Parcelamento dos salários
Crise nas finanças do RS
Governo do Estado poderá antecipar pagamento da segunda parcela dos salários do funcionalismo
O depósito de mais R$ 1 mil na conta de quem teve o salário parcelado estava programado para o dia 13 de agosto
Por: Kelly Matos em 09/08/2015
O Governo do Estado poderá antecipar o pagamento da segunda parcela dos salários do funcionalismo estadual, previsto inicialmente para a próxima quinta-feira. As informações são do blog Cenário Político, da Rádio Gaúcha.
O anúncio sobre a antecipação, que ainda depende de avaliação do dinheiro em caixa, poderá ser feito nesta segunda. A parcela será de R$ 1 mil.
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Quem são os impactados pelo parcelamento de salários
Nos bastidores, a definição sobre a data exata do pagamento passa pela entrada de recursos do ICMS. Se o montante for suficiente, o governo pagará a segunda parcela dos salários antes da próxima quinta.
O depósito de mais R$ 1 mil na conta de quem teve o salário parcelado estava programado para o dia 13, conforme anunciado em entrevista coletiva pelo secretário da Fazenda.
Quando esta parcela for paga, 71% dos servidores estaduais estarão com os salários em dia.
A previsão é que a terceira parcela dos salários seja paga no dia 25 de agosto.
Quem são os impactados pelo parcelamento de salários
84,9% dos servidores do setor de segurança do RS sofreram com o corte anunciado na última sexta-feira pelo governador José Ivo Sartori. No total, 47,2% da folha de pagamento do governo gaúcho foi atingida pela medida
Entre os servidores mais afetados pelo parcelamento imposto pelo Palácio Piratini, estão funcionários públicos com salários acima da média, como auditores fiscais e procuradores — os mais bem pagos do Poder Executivo no Rio Grande do Sul. Confirmado na última sexta-feira, o fatiamento atingiu 100% dessas categorias.
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Em reportagem publicada em 23 de julho, ZH revelou que 304 funcionários da administração direta receberam rendimentos totais superiores ao teto de R$ 30,4 mil em junho, incluindo adicionais como abono de permanência, férias, vantagens eventuais e parcelas indenizatórias. Desses, 287 eram vinculados à Procuradoria-Geral do Estado (PGE) ou à Secretaria da Fazenda — que agora integram a relação dos atingidos pela decisão do governador José Ivo Sartori.
Outra parcela bastante prejudicada, embora não na totalidade, envolve duas áreas vitais para a população: a segurança e a educação. Profissionais de ambos os setores estiveram à frente dos protestos registrados na segunda, e paralisaram parte das atividades.
No caso da segurança, só 15,1% dos servidores foram pagos integralmente. Dos 41 mil vínculos da Brigada Militar, por exemplo, 78% tiveram os contracheques parcelados. Isso significa que somente 9 mil receberam o pagamento completo na sexta-feira. Já delegados da Polícia Civil e oficiais da BM, que ganham mais, enfrentaram a mesma situação vivenciada por auditores e procuradores.
Entre os professores estaduais, pelo menos 62% tiveram a totalidade da remuneração depositada em suas contas bancárias. Isso porque a maioria tem contrato de 20 horas semanais, o que faz com que os valores fiquem abaixo de R$ 2,1 mil, ponto de corte estabelecido pelo governo.
Outros 38% amargaram o parcelamento do salário. Ao todo, a medida atingiu 47,2% do Poder Executivo.
Gasto do governo do RS com pessoal se aproxima do limite
Até o final de 2015, a despesa do Executivo estadual com o funcionalismo chegará a 48,57% da receita, 0,43 ponto percentual do máximo permitido por lei. Se isso ocorrer, repasses federais podem ser cortados
O governo do Rio Grande do Sul está próximo de extrapolar o limite máximo degastos com pessoal permitido pela legislação. Até o fim de 2015, se as projeções se confirmarem, as despesas com o funcionalismo do Executivo atingirão a marca de 48,57% da receita corrente líquida — apenas 0,43 ponto percentual (ou R$ 133 milhões) abaixo do admitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Será o pior resultado desde 2003. Entre as consequências, estão a suspensão de repasses de verbas federais.
Rio Grande do Sul tem bilhões a receber de devedores
Estimado a partir de dados disponíveis no Portal da Transparência, o prognóstico se baseia nos critérios de cálculo do Tribunal de Contas do Estado (TCE), que excluem, por exemplo, os valores destinados a pensionistas. Na prática, a situação é ainda pior (leia abaixo).
Entenda a história do endividamento do Estado
No primeiro quadrimestre, o Piratini já superou o chamado "limite prudencial" (um degrau abaixo do nível máximo), ao comprometer 47,31% da receita com o pagamento de funcionários. Em razão disso, entre outras medidas, está proibido de ampliar horas extras e também de conceder reajustes sem determinação legal, judicial ou contratual.
Se chegar aos 49%, o cenário se agrava. Será a primeira vez que o índice será atingido desde 2001, na administração de Olívio Dutra (PT), quando a LRF entrou em vigor. O risco de isso acontecer ainda este ano, segundo o subsecretário do Tesouro do Estado, Leonardo Maranhão Busatto, é real.
Como o cofre das finanças secou
Em parte, conforme Busatto, a explicação passa pelos reajustes concedidos a profissionais da segurança pública no governo Tarso Genro (PT), parcelados até 2018. A próxima parcela está prevista para novembro, e o governo se comprometeu a pagar.
— Temos pouca margem de manobra. A receita teria de crescer mais do que a despesa para baixar o percentual, mas isso é muito difícil no cenário atual — diz Busatto.
Depósitos judiciais: uma saída de emergência usada até o limite
Caso o pior aconteça, o governo passará a ter oito meses para se ajustar. Entre as punições, está prevista uma multa ao governador José Ivo Sartori, no valor de quatro meses de salário.
— As consequências pelo descumprimento da LRF são graves. O governo precisa enxugar as despesas, mas não é só isso. Tem de olhar para o lado da receita e buscar fontes alternativas de financiamento. Uma delas é reforçar a cobrança da dívida ativa (débitos de pessoas e empresas com o Poder Executivo por não pagar impostos ou por questioná-los na Justiça) — ressalta o diretor-geral do TCE, Valtuir Pereira Nunes.
Como ZH mostrou em reportagem publicada na edição de 5 de julho, o passivo chega a R$ 36 bilhões, mas dois terços são considerados irrecuperáveis pelo governo. Restam R$ 11 bilhões a resgatar, dos quais R$ 9 bilhões são discutidos em ações que se arrastam na Justiça e R$ 2 bilhões estão em fase de cobrança administrativa.
Na avaliação do especialista em finanças públicas Darcy Francisco Carvalho dos Santos, não dá para contar com essas cifras no curto prazo. Uma das formas de evitar as sanções da lei, segundo ele, seria suspender os aumentos programados para novembro.
— É evidente que os policiais merecem ganhar mais. Os reajustes não são injustos. O problema é que não tem como o Estado fazer justiça nas atuais condições. Vai contra a capacidade financeira — pondera Santos.
Na última semana, sob fortes protestos, a Assembleia aprovou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que define o mapa financeiro do Estado para 2016. O documento prevê aumento de apenas 3% nos gastos com pessoal, o que cobrirá somente o crescimento vegetativo da folha, colocando em xeque os reajustes futuros.
Sindicato diz que "Estado quer culpar servidores"
A possibilidade de que os reajustes aprovados na gestão anterior sejam congelados é motivo de apreensão entre os servidores. Só este ano, a repercussão dos aumentos representará R$ 409,4 milhões a mais nas contas do Estado.
Há cerca de duas semanas, policiais civis e militares, agentes da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) e técnicos do Instituto-geral de Perícias (IGP) fizeram uma manifestação em frente ao Palácio Piratini para pressionar o governo. Com o Cpers-Sindicato, a maior parte do grupo voltou a se manifestar na última terça-feira, na votação da LDO.
— O problema do Estado não é o gasto com pessoal. É o sucateamento da receita. Só em benefícios fiscais se perde quase R$ 15 bilhões. Fora isso, existe a sonegação. O Estado deixa de arrecadar o que pode e quer culpar os servidores, mas a maioria ganha muito mal e merece reajuste, sim — diz o presidente doSindicato dos Servidores Públicos do Estado (Sindsepe-RS), Claudio Augustin.
O chefe da Casa Civil, Márcio Biolchi, evita polemizar. Reconhece que o quadro é preocupante, mas destaca que "não se trata de uma exclusividade" do Rio Grande do Sul — embora a situação gaúcha seja pior, em função da dívida pública com a União (R$ 50 bilhões), do déficit da previdência (R$ 7 bilhões ao ano) e do passivo com os precatórios (R$ 8 bilhões).
— Estamos fazendo um esforço tremendo para conciliar receita e despesa e faremos o possível para pagar os aumentos previstos para novembro, como fizemos com a parcela de maio — diz o secretário.
Em relação a 2016, os reajustes estão cada vez mais longe de se concretizar, em função dos termos da LDO, embora Biolchi e o governo não confirmem oficialmente. O adiamento das parcelas, no entanto, dependeria de aprovação na Assembleia.
Na prática, cenário é ainda mais crítico
Dependendo do tipo de cálculo adotado, o percentual de comprometimento da receita do Estado com o funcionalismo piora e muito. Na prática, o custo é maior.
Se for utilizado o critério da Secretaria do Tesouro Nacional, que leva em conta dispêndios desconsiderados pelo TCE (como pensões, auxílios, abono de permanência e Imposto de Renda Retido na Fonte), o governo gaúcho está acima do limite máximo desde 2012. No primeiro quadrimestre de 2015, atingiu o índice de 55,67% e já deveria estar sofrendo as sanções previstas em lei.
Tomando por base os gastos com o funcionalismo nos três poderes, sem restrições, o comprometimento do Estado chega a 75% da arrecadação. Este foi o índice divulgado pela Secretaria da Fazenda nas Caravanas da Transparência, que percorreram o Interior para escancarar a situação crítica do Tesouro estadual.
Diretor-geral do TCE, Valtuir Pereira Nunes discorda da conta e defende a forma de atuação da Corte, que, segundo ele, segue a mesma linha desde a entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal, em 2000.
— Os critérios do tribunal são os mesmos há 15 anos. Nesse período, todos os nossos pareceres foram aprovados na Assembleia e reconhecidos pela Secretaria da Fazenda — afirma Nunes.
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/07/gasto-do-governo-do-rs-com-pessoal-se-aproxima-do-limite-4805183.html