O Jogo na Educação
Há Algo de Extraordinário Acontecendo no Mundo — e Isso Muda Completamente o Jogo na Educação por André Camargo A Escola Tradicional não serve para os dias de hoje. As faculdades e pós-graduações também não. Estão preparando as pessoas para um mundo que não existe mais. Mas muita gente não quer enxergar. Quem já está trabalhando no novo paradigma, porém, deve colher os frutos do pioneirismo. Isso não é novidade. Já aconteceu antes. Foi como morreu a Educação Artesanal, alguns séculos atrás. Lembra quando você estudou isso — Como as pessoas trabalhavam e se educavam antes das fábricas? Os aprendizes compartilhavam o cotidiano dos mestres-artesãos, por longos anos, até aprender o ofício. Aprendiam fazendo. Foi a invenção da máquina a vapor que mudou essa história. As indústrias que nasciam precisavam de mão de obra numerosa, submissa e barata para operar as máquinas. E, depois, para as linhas de montagem. Os artesãos não tinham como competir com a produção em série. Começaram a desaparecer. Aos poucos, a Educação Artesanal, mestre-aprendiz, foi sendo substituída pela Instrução em Massa. Um professor para uma pancada de alunos. A aprendizagem formal foi deixando de acontecer nas oficinas. Foram construídos prédios só para a educação em massa. As crianças passaram a frequentar um mundo separado do cotidiano da comunidade. Nascia a Escola Industrial. Um lugar murado, com séries, disciplinas, grades, uniforme, avaliações, vigias, longas jornadas, horários apertados e sinais sonoros —como as indústrias. O lugar onde você e eu estudamos. Só que o mundo mudou. Radicalmente. Nos dias de hoje, de forma ainda mais rápida, é essa Escola Industrial que começa a agonizar. E surge um novo — e poderoso — paradigma para a Educação. A formação humana em rede. É dessas mudanças — do processo emergente de desescolarização da sociedade — que vou falar neste texto. A História mostra que a Educação nunca muda a partir de si mesma. As maneiras de educar mudam conforme se adaptam a transformações mais amplas. Os mundos do Trabalho e da Educação caminham de mãos dadas. Primeiro mudam os hábitos de trabalho, produção e consumo. Depois a Educação. É o que está acontecendo. Nossa mentalidade e nosso modo de vida estão se reorganizando rapidamente em torno das novas tecnologias de redes. Você reparou como muita gente hoje trabalha em casa (os home-office)? Ou nos Starbucks da vida? Ou em incubadoras e espaços de co-working? Ou praticam nomadismo digital — trabalhando online enquanto viajam pelo mundo? Não faz mais sentido pegar duas horas de trânsito para chegar até a empresa. E mais duas pra voltar. Nossas relações pessoais, por exemplo, tornam-se líquidas. (O que não é muito saudável, diga-se de passagem.) O mundo econômico caminha de um padrão de estímulo ao consumismo e à competição para o consumo consciente e colaborativo. O universo do trabalho também mudou. As gerações mais jovens não sonham mais com um bom emprego. Querem transformar seus sonhos em projetos, buscar parcerias, gerar impacto e fazer acontecer. Empreender. Documentários, simulações e cursos dos melhores professores e universidades do mundo estão disponíveis online. De graça. Por causa da internet, a tendência é dependermos cada vez menos de grandes instituições, como governo, universidades, empresas, corporações e mídia de massas, que detêm Poder na medida em que concentram recursos. O acesso a recursos pelo cidadão comum — a conhecimento, expertise, mão de obra, matéria-prima, equipamentos, infra-estrutura , meios de produção — nunca foi tão amplo. Quando pessoas comuns (empoderadas pelas tecnologias atuais) operam em rede, o poder é extraordinário. Pense na Wikipédia. Já ouviu falar de crowdsourcing, crowdfunding, crowdlearning e crowdliving? De Creative Commons? Das mobilizações políticas pelo Avaaz? Não dá para subestimar o poder de comunidades digitais de alto engajamento. As redes digitais mudaram a lógica, o equilíbrio de forças e o padrão de organização. Pare um pouco e pense nesta imagem aqui do lado esquerdo. Moral da História Atualmente, inteligências organizativas são ainda mais importantes que estruturas físicas. São novas formas de usar o que já está disponível — apenas mudando o olhar. Por outro lado, as grandes instituições que dominaram a Era Industrial são incapazes de se transformar no ritmo das mudanças atuais. São mastodontes. E, como apontou Darwin, o que não consegue se adaptar, perece. Já está acontecendo. Projetos e parcerias de pequeno porte são muito mais ágeis. São mais capazes de responder às demandas que surgem e se transformam o tempo todo. (Por isso, também, essa febre de Startups. Que, por outro lado, quando aspiram a se tornar muito grandes muito rápido, perdem toda a vantagem competitiva) A popularização das impressoras 3D, em alguns anos, vai causar outro salto monumental. A pessoa comum vai conseguir fazer muito mais coisa sem a intermediação de empresas e organizações. Hoje, a gente já é capaz de produzir, publicar e distribuir um livro sem depender de editoras ou livrarias. Agora imagine poder produzir o que precisa na sua casa. Ou na casa do seu primo. O jogo virou. E é para sobreviver nesse novo mundo, de desafios complexos e multifacetados — e não no mundo com que estamos habituados — que nossas crianças precisam ser preparadas. Porque é nesse mundo que elas já estão nascendo. Se a Escola é incapaz de formar pessoas para essa realidade emergente, porque seu DNA é industrial, como fazer? Já existem projetos e iniciativas que usam maneiras de educar crianças, jovens e adultos para esse novo mundo?
O futuro já chegou — só ainda não está distribuído por igual.
William Gibson
A Internet e as Mídias Sociais são nossa Máquina a Vapor
As questões que ficam são:
É o que respondo no próximo texto.