Paulo Freire

Paulo Freire

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Paulo Freire – Reprodução: Instituto Paulo Freire

Neste dia 31 de março de 2016, data em que se completa 52 anos do Golpe Militar brasileiro (chamado de revolução por seus defensores), as Escolas Libertadoras dedicam homenagem a Paulo Freire (1921-1997). Nascido em Recife (PE), o educador brasileiro é reconhecido mundialmente como um dos pensadores mais importantes da história da Educação, pelo compromisso com a libertação das classes oprimidas, mediante um trabalho que passa pela conscientização e envolve uma pedagogia dialógica, crítica e transformadora.

Paulo Freire construiu uma teoria do conhecimento que segue inspirando pesquisadoras e pesquisadores dos mais diversos campos de atuação no Brasil e no mundo. Recentemente divulgou-se que o seu livro Pedagogia do Oprimido está entre os 100 títulos mais pedidos pelas universidades dos Estados Unidos, de acordo com o projeto Open Syllabus, que reúne ementas de disciplinas de instituições de ensino superior em todo o país. Segundo oOpen Syllabus, o livro é requisitado em 1.021 ementas de universidades e faculdades dos EUA. Fica à frente de clássicos como Rei Lear, de Shakespeare; Moby Dick, de Herman Melville e O Banquete, de Platão.

Ditadura militar – Preso em 1964, Paulo Freire passou 70 dias em uma cadeia do quartel de Olinda (PE). Ao saber que era professor, um dos oficiais responsáveis solicitou que ele alfabetizasse alguns recrutas e o educador explicou que havia sido preso justamente porque queria alfabetizar.

Memorial Tortura Nunca Mais

Memorial Tortura Nunca Mais, no Recife, foi o primeiro monumento construído no país em homenagem aos mortos e desaparecidos políticos brasileiros e representa o corpo de um homem nu em posição da tortura
de pau-de-arara

Em 1980, depois de 16 anos de exílio, Paulo retornou ao Brasil para “reaprender” seu país, como afirmou na época. Lecionou na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em 1989, tornou-se Secretário de Educação no Município de São Paulo. A professora e coordenadora da Cátedra Paulo Freire da PUC-SP, Ana Maria Saul, integrou a equipe da Secretaria e  partilhou com ele o espaço da sala de aula durante quase duas décadas.

Segundo Ana Saul, a atuação do professor Paulo, em sala de aula, era discreta. Ele exercitava um dos saberes apontados no livro Pedagogia da Autonomia: saber escutar: “ouvia a todos atenta e respeitosamente e ficava à vontade para interferir, sempre que julgasse oportuno, ou quando alguém do grupo a ele se dirigia. Nesses momentos, ouvíamos sua voz mansa que revelava, porém, forte postura e convidava a pensar sobre os desafios que apresentava, na direção de uma leitura crítica do mundo, na defesa intransigente da ética do ser humano e da luta a favor dos oprimidos.” Outras informações, estão disponíveis no livro Paulo Freire: Contribuições para o ensino, a pesquisa e a gestão da educação, que pode ser acessado gratuitamente aqui.

Homenagens – Paulo Freire foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa em 39 universidades no Brasil e no mundo. Dezenas de instituições o elegeram como “Presidente de Honra” e uma escultura de pedra com a sua imagem foi esculpida em 1972, em Estocolmo, onde ele é representado na companhia de Mao Tsé Tung, Pablo Neruda, Ângela Davis, Sara Lidman e outras pessoas que lutaram contra a opressão. No Brasil, Paulo Freire, considerado patrono da Educação desde 2012, é uma referência crescente em trabalhos teórico-práticos. Ao receber prêmios, medalhas e títulos, ele costumava dizer que essas homenagens o desafiavam a continuar trabalhando.

No prefácio do livro Pedagogia da Esperança: Um reencontro com a Pedagogia do Oprimido, Leonardo Boff destaca que “a esperança […] implica uma denúncia das injustiças sociais e das opressões que se perpetuam ao longo da história. E ao mesmo tempo anuncia a capacidade humana de desfatalizar esta situação perversa e construir um futuro eticamente mais justo, politicamente mais democrático, esteticamente mais irradiante e espiritualmente mais humanizador”.

Marchas – Acompanhe aqui a um trecho da última entrevista do educador a respeito das marchas. “Eu morreria feliz se eu visse o Brasil cheio, em seu tempo histórico, de marchas. Marcha dos que não têm escola, marcha dos reprovados, marcha dos que querem amar e não podem, marcha dos que se recusam a uma obediência servil, marcha dos que se rebelam, marcha dos que querem ser e estão proibidos de ser…” Com inspiração em Paulo Freire, apoiamos as manifestações de estudantes secundaristas e de quem se posiciona contra o golpe e a favor da Democracia. Hoje as marchas estão sendo realizadas em todo o Brasil. Certamente Paulo Freire ficaria feliz. Há esperança do verbo esperançar.

Outras informações sobre Paulo Freire:

www.redefreireana.com.br

http://revistas.pucsp.br/index.php/curriculum/issue/view/525

www.paulofreire.org

 

Sobre Angélica Ramacciotti

Graduada em Jornalismo (UniSantos), educadora, mãe, feminista, mestra e doutoranda em Educação (PUC-SP). É pesquisadora pela CAPES e integra a Rede Freireana de Pesquisadores.




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