O remédio amargo

O remédio amargo

O remédio amargo de Sartori vai dar dor de cabeça

Por Sergio Araujo

O ainda pouco conhecido José Ivo Sartori está incluindo em seu currículo mais uma característica ao seu estereótipo político: O sincericídio. Uma espécie de sinceridade fatalista. Trata-se de uma novidade em termos de administração peemedebista. Antes dele, as gestões do PMDB ficaram marcadas pelo imobilismo do governo Simon, pela prepotência do governo Britto e pela passividade do governo Rigotto. Mas excluindo essa comparação postural, qual deverá ser a marca do governo Sartori? O caos organizado? Aquele que na falta de planejamento virou plano de governo? Uma espécie de gestão às avessas? Do quanto pior melhor?

Para quem se surpreendeu com a sua eleição, a ponto de assumir dizendo que a ficha ainda não tinha caído, passar quatro anos no comando do governo do Estado é lucro. Ainda mais quando ele declara estar consciente de que com as medidas recessivas que está tomando e que ainda pretende ampliar, pensar em reeleição é algo impossível, se levarmos em conta o seu sincericídio. “Não tenho receio de pagar o preço político por atitudes que tomei para começar a mudar o Estado”, disse ele publicamente.

Mas a dúvida que fica é: Seu partido, o PMDB, também pensa assim? Será que os peemedebistas estão dispostos a ter mais uma passagem meteórica pelo governo do Estado? E os partidos da base aliada, estarão dispostos a repartir os prejuízos políticos? E o eleitor, que acreditou nas poucas promessas de Sartori, que pouco a pouco começam a ser desmentidas?

Óbvio que a incapacidade para resolver os problemas que impedem o desenvolvimento do Rio Grande não se prendem apenas as administrações peemedebistas. Nas quase três décadas e meia após o retorno das eleições diretas para governador passaram pelo governo do Estado o PT, duas vezes, o PP (na época PDS), o PDT e o PSDB. Nenhum deles conseguiu encontrar soluções para os entraves estruturais do Estado.

É preciso, por uma questão de fidelidade histórica, ressaltar que os governos Britto e Yeda bem que esboçaram algumas tentativas que no final se mostraram estéreis, quer pela arrogância dos seus proponentes, quer pela forçosa imposição de um Estado mínimo, o que os tornou inimigos do funcionalismo público, equívoco este que está se repetindo no governo Sartori.

Então, o que estamos vendo atualmente é mais do mesmo. Muito sacrifício (sempre para os mesmos), nenhuma criatividade e inovação, e, consequentemente, pouca visibilidade futura para a melhoria do Estado. A saúde, a segurança e a educação pioraram. A descrença com a classe política também. E muito. Nesse caso, com abrangência nacional. E a projeção negativa quanto ao futuro do Rio Grande passou a ser uma certeza. O desenvolvimento continuará sendo apenas uma miragem.

Mas e o que fazer para melhorar a situação? Qual o reflexo que esse caos trará às eleições municipais do ano que vem? Suicídio coletivo? Do PMDB e dos partidos da base aliada? Claro, pois não resta dúvida que mesmo que as medidas impopulares de Sartori deem resultado, coisa que até os seus correligionários duvidam, isso não acontecerá à curto prazo. Ao contrário da memória do eleitor, que estará bem avivada na hora dele digitar seu voto.

Ao potencializar suas medidas para tirar o Estado da grave crise financeira em que se encontra, a ponto de comparar a situação com a de um paciente com câncer que não irá se curar com Novalgina, Sartori esquece que uma prescrição equivocada ou dose excessiva de um remédio amargo, pode matar o paciente, no caso o já combalido Rio Grande do Sul.

Por isso causa espanto a afirmação do governador de que a crise não lhe atrapalha o sono. Talvez não o dele, que tem mais três anos e meio pela frente, mas certamente está causando muita insônia aos candidatos dos partidos que lhe apoiam e que irão disputar as eleições de 2016 e, principalmente, aos 11,2 milhões de gaúchos que viram seus sonhos se transformarem em pesadelos.

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Sergio Araujo é jornalista e publicitário.


http://www.sul21.com.br/jornal/o-remedio-amargo-de-sartori-vai-dar-dor-de-cabeca-por-sergio-araujo/




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