Minha segunda catilinária
Cícero, o grande, fez quatro discursos contra Catilina. Cícero, o pequeno, ou seja, eu, também me sinto no direito de publicar quatro catilinárias. A primeira foi contra tudo e contra todos. Nesta segunda, investirei contra o Catilina brasileiro, o político esperto. Até quando, ó político esperto, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio? Essas frases são do Cícero original. As minhas começam agora. Até quando, ó político malandro, abusarás da nossa paciência dizendo uma coisa e pretendendo que entendamos outra? Até quando, ó político sem escrúpulos, ainda há de zombar de nós essa tua retórica barata?
A que extremos, ó político 171, se há de precipitar a tua audácia sem freios para inventar novos golpes e receber novas propinas? Até quando, ó político fajuto, abusarás da nossa paciência justificando tuas canalhices como consequência de um sistema perverso que ajudaste a montar? Até quando, ó político corrupto, vais relativizar os teus roubos alegando que os outros também roubaram? Até quando, ó político astuto, condenarás os roubos dos teus colegas e esquecerás que também te fizeste desviando dinheiro público ou recebendo propinas de empresas privadas para facilitar negócios com o Estado? Até quando, ó político verborrágico, enrolarás eleitores vulneráveis com tuas promessas que se apagam no dia seguinte ao das eleições? Até quando, ó político venal, te venderás por uma conta na Suíça?
A que extremos chegará a tua cara de pau para continuar?
Até quando, ó político sem convicções, defenderás ideias que não te pertencem e lerás na Constituição o que nela não está escrito apenas para satisfazer tua sede poder a qualquer custo? Até quando, ó político infame, mentirás, enganarás e roubarás como se fosse normal? Até quando te permitirás dar de ombros e dizer que sempre foi assim? Até quando chamarás de estratégia as tuas artimanhas para enganar os incautos e chegar aos teus fins odiosos? Até quando inventarás notas frias para ganhar diárias indevidas? Até quando inventarás viagens desnecessárias? Até quando manipularás odômetros? Até quando pedirás aos teus funcionários uma parte dos salários para o teu bolso ou para a caixinha do teu mandato ou da tua campanha? Até quando, ó político cretino, pensarás “meu pirão primeiro” e dirás “pelo bem do povo”?
Até quando, ó político politiqueiro, tramarás nas garagens, venderás teu voto e reclamarás que a mídia te persegue? Até quando, político ordinário, farás discursos em nome da transparência e acordos secretos? Até quando, político astuto, votarás em reformas políticas que pioram o existente fazendo crer que estás empenhando em salvar a lavoura e ampliar a democracia? Até quando, ó político canalha, tentarás nos convencer de que política é isso mesmo, jogo de cena, representação, faz que vai mas não vai, toma-lá-dá-cá, uma mão suja a outra e quem pede recebe? Nossa paciência está acabando. Será a tua desfaçatez eterna?
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