Só R$ 19 por hora
Professores ganham só R$ 19 por hora
29/06/2016
A análise foi feita pelo Movimento Todos pela Educação
Um dado surpreendente sobre a educação no Brasil: um professor com nível superior e que atue na educação básica recebe, em média, R$ 19,6 por hora de trabalho. É pouco mais da metade da remuneração de um outro profissional com a mesma formação, que oscila entre R$ 36 a R$ 52.
A análise foi feita pelo movimento Todos pela Educação – que tem como missão assegurar a todas as crianças e jovens o direito a Educação Básica de qualidade. Os cálculos se basearam em dados do IBGE, com valores dos salários atualizados até 2014, pelo INPC.
O estudo aponta que os docentes brasileiros recebem o equivalente a 54,5% do que ganham outros profissionais também com curso superior. Na Região Sudeste a situação é ainda pior, o percentual cai para 50,5%.
Foto: Guilherme Ferrari - GZ
A maior prova do descaso com o professor, avalia Leni das Graças, 57 anos, é a remuneração. Para obter um salário decente, relata, é preciso atuar em muitas escolas
E se o profissional for da rede privada, destaca o Sindicato dos Professores Particulares (Sinpro), o percentual é ainda menor. “Varia entre 40% a 45% do salário de um outro profissional também com formação universitária”, relata o presidente da instituição, Jonas Rodrigues De Paula.
De acordo com o estudo, o salário de um professor da Rede Básica é de R$ 3.137. Realidade bem distante, por exemplo, de um profissional da área de saúde, que no final do mês recebe
R$ 8.400. A média dos profissionais com nível superior é de R$ 5.762.
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Uma diferença considerada assustadora por Ricardo Falzetta, gerente do Todos Pela Educação. “Um país que quer se desenvolver, que coloca a educação como prioridade no discurso, mas que na prática não promove essa melhoria”, destaca.
Ele observa ainda que esta diferença salarial acaba tendo impactos na carreira, que deixa de ser atrativa para bons profissionais. “Uma pesquisa realizada em 2009 já mostrava que apenas 2% dos alunos do ensino médio têm vontade de ser professor. É trágico para o país”, diz.
No Estado, os professores iniciantes com nível superior (licenciatura) recebem R$ 3.172, por 40 horas semanais. Se o profissional possuir pós-graduação, mestrado ou doutorado, seu salário é maior, podendo chegar a R$ 5.687. “Nosso salário inicial é o terceiro maior do país, perdendo para Roraima e São Paulo”, destaca Haroldo Rocha, secretário estadual de Educação.
Ele avalia que no país, esta é uma categoria que precisa ser valorizada e que a remuneração precisa evoluir. “No Estado a nossa situação já foi muito pior. Conseguimos, além da inflação, melhorar a remuneração em 180%. O desafio agora é superar o momento de crise, onde se tenta garantir o pagamento dos salários em dia, para depois voltarmos a investir”, pontua Rocha.
Análise
Remuneração
Professores da educação básica: R$ 3.137
Profissionais de exatas: R$ 7.425
Profissionais de humanas: R$ 6.219
Profissionais de saúde: R$ 8.400
Profissionais com curso superior (média): R$ 5.762
Remuneração da educação básica
2002 - R$ 2.539
2003 - R$ 2.268
2004 - R$ 2.166
2005 - R$ 2.358
2006 - R$ 2.602
2007 - R$ 2.510
2008 - R$ 2.554
2009 - R$ 2.487
2011 - R$ 3.111
2012 - R$ 3.178
2013 - R$ 3.175
2014 - R$ 3.137
Rendimento
A análise levou em consideração o percentual que os professores recebem em relação à remuneração de outros profissionais com a mesma formação, seja em nível superior ou nível médio, no ano de 2014
Nível superior
Brasil: 54,5%
Norte: 35,5%
Nordeste: 66,9%
Sudeste: 50,5%
Sul: 75,1%
Centro Oeste: 68,2%
Nível médio
Existem poucos professores com este tipo de formação no Brasil, tanto na área pública quanto na privada:
Brasil: 85,8%
Norte: 100,7%
Nordeste: 100%
Sudeste: 79,4%
Sul: 101,6%
Centro Oeste: 90,5%
Fonte: Todos Pela Educação, com dados do IBGE