Momentos ocupados

Momentos ocupados

 

Bárbara Poliana Rodrigues Torres Versieux

 

Há 17 dias estamos ocupados. Ocupados e preocupados com o que mais nos "arrancarão". Aos poucos percebemos a instauração de um regime político perverso que pensa apenas em seus interesses. Que quer nos enfiar goela abaixo, medidas que irão prejudicar as minorias seriamente. Sabemos bem do que se trata, mas cabe relembrar quais medidas são estas: uma é a Proposta de Emenda constitucional, a PEC 241/55 e a outra é a Medida Provisória 746.

Ambas trazem à tona o real desejo deste governo ilegítimo, que resolveu atacar por todos os lados, e que quer se certificar que não restarão "brechas" para ascensão social dos pobres de plantão, pois sabemos que só através da educação isso é possível, pelo menos em sua grande maioria. As ocupações surgem na tentativa de fazer um apelo a estes políticos e mostrar que a comunidade estudantil, tanto secundarista como universitária, sabe o que está acontecendo e não aceita que seus direitos, conquistados com muita luta, sejam usurpados.

O desejo de ocupar se faz presente, dia após dia podemos identificar mais e mais escolas e universidades aderindo a esta nova modalidade de manifestação. As ocupações vieram pra valer e estão causando muita polêmica. Há quem as use para o bem, mas há também quem a julgue como um mal. Pessoas estão a deslumbrar e muitas outras a marginalizar o movimento, mas só quem está, de fato, dentro dele que é capaz de dizer o que ele é.

Eu, como participante ativa das ocupações na UFMG, mais precisamente na #ocupaFaE, posso dizer que não é fácil. Não pela convivência em si, que muito pelo contrário, tem trazido experiências incríveis, que muitos de nós em nossa trajetória inteira na faculdade nunca imaginaríamos vivenciar. São relações intensas e cheias de realidade. A troca está muito rica, há uma enorme preocupação em tratar assuntos pertinentes à conjuntura política e social, seja através de rodas de conversa ou debates. O conhecimento está sendo construído em conjunto e a relação entre alunos e professores está cada vez mais estreita. Claro que tensões estão presentes, somos humanos e as condições não são as melhores. Há muitas preocupações e indagações, mas muitas não podem/conseguem ser respondidas. Quem pode prever?

Posso dizer com alegria que, apesar de tudo, estamos em uma posição privilegiada, afinal a Faculdade de Educação está calejada, já presenciou muita luta. Desta forma, poder contar com professores que apoiam, no melhor sentido da palavra, é o que nos conforta. São verdadeiros "pais" pra nós. É emocionante vê-los chegando com sacolas recheadas, não só com alimentos, mas com gritos para que todos possam ouvir, "ESTAMOS COM VOCÊS!!" Tem sido tenso lutar, mas com a força que eles nos dão, certamente o caminho parece ter pedras a menos.

Enfim, o que causa tristeza imensa é saber que a educação que liberta é a educação que aprisiona. Estamos aqui lutando por ela e não vamos DESOCUPAR enquanto houver esperança. Sabemos que a educação não muda o mundo, quem muda o mundo são as pessoas, já dizia nosso sábio Freire. Assim, acreditar nas pessoas e naquilo que elas podem fazer é o que me dá força pra continuar. Meus momentos “ocupados” têm me tornado uma pessoa melhor e, certamente, tem provocado o mesmo em muitos outros. Desta maneira, não é possível dizer que tudo está perdido. Fazer dos limões uma limonada tem sido a tarefa daqueles que ainda acreditam na educação.

Eu acredito. E você? Rumo à #ocupatudo!

Bárbara Poliana Rodrigues Torres Versieux - Estudante de Pedagogia da Faculdade de Educação da UFMG

 

http://www.pensaraeducacaoempauta.com/momentos-ocupados 

 




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