Salas superlotadas

Salas superlotadas

Salas superlotadas comprometem qualidade da educação

Turmas 2.0, com cerca de 120 alunos por sala de aula, são criticadas por causar prejuízo à qualidade do ensino e por dificultar a atividade docente

Por César Fraga

Turma 2.0 da Fadergs no Prédio da Galeria Luza, no Centro de Porto Alegre, com 120 alunosFoto: César Fraga
Turma 2.0 da Fadergs no Prédio da Galeria Luza, no Centro de Porto Alegre, com 120 alunos

 

Após o enxugamento de currículos promovido pela Laureate International nas instituições em que é gestora (UniRitter e Fadergs) e que resultou na demissão em massa de professores experientes em ambas no final do semestre passado, propaga-se a expansão da Educação a Distância (EaD), a oferta de graduações de curta duração e um outro fenômeno, que é o aumento do número de alunos por sala de aula. Na Fadergs, por exemplo, surgem as chamadas Turmas 2.0, que chegam a reunir 120 alunos em uma sala de aula. As disciplinas dessas turmas ocorrem principalmente nos inícios dos cursos.

Recentemente, o Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS) levou aos gestores da Fadergs/Laureate a preocupação de docentes e estudantes com as Turmas 2.0 (a partir de denúncias encaminhadas ao Sindicato). Na opinião do diretor do Sinpro/RS, Marcos Fuhr, “além de constituir-se em uma prática predatória com relação às instituições concorrentes de cunho mais tradicional, ao visar reduzir custos concentrando em uma sala um grande número de alunos que poderiam estar distribuídos em duas ou três turmas, compromete-se a qualidade do ensino e dificulta-se a atuação do professor”.  Segundo o sindicalista esse tema também está pautado na negociação coletiva deste ano junto à representação patronal. “Somos contrários a essa prática e temos certeza de que existem muitas instituições pautadas pela qualidade de ensino que também se opõem”, garante Fuhr.

O estudante Antônio Henrique Fonseca, diretor para Universidades Privadas da União Estadual de Estudantes (UEE Livre) destaca que, tanto a sua entidade quanto a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Confederação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) estão engajadas na campanha Educação Não é Mercadoria, que busca identificar e combater práticas de cunho mercantil nas empresas de educação.  “Os estudantes são contra a superlotação das salas e também contra a educação ser vendida como uma mercadoria, porque isso vai num sentido inverso ao conceito clássico de educação. Fenômenos como esse surgem no sentido de aumentar o lucro das universidades, privilegiando a quantidade em detrimento da qualidade. Um exemplo disso é o crescimento das disciplinas na EaD, ao que nos posicionamos totalmente contra, principalmente porque as grades curriculares têm sido modificadas e cada vez mais cadeiras presenciais têm sido substituídas por disciplinas a distância, com qualidade inferior”, explica.

Para o dirigente da UNE, essas práticas têm se mostrado em crescimento, principalmente na Fadergs, que incentiva cada vez mais os estudantes à EaD. Uma das reclamações é que apesar de a instituição economizar com a EaD para os alunos, disciplinas obrigatórias na modalidade a distância têm preços similares às disciplinas presenciais. A UEE Livre já apresentou uma proposta para Projeto de Lei (PL) contra a EaD obrigatória nas universidades privadas. “No que se refere especificamente às Turmas 2.0, o entendimento da UEE Livre faz a leitura de que é mais um exemplo de que a Laureate age como um grande tubarão no mercado educacional, no sentido de cada vez ganhar mais e oferecer menos ou de forma menos qualificada a educação”, conclui.

CONCORRÊNCIA – 

A reportagem da jornalista Flávia Benfica, na edição impressa do Jornal Extra Classe de abril deste ano, Crescimento da oferta de graduações rápidas preocupa, mostra que é forte o apelo das mensalidades a custos acessíveis nessas instituições. Em Porto Alegre, por exemplo, mensalidades de cursos como Administração de Empresas, oferecidos em instituições de ponta e com aulas presenciais, ficam na faixa dos R$ 2 mil e têm duração de oito semestres. Mas, em cursos ofertados em instituições pertencentes a grupos com fins lucrativos, é possível encontrar graduações de EaD em Administração de Empresas por valores de mensalidades entre R$ 250,00 e R$ 450,00.

Segundo a reportagem, ainda há a proliferação das chamadas graduações de Gestão, muito oferecidas na modalidade EaD e propagandeadas como uma espécie de derivação simplificada dos cursos de Administração de Empresas. Com duração média de quatro semestres, há Gestão nas mais diversas áreas, da Ambiental à de Tecnologia, passando pela Financeira, de Negócios, Comercial, Pública, de Qualidade, de Recursos Humanos, de Seguros, Hospitalar, de Segurança, de Turismo. O preço é um chamariz: em algumas instituições, as mensalidades ficam abaixo dos R$ 300,00.

 

http://www.extraclasse.org.br/exclusivoweb/2018/04/salas-superlotadas-comprometem-qualidade-da-educacao/




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