Política sartorista
STF pode acabar com a política sartorista do quanto pior, melhor
Com o interesse manifesto pelo Supremo Tribunal Federal de contribuir na busca de uma solução para a repactuação da dívida dos Estados para com a União, o Rio Grande do Sul passa a ter um horizonte para a saída da tão propalada crise financeira. Mas o que deveria ser uma comemoração, na visão dos responsáveis pelas finanças do governo Sartori, servirá apenas de alivio imediato. Ou seja, não irá resolver todo o problema. Mas afinal, quando será que está administração irá abdicar da argumentação financeira para justificar seu imobilismo gerencial? Quando finalmente irá deslanchar? Dizer a que veio?
Nunca um governo gaúcho obteve tanta tolerância para com atos impopulares e recessivos como o atual. Nos seus dezesseis meses de gestão o governo Sartori congelou salários do funcionalismo; reduziu o número de cargos de confiança; contingenciou nomeações de concursados e as promoções dos servidores efetivos; aumentou impostos, contrariando o que havia prometido na campanha eleitoral; parcelou o pagamento dos salários dos servidores do Executivo; aumentou o limite da apropriação dos depósitos judiciais; suspendeu e atrasou o pagamento das dívidas para com fornecedores e prestadores de serviço; retardou os repasses para as prefeituras; e praticamente extinguiu os investimentos em obras de infraestrutura.
E o que resultou de tudo isso? Qual foi o custo-benefício? Praticamente nenhum. E o que já era ruim acabou ficando ainda pior. E justamente nas áreas de responsabilidade direta do Estado: Segurança, Educação e Saúde. Mas não parou por aí. Nossas rodovias tiveram seu estado de conservação agravados, a ponto de vários trechos serem comparados a um queijo suíço, tal a quantidade de buracos. Isso, num estado onde a economia está baseada no setor primário, que depende substancialmente dos corredores rodoviários para o escoamento da produção, é inconcebível.
É por isso que fica difícil de entender o pedido de apoio feito à população pelo secretário Feltes em artigo publicado recentemente num jornal de grande circulação regional. Nele o responsável por gerir as contas do Estado afirma que a busca de uma solução para a dívida pública – criada por governos inaptos, muitos deles do seu próprio partido, o PMDB – deve ser uma causa para todos os 11 milhões de gaúchos.
Como assim? Não basta o sacrifício diário da insegurança, do desemprego e da falta de perspectiva de melhora? O que além de más notícias e previsões catastróficas esse governo tem oferecido? O Rio Grande só não entrou em bancarrota por que a população não se deixou levar pela inércia e pelo pessimismo governamental. Porque os empresários, sejam eles pequenos ou grandes, produtores rurais e servidores públicos, teimam em acreditar na sua capacidade empreendedora e, ao invés de lamentar a má sorte e culpar o passado pelas suas dificuldades, como faz o governo, arregaçam as mangas e fazem do trabalho e da ousadia os caminhos para a superação das dificuldades.
Então é melhor que o governo, ao invés de pedir que os gaúchos façam mais do que já estão fazendo, resolva ele próprio a fazer a sua parte. A começar por colocar em plano secundário a demasiada preocupação com as contas do erário estadual, cujo único resultado prático tem sido o desmonte da máquina pública e a consequente perda de qualidade de vida da população.
Se vier a ajuda do STF vai ficar muito difícil para o governo Sartori manter a sua política do quanto pior, melhor. E sem as desculpas protelatórias o governo do Estado terá, obrigatoriamente, que prestar contas àqueles que lhe confiaram seus votos nas urnas. Será pois a hora da verdade, que como diz o ditado, tarda mas não falha.
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Sergio Araujo é jornalista e publicitário.
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