Meritocracia para sobreviver
Pesquisa: Mais pobres usam o discurso da meritocracia para sobreviver
Mais pobres adotam discurso da meritocracia para sobreviver, constatou pesquisa realizada pela Fundação Perseu nas regiões da periferia de São Paulo. Confira também os vídeos com aula pública do doutor em filosofia pela USP, Wolfgang Leo Maar, que discorre sobre a percepção política dos moradores dos bairros de periféricos de São Paulo.
Aula pública com Wolfgan Leo Maar sobre a pesquisa da Fundação Perseu Abramo divulgada em março deste ano
O povo brasileiro, constituído na sua maioria pelas camadas mais pobres do país, é um sobrevivente. São pessoas que adotam uma postura ativa e sabem o que querem e sabem do que precisam para seguir em frente na luta. E, justamente para sobreviver, esse povo adotou o discurso da meritocracia, como indica o estudo da Perseu Abramo sobre as percepções políticas da periferia de São Paulo.
Esta é a análise de Wolfgang Leo Maar, doutor em filosofia pela USP e professor da UFSCar, ao discutir se A Periferia de São Paulo é Liberal, na Aula Pública Opera Mundi. Para o pesquisador, é preciso contextualizar o atual cenário socioeconômico do país para compreender como é formado o imaginário político dos cidadãos.
Em síntese, a pesquisa publicada em março pela Perseu Abramo afirma que muitas pessoas da periferia são adeptas ao discurso da meritocracia, sendo também críticas em relação ao Estado.
“Sobre a pesquisa da Perseu Abramo, podemos dizer que deu a lógica. A opinião do povo é construída. Ou seja, as pessoas pensam conforme elas são condicionadas pela situação atual da sociedade brasileira capitalista, que tem um Estado que diminuiu a oferta de serviços públicos. Nas camadas populares, o Estado só aparece com firmeza apenas quando é por meio da polícia ou para arrecadar impostos. Logo, não é difícil imaginar que a periferia considere o Estado um adversário e faça a opção pela oferta de serviços privados. Para ter esses serviços, é preciso lutar e trabalhar, ou seja, mostrar mérito. Então, não é esquisito que as pessoas acreditem no discurso da meritocracia”, analisa Wolfgang Leo Maar.
Para Wolfgang, a vida social na periferia é um campo de disputa de narrativas. As pessoas são condicionadas a uma série de fatores, como a mídia ou as relações produtivas, que irão determinar os movimentos entre esquerda e direita. Portanto, não é possível caracterizar um pólo ideológico homogêneo entre os mais pobres.
“A periferia não é liberal. Ser liberal implica valorizar a liberdade do comprador e do vendedor. E, na verdade, a periferia valoriza a sua liberdade em muitas outras situações. Precisamos compreender que tratamos de um campo de disputas de narrativas”, conclui.
Confira vídeos da palestra do doutor em filosofia e professor da Ufscar Wolfgang Leo Maar
*Com informações da Fundação Perseu Abramo e Portal Vermelho