Por que Janine caiu?

Por que Janine caiu?

 

Por que Janine caiu?

Janine caiu porque entrou para cair. Como professor de ética e filosofia política ele deveria saber disso. Deveria ter visão a respeito do PT e de como as coisas estavam indo, mas falou mais alto a vaidade ou, pior ainda, o medo do ostracismo quando os setenta anos de idade despontam no horizonte, principalmente em um país que cultua de maneira tola a juventude.

Depositamos esperança nele, claro. Como não faríamos isso? Deveríamos boicotá-lo? Ora, seria um crime! Mas, passado o primeiro mês no governo, as coisas já deveriam estar claras para ele. Pois, para todos nós aqui fora, já estavam.

Na anterior troca de ministros, quando ele foi convidado, a indicação veio da parte de Mercadante. O jogo já era de cartas marcadas. Dilma não tinha ideia de quem era Janine, mas Mercadante sugeriu e deu o aval, e o fez de maneira criteriosa. Caso escolhesse Mário Sérgio Cortela, um petista histórico e que goza de simpatias na mídia, as coisas ficariam difíceis na hora da demissão. Caso escolhesse alguém do movimento de mulheres ou do movimento social, inclusive de outras pastas do governo, pior ainda seria na hora de demissão. Caso fosse Chalita, estaria entregando o ouro muito cedo para o PMDB e, ao mesmo tempo, trazendo para o governo um rapaz com sede de aparecer e marcado por acusações de corrupção. Mais ainda o governo se queimaria. A escolha foi feita então a dedo: alguém isolado, sem base política, apenas com uma candidatura lançada por si mesmo após ser lembrado na imprensa – lembrado porque o governo deixou vazar o balão de ensaio, propositadamente. Assim foi pensado o caso, e assim foi feito. Janine escorregou na sua gravata tirada da gaveta para a posse, beijou Dilma e, então, dali para diante já era carta fora do baralho.

Todos sabíamos que o PMDB iria usar do PSDB e também da insatisfação popular para tornar Dilma ainda mais refém do que já estava. E ocorreu o que tinha de ocorrer. Veio a reforma ministerial, agora, pois Dilma está encurralada, e Janine volta para casa de modo humilhante. Mercadante pode deixar a Casa Civil tendo casa para ainda ficar no governo. Janine foi demitido um dia inteiro depois que toda a imprensa já havia anunciado a reforma ministerial. Durante um dia inteiro permaneceu no governo, na sua mesa, esperando seu destino. Foi pior do que a demissão do Cristóvam Buarque, feita por Lula, por telefone. Cid Gomes não foi trouxa, quando viu que seu destino seria este que se configurou com Janine, saiu atirando – e atirando para na direção do alvo correto: Cunha. Político tem visão, professor de política, parece, tem menos.

Mas o caso é que a vaidade de Janine já o havia comprometido outras vezes. E isso é que é estranho. Ou seja, o fato dele não ter aprendido!

Há episódios dele no passado recente bem desagradáveis, chatos mesmo. Por exemplo, há episódios dele, na Capes, telefonando para jornais para pedir a cabeça de colegas que o criticavam em colunas de tais periódicos. No MEC ele repetiu esse tipo de comportamento, cedendo onde não devia à direita, aos grupos evangélicos na questão da educação ligada às questões de gênero, e sendo pouco hábil e responsável na greve que engoliu durante quase toda a gestão. Era visível que seu rosto mostrava cansaço, desgosto, certa apatia, mas não largava o osso. Deu uma entrevista completamente vazia no Jô Soares! Mas algo lhe dizia, erradamente, que ele estaria ali por mais tempo, intocável. Também seu Facebook denotava essa seu modo pomposo. Antes de ir para o MEC atendia todos os seus amigos na rede social mas, uma vez ministro, deu uma incrível e desajeitada resposta para alguns: “não me escrevam mais no meu Facebook, que é meu espaço de lazer, pois sou o ministro da Educação, então reclamem no MEC”. Mais ou menos isso. Não soube lidar com o poder do cargo, como se fosse jogador de futebol de 17 anos, que na fama momentânea se pensa um demiurgo.

Duvido que Janine Ribeiro tenha aprendido algo nesse cargo. Talvez volte para o facebook e continue dizendo que Lolita é um romance sobre estupro! Meu Deus! Mas, para além de Janine, que fique aqui a lição para todos os intelectuais: os políticos não dão a mínima para filósofos ou professores ou coisas assim, os olham ou como pets ou como ervas daninhas. E isso tanto faz na esquerda quanto na direita.

Lembrem-se disso, caros colegas intelectuais. Lembrem-se. Alguns ainda não tiveram sua vez de se espatifar na crendice de sua própria grandeza.

Paulo Ghiraldelli, 58, filósofo.


http://ghiraldelli.pro.br/por-que-janine-caiu/




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