Revista Veja e o Professor

Revista Veja e o Professor

 

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade – www.wolmer.pro.br - Revista Gestão Universitária - 04/08/2016 - Belo Horizonte, MG

Importante começar este texto com uma triste estatística na qual faz menção do Brasil como o país campeão mundial da violência contra o professor. A pesquisa divulgada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) o apontou como o país com o maior número de casos de violência contra professores. O estudo focou as condições de trabalho dos professores e a aprendizagem nas escolas com o intuito de formular políticas públicas a respeito do tema.

Tal pesquisa revelou que 12,5% dos professores sofrem agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana. A mesma pesquisa não faz menção dos assédios

morais que nós professores sofremos de gestores incompetentes, de secretários narcisistas, de pais desequilibrados e agressores que vão as escolas ameaçar os professores de seus filhos, e de outros profissionais que adoram opinar sobre a docência sem conhecimento de causa.

Não podemos fazer generalizações inconsistentes. Podemos afirmar que o colunista quinzenal na revista Veja, ao criticar os professores dizendo que ganham mais do que merecem, que trabalham menos que qualquer outro trabalhador, no mínimo não vive a realidade da educação pública brasileira, e é apenas mais um de uma elite esmagadora a tentar manipular essa massa de pessoas não protagonistas através de mídias desacreditadas e usurpadoras.

É uma pessoa com um belíssimo currículo, com mestrado e doutorado no exterior e que ocupou vários cargos representando altos status, embora muitos destes cargos se analisarmos tiveram indicações políticas, ou seja, perdeu-se aí toda credibilidade no que foi escrito, porque teve um cunho de uma imundice política tendenciosa e golpista.

É inadmissível ver um profissional da educação falar mau dos seus, sem experiência de causa, justamente porque esta mesma pessoa desenha uma realidade oposta a que foi escrita.

Vale ressaltar que se esta revista quisesse mesmo produzir um texto sobre o professor, poderia procurar um profissional atuante no ensino público infantil, fundamental e médio, e para dar mais consistência, fazer um brainstorming com outros professores com titulações diferentes e atuantes nestas mesmas áreas.

Eu como profissional da educação, acredito ser de pura hipocrisia, pseudo-educadores darem relatos assim. Seria interessante cidadãos desta casta, diga-se casta porque existe segregação entre professores de instituições públicas federais e municipais/estaduais, principalmente no quesito salário, mas não convém entrar no mérito e perder o foco deste texto que está nas estultices escritas pelo colunista tendencioso da Veja.

Este colunista diz que professor ganha bem, trabalha pouco, que não há avaliações no Brasil do ensino público e muitos outros despautérios em um só texto. Sugiro ele mostrar o seu contracheque e compará-lo com alguns professores da rede pública, professores estes que tiveram seus planos de carreiras ceifados por políticos com pensamentos idiotas como deste professor. Educadores que têm que se matar de trabalhar para poder ter um salário mais digno, como aconteceu com uma professora universitária que foi agredida por um aluno que não gostou da nota que tirou. Esta professora teve traumatismo craniano. Isso aconteceu em uma universidade, geralmente é um ambiente formado por alunos mais esclarecidos, imagine agora em uma escola em que o sistema sequer oferece o mínimo para sua manutenção?

A docência é hoje uma profissão perigo, ignorada por colunistas desta estirpe a escrever em seus acentos confortáveis e ignorando a realidade do magistério no Brasil.

Pior ainda é encontrar uma revista que publique coisa vil. Você que se diz professor, apesar de carregar título de doutor, me faz refletir em uma pesquisa que fala do excesso de doutores que não produzem, e percebo que alguns quando produzem, saem este lixo publicado em uma revista hoje sem credibilidade por leitores que tem um mínimo de criticidade, pois estes sequer lêem os textos enojantes desta revista falida de conhecimento.

Nos faz pensar que existe neste texto, uma jogada política preparada pela mídia golpista vendendo uma imagem surreal do professor, jogando a sociedade manipulável hoje, contra a classe que desde o golpe militar, deixou de ser reconhecida e valorizada como deveria ser.

O professor representa uma classe que não tem o seu trabalho terminado ao som da sirene do final das aulas. Sua labuta continua nas noites intermináveis e nos finais de semanas em que ele abre mão do afeto da família para fechar diários, preparar e corrigir provas, fazer planejamentos, pesquisas, preparar aulas. além de pressões de pedagogos exigindo que o mesmo faça projetos estéreis para agradar o sistema, além de fabricar números para melhorar as estatísticas com aprovações de idiotas que darão créditos a textos imbecis como o publicado pela revista veja.

Podemos perceber que quando o texto foi escrito, estava se referindo a ele mesmo. Realmente este professor ganha bem e trabalha pouco como alguns doutores que vampirizam seus alunos nas produções de pesquisas.

Muitos doutores sequer dão aulas, porque encontram os monitores para ensinar o que estes não foram capazes de fazer, encontrando desculpas e se escondendo em suas salas para brincarem de fazer pesquisas.

Estes mesmos professores clamam aos quatros cantos idiotices resguardadas por títulos, mas que pouco fazem por seu país a não ser escrever textos para uma revista desacreditada poder fazer dinheiro ou aparecer.

Este professor, por ministrar em instituições superiores renomadas, tem seus alunos variando de bons a extraordinários e que caminhariam por si só.

Não coloco em dúvida a capacidade da pessoa que escreveu tal absurdo, apenas acredito que o mesmo se equivocou ao esquecer que para ser professor precisa mais que títulos, e não serei um simples professor a ensinar alguém como tanta titulação. Bom mesmo seria, se todos os professores conseguissem conciliar os títulos, com as aulas, mas a realidade política, econômica e social do verdadeiro professor não permitem que muitos dêem continuidade aos estudos como lato sensu e stricto sensu, embora esteja certo que é justamente disso que o sistema precisa, para que possa encontrar outros professores com alta titulação a escreverem estultices e serem lidos por imbecis.

Espero que as pessoas que leram tal texto, não se esqueçam de perceber que o professor representa a classe que menos é reconhecida e mais desvalorizada, o que acarreta em nossa sociedade um número maior de corruptos a nos representar, o que reflete em uma maior desigualdade social.




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