Professor primário ganha pouco
Professor primário no Brasil ganha pouco, mas universitário tem 'salário de país nórdico', diz OCDE
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15 setembro 2016
Os professores brasileiros do ensino público fundamental e médio ganham menos da metade da média salarial dos professores de países analisados em um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado nesta quinta-feira.
O estudo, Um Olhar sobre a Educação 2016, também revela que os salários de professores universitários de instituições federais públicas no Brasil - entre US$ 40 mil e cerca de US$ 76 mil por ano (de R$ 133,7 mil a R$ 254 mil) - "são bem mais elevados do que em muitos países da OCDE e comparáveis aos dos países nórdicos, como Finlândia, Noruega e Suécia".
Segundo o documento - um compêndio de estatísticas que analisa a situação da educação nos 35 países membros da organização e em 11 economias parceiras, como Brasil, China, Índia e Colômbia -, os professores no Brasil têm o mesmo salário mínimo legal da categoria, US$ 12,3 mil por ano (cerca de R$ 41 mil), independentemente de lecionarem no ensino fundamental ou médio.
Eles ganham menos da metade da média nos países da OCDE e abaixo de professores de outros países latino-americanos como Chile, Colômbia e México.
E além disso, são os que trabalham o maior número de semanas por ano entre todos os países do estudo que disponibilizaram dados a respeito.
"Os professores brasileiros, nesses níveis de ensino, lecionam, em média, 42 semanas por ano. A média na OCDE é de 40 semanas no pré-primário e de 37 semanas nos cursos técnicos."
Investimento e diploma
O documento revela também que o Brasil gasta mais com o ensino universitário, por aluno, do que vários países, mas o número de diplomados no país - apenas 14% da população na faixa etária de 25 a 64 anos -, está abaixo de todos os países da América Latina analisados pelo estudo (Colômbia, Costa Rica, Chile, Argentina e México).
Os gastos públicos para cada estudante do ensino superior no Brasil somam US$ 13,5 mil por ano (cerca de R$ 45 mil), calculados com base na paridade do poder de compra (PPC) para efeito de comparação internacional.
Esse valor é bem acima da média de US$ 3,8 mil por ano (R$ 12,7 mil) investida por aluno do fundamental e médio no Brasil, segundo o estudo.
Image copyrightAPOs gastos com cada estudante universitário brasileiro, de US$ 13,5 mil por ano, estão próximos à média dos países da OCDE, que é de US$ 15,8 mil.
Já as despesas por aluno do fundamental e médio no Brasil, abaixo de US$ 4 mil, representam menos da metade da média da OCDE, de US$ 8,5 mil no fundamental e de US$ 9,8 mil no médio.
Apesar dos gastos elevados por aluno do superior, o Brasil tem uma das menores taxas de diplomados nesse nível de ensino entre os países analisados no estudo: apenas 14% entre pessoas de 25 a 64 anos. Na Costa Rica, o índice é de 23% e, na Colômbia, de 22%.
"A geração mais jovem no Brasil, entre 25 e 34 anos, mostra alguns sinais de progressos: 16% concluíram o ensino superior, enquanto para as pessoas com 55 a 64 anos a taxa é de 11%", afirma a OCDE.
O Brasil está à frente apenas da China e da Indonésia em relação ao percentual da população que cursou o ensino superior.
Diferença salarial
O estudo também revela que a média de salários de pessoas com nível universitário no Brasil chega a ser duas vezes maior que a de trabalhadores com ensino secundário.
Essa diferença salarial no Brasil é uma das maiores apontadas no estudo da OCDE. A organização atribui isso, em parte, ao baixo número de pessoas que cursam universidades no Brasil.
Na Dinamarca, na Suécia e na Noruega, os trabalhadores com ensino superior ganham 25% a mais do que os com nível secundário.
No caso de quem concluiu mestrados ou doutorados no Brasil, a renda pode ser acima de quatro vezes maior que a de trabalhadores que têm apenas o segundo grau.
Como o número de estudantes universitários no Brasil é comparativamente baixo, diz a OCDE, os gastos públicos, embora mais elevados por aluno, representam apenas uma pequena fatia, pouco acima de um quinto, do total dos investimentos em educação.
Aumento dos investimentos
A organização destaca que uma ampla fatia dos investimentos públicos no Brasil é destinada à educação. Em 2013 (último dado disponível), o custeio do ensino primário ao superior no país representou 16,1% do total dos gastos do governo, "bem acima", diz a organização, da média da OCDE, de 11,3%.
"Embora os investimentos públicos tenham aumentado em todos os níveis de ensino entre 2005 e 2013 no Brasil, o crescimento foi consideravelmente acentuado no primário e secundário, de 1.1 ponto percentual, passando para 4,3% do PIB", afirma o estudo.
No ensino superior, o aumento dos investimentos foi mais "modesto", passando de 0,7% para 0,9% do PIB.
Segundo a organização, os gastos públicos com educação no Brasil representaram 5,5% do PIB em 2013 contra 4,1% do PIB em 2005, se situando na média dos países da OCDE e acima de países como o Chile e o México.