelo livre comércio. "Queria que os alunos entendessem como as pessoas se sentiam. Eles diziam: ?Se fosse eu, faria uma revolução!? Expliquei que foi isso o que ocorreu. Não uma luta com armas, mas de ideias."

Para guiar suas apresentações orais, o professor organizou slides com dados sobre o que influenciou a revolta, destacando o levante francês e o iluminismo. Em seguida, pediu que lessem trechos de livros dos historiadores Boris Fausto (História Concisa do Brasil, 328 págs., Ed. Edusp, tel. 11/3091-4008, 45 reais), Claudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo (História do Brasil, 544 págs., Ed. Scipione, tel. 11/4003-3061, 118,90 reais) e discutiram sobre eles. Por fim, todos receberam o Manifesto da Conjuração Baiana, escrito para conclamar o povo à revolução. Os alunos grifaram frases com insatisfações e pedidos do povo e compararam com a declaração francesa, usando para isso os registros do caderno (leia frases dos dois documentos e comentários na próxima página)

O professor notou que, quanto mais compreendiam o conteúdo e se aprofundavam nas leituras, mais dúvidas tinham, como estas: "Como os homens pobres conheceram essas ideias?" e "Todos frequentavam a escola naquela época?". 

A leitura e a análise de documentos históricos propiciaram aos estudantes conhecer o discurso de época e ter contato com fontes primárias de informação. Outra possibilidade seria mostrar que as ideias difundidas na Revolução Francesa influenciaram também a Independência do Brasil, mesmo ela tendo ocorrido mais de 20 anos depois, apenas em 1822. 

Depois das discussões, análises e comparação de textos e aulas expositivas, Cantalejo propôs que os alunos respondessem às seguintes perguntas: "Quais fatores motivaram a Conjuração Baiana?" e "Quais as influências da Revolução Francesa no movimento?". "Minha intenção era que eles pudessem tirar dúvidas, discutir com os colegas e consultar o caderno, o livro didático e os textos complementares. Com essa atividade, eu pude perceber os pontos que ainda não estavam bem compreendidos e retomá-los em seguida." 

Aléxia Pádua Franco, docente da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pesquisadora de práticas de ensino em História, lembra que o importante é garantir aos jovens a compreensão de que qualquer transformação, no passado ou no presente, não ocorre de forma repentina. "Eles devem entender que isso se dá por meio de um combinado de ações de homens e mulheres em diferentes épocas e espaços sociais."

Quase perfeito

Um acordo teria mudado a Conjuração Baiana 

Os laços entre os movimentos ocorridos na Bahia e na França poderiam ter sido ainda mais estreitos. Em sua dissertação de mestrado, a historiadora Patrícia Valim afirma que houve uma tentativa de acordo intermediada pelo capitão Antoine- René Larcher (1740-1808). Em 1797, os articuladores da revolta baiana propuseram a Larcher uma troca de favores com a França: o país europeu se beneficiaria com o comércio brasileiro e, de outro lado, a Bahia receberia homens e armamentos para a luta contra os portugueses. A proposta chegou ao governo francês, mas foi recusada. "Os baianos pensaram estrategicamente. Na época, Inglaterra e França eram as grandes potências mundiais. Já que Portugal era parceiro da Inglaterra, restava ao Brasil buscar apoio da França para lutar contra o colonizador", explica Patrícia.

Declaração francesa x Manifesto baiano

Leia os trechos dos documentos elaborados durante as revoltas e que foram comparados pelos alunos do professor Manoel Cantalejo

Declaração francesa versus Manifesto baiano. Simone Veloso
Sem corrupção Os problemas sociais existem por causa da corrupção e do não-cumprimento dos direitos. 

Abaixo à opressão
 A liberdade é vista como uma forma de escapar da opressão dos governantes, como a escravidão.

 

Declaração francesa versus Manifesto baiano. Simone Veloso

Não ao monarca Os documentos, que começam com essas frases, mostram mais crença nas pessoas do que nos monarcas e orientam o povo a não se curvar ao rei. 


Bons salários Os textos defendem que todos - inclusive soldados e negros - podem ocupar cargos e merecem receber salários apropriados ao seu exercício.

*Trechos extraídos do livro Presença Francesa no Movimento Democrático Baiano, Kátia de Queirós Mattoso, Ed. Itapuã (edição esgotada).

 

https://novaescola.org.br/conteudo/2224/revolucao-francesa-e-conjuracao-baiana-dois-fatos-separados-apenas-geograficamente 




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