Solidão no trabalho do professor
Trocar ideias ajuda a evitar a solidão no trabalho do professor
Em geral, ninguém de fora vai aplaudir se a aula for um sucesso nem comentar quando algo saiu diferente. O que é possível fazer para se sentir menos sozinho?
Felipe Bandoni
Outro dia, um amigo que está iniciando na docência me convidou para tomar um café. Na realidade, era uma desculpa para conversarmos sobre as angústias que ele estava sentindo no trabalho. Não faltaram dúvidas sobre as atividades do cotidiano da escola, entre elas: "Quando você vai apresentar um conteúdo, como você faz? Como decide se aquela aula vai ser expositiva, de leitura de texto ou de laboratório? Como você sabe se a aula foi boa? Você conta para o coordenador tudo o que aconteceu?".
No meio do bate-papo, me dei conta de como somos solitários em nossa profissão. Mesmo se acontecerem diálogos pontuais com a coordenação ou um colega, o planejamento é uma atividade que cada professor executa de forma isolada. Na sala de aula, em geral estamos a sós com os nossos alunos e, na maioria das vezes, ninguém além deles fica sabendo o que aconteceu naquele período. Ninguém de fora vai aplaudir se a aula for um sucesso nem comentar quando algo saiu diferente do planejado.
Em várias escolas que conheci, vivenciei a falta de diálogo com meus pares por falta de tempo, de disposição, e até mesmo por vergonha de expor as dificuldades que estava enfrentando. Como aparentemente ninguém tinha problemas, fui construindo a ideia de que ser professor é assim mesmo: exige se virar sozinho tanto para planejar e quanto para dar aulas. Acredito que o mesmo aconteceu com outros docentes.
A solidão, na minha opinião, exerce influência em duas mazelas da nossa carreira. A primeira é a alta incidência de problemas emocionais, pois as dúvidas sobre o dia a dia podem nos fazer duvidar da própria capacidade profissional. A segunda é a resistência à formação em serviço. Afinal, se sempre enfrentamos as dificuldades sozinhos, de que serve a opinião de alguém de fora?
Em outros países, existem práticas de tutoria ou observação de aulas, que permitem auxiliar os novatos e até quem está no meio da carreira. E faz sentido, pois o professor precisa da crítica construtiva para poder avançar. Mas nosso modelo de contratação (hora/aula) é um empecilho para que isso se torne realidade. Quem ministra disciplinas do Fundamental 2 e do Ensino Médio trabalha de modo ainda mais solitário e poderia se beneficiar trocando ideias em grupos de estudos ou em cursos com pessoas de outras redes. Mas nem todos têm esse tipo de oportunidade.
No cotidiano, nos resta abrir espaços para conversar, resolver dúvidas e diminuir a ansiedade. Uma dica para conseguir um bom conselho e evitar ser julgado pelo colega é ter um interlocutor de outro segmento de ensino ou até de outra escola. Mas o desejável seria que tivéssemos abertura para dialogar sobre a prática, sem que isso fosse visto como sinal de incompetência. Essa troca entre colegas, mesmo que informal, nos dá mais confiança para transpor os obstáculos que estamos acostumados a enfrentar sozinhos.