Outra greve, professor?

Outra greve, professor?

Professor Fabiano Vaz, da Escola Brigadeiro Sampaio, Alvorada


Engano seu, amigo. Não se trata de outra, mas a mesma greve de sempre, com os mesmos motivos, mesma origem na teimosa e histórica desvalorização do ensino público. É a mesma, está sempre lá, sufocada como assunto mal resolvido, e volta à tona sempre que o copo transborda com mais uma gota d’água. É a mesma, há muito não há avanços, temos lutado duramente para preservar conquistas históricas, que longe de serem privilégios, são pequenas compensações para uma carreira mal remunerada.

Tem sido assim, mas o atual governo é especialmente cruel com os servidores, a quem atribui todos os seus alegados problemas de caixa. Quer convencer a população de que há uma crise muito grave e que medidas amargas devem ser tomadas, como privatizações, enxugamentos, abandono de serviços estratégicos como financeiro, comunicação, energia e saneamento. Provoca o nosso desespero como espetáculo macabro para comprovar a crise, enquanto vai nos esquartejando vivos.

Como servidor público, cumpro com todas as minhas obrigações. Sou assíduo; atendo ao público com cortesia, respeito e eficiência, inclusive fora de meu horário de trabalho; zelo pelo patrimônio público; desempenho minhas tarefas com qualidade atestada em números e depoimentos. Já o governo não cumpre com vários dos compromissos para comigo. E não é só o atraso no pagamento do salário miserável. Não terminamos de receber ainda o 13º salário de 2016!!! Há três anos não recebemos um único centavo de reajuste. ZERO% de reajuste, enquanto a inflação devora o salário! As promoções previstas por mérito ou tempo de serviço não são pagas. O pacote de leis na assembléia prevê retirada de direitos que irão impactar negativamente os salários e aposentadorias. E outros direitos já foram arrancados.

Com tudo isso, ainda ouço que escolhi livremente esta profissão e se não estou contente, devo mudar de ramo. Abandonar a carreira? Não, obrigado. Não estou nessa por falta de opções. Estamos falando dos meus sonhos, de lutar pelo que acredito, da minha crença e militância por uma educação pública de qualidade, escolas bem equipadas e profissionais devidamente reconhecidos e remunerados. É um erro sugerir que os professores indignados se afastem do magistério. Se esta profissão virar subemprego, será exercida por subempregados que por desespero ou acomodação se submetam a condição degradante. As chances de piora na qualidade são evidentes.

Correr atrás, lutar pelos nossos sonhos, não é o que dizem?

Pois então, à luta!




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