Prazo da BNCC está mantido
MEC reconhece alterar base curricular, mas afirma que prazo está mantido
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Alunos em escola estadual na região da Barra Funda zona oeste de São Paulo |
NATÁLIA CANCIAN DE BRASÍLIA
Após receber mais de 234 documentos com críticas e novas propostas à Base Nacional Comum Curricular, espécie de guia de referência sobre o que deve ser ensinado nas escolas públicas e particulares do país, representantes do Ministério da Educação admitiram nesta quinta-feira (9) que o documento deverá passar por mudanças. Mas negam que haja alteração nos prazos.
"Temos modificações, temos. Mas não é uma nova versão ou grande o suficiente para dizer que mexeu substancialmente na estrutura. São aperfeiçoamentos com a pluralidade necessária que o tema requer. É o documento mais complexo da educação em décadas", afirmou o secretário de educação básica do MEC, Rossieli Soares da Silva.
Segundo ele, as mudanças estão sendo feitas em parceria com o CNE (Conselho Nacional de Educação) e devem ser finalizadas antes da votação de parecer do órgão, prevista para dezembro.
Conforme a Folha divulgou nesta quinta, inicialmente, porém, o MEC mantinha um discurso de que a análise no âmbito do CNE deve ser limitada, e que cabe ao órgão emitir um parecer e uma resolução para implementação. O presidente do conselho, Eduardo Deschamps, nega que haja uma quarta versão, mas admite mudanças.
"O conselho está recepcionando os itens que o Ministério da Educação entende que possam ser feitos de aprimoramento. Isso vai gerar um documento final e normativo para aplicação pelas redes de ensino."
ENSINO RELIGIOSO
Uma das principais alterações é a volta do ensino religioso ao texto da base. Inicialmente previsto no documento, ele havia sido retirado na terceira versãoda base, entregue em abril ao CNE.
A justificativa na época era que, embora o ensino religioso constitua "disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental", a definição dos conteúdos cabe às redes de ensino, ou seja, aos Estados e municípios, e não à União.
A medida gerou críticas de entidades, que viram a retirada como retrocesso. A ideia inicial era que a base trouxesse diretrizes de como deve ocorrer a abordagem dos conteúdos, evitando imposição religiosa, por exemplo.
Agora, a pasta já admite que o ensino religioso volte a constar do documento. "Estamos trabalhando em uma proposta para que tratemos do ensino religioso dentro da base na versão final", afirmou Silva.
Segundo ele, o retorno ocorre tanto devido ao pedido de entidades quanto pela decisão recente do STF (Supremo Tribunal Federal), que afirma que a oferta deste tipo de ensino é constitucional.
Questionado se o modelo de ensino deve seguir a posição do STF, que abre espaço para ensino religioso "confessional" (vinculado a uma religião específica), o presidente do CNE, porém, afirmou ser "prematuro" ter uma definição nesse sentido.
"É prematuro dizer. Mas a interpretação original sempre foi na lógica do não confessional", disse Deschamps, que lembra que, apesar da oferta obrigatória, a matrícula no ensino religioso deve continuar optativa ao aluno.
OUTRAS MUDANÇAS
Além do ensino religioso, a base ainda deve passar por outros "aperfeiçoamentos", como um apoio maior para o uso de tecnologias em sala de aula e maior explicação sobre critérios de progressão em língua portuguesa. "Há um sentimento de consenso de que o Brasil deve avançar no uso de tecnologias, não só no uso, mas em como a juventude brasileira deve se relacionar com isso", diz Silva, do MEC.
Também deve haver mudanças na área de educação indígena e quilombola. O prazo de término de alfabetização no ensino fundamental é outro ponto em análise. Silva diz que a pasta mantém a "convicção" de que a alfabetização deve ser antecipada para o segundo ano. Ele admite, no entanto, que ainda há debate sobre o tema no conselho.
Outro ponto de divergência é o retorno de expressões como "identidade de gênero" e "orientação sexual". Trechos que citavam a necessidade de respeito a essas questões chegaram a constar do documento da terceira versão da base nacional curricular, mas foram retirados por pressão da bancada religiosa.
"Há um entendimento do conselho que o documento não trata de ideologia de gênero", disse Deschamps. "O cuidado que temos que ter é que seja um documento final que esteja claro do que se trata esses tópicos, respeitando os valores que cada um tem."
ATRASO
Prevista inicialmente para o segundo semestre deste ano, a base nacional curricular do ensino médio deve agora ser finalizada até fevereiro de 2018.
O novo prazo foi informado pelo secretário de educação básica do Ministério da Educação, Rossieli Silva. "Ela [base] virá ao Conselho Nacional de Educação no início de 2018. Nesse momento, estamos com total concentração para discutir a base da educação infantil e fundamental", disse.
Com a aprovação da lei que prevê a reforma do ensino médio, a previsão é que os conteúdos da base ocupem, ao menos, 1.800 horas da formação, ou cerca de 60% da carga horária total.
No período restante, o aluno poderá escolher entre cinco áreas para aprofundamento: ciência humanas, ciências da natureza, matemática, linguagens e educação profissional.
Questionado, Silva nega que o atraso afete os prazos para o início do novo ensino médio e diz que a análise deve ser mais rápida. "Já que o atraso é iminente, queremos fazer a entrega [ao Conselho Nacional de Educação] ainda no início de 2018", diz.
Segundo o presidente do Conselho Nacional de Educação, Eduardo Deschamps, a expectativa é que o documento seja analisado e aprovado até o fim do primeiro semestre.
"Se levamos sete meses para análise da base da educação infantil e ensino fundamental, que já incorpora aspectos do ensino médio nas considerações iniciais, quando chegar aqui, o prazo é encurtado, porque não vou precisar fazer uma análise tão complexa quanto foi com esse documento [do fundamental]", diz.
Com isso, a previsão para o início "total" do novo ensino médio é de até 2020, informa.