Maldade do governo
A maldade do governo com as novas regras da aposentadoria
Posted: 29 Sep 2016
Henrique de Campos Meirelles, atual Ministro da Fazenda (reprodução)
Dr. Rosinha*, Congresso em Foco
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem usado como exemplo o falecido pai, senhor Hesegipo, para defender a idade mínima para a aposentadoria. Diz ele que o pai se aposentou com 92 anos. Nada contra, se foi o desejo dele. Só não pode ser a regra para os demais brasileiros.
Meu pai faleceu sem se aposentar. Morreu aos 63 anos, sem saber quantos anos trabalhou. Nascido e criado na roça, trabalhou desde que se conheceu como gente. Trabalhou, por tanto, no mínimo 50 anos.
Para aqueles e aquelas que não sabem o que é trabalhar na roça, informo: é o trabalhador e a trabalhadora rural, que levanta antes de o sol raiar, toma só um gole de café, muitas vezes nada come e começa o trabalho de todo dia, muitas vezes emendando semanas, sem tirar um dia de descanso.
Começa cedo, tirando o leite das vacas, alimentando os animais e, depois, com uma enxada nas costas, machado ou foice, vai trabalhar na terra. Só volta com o sol se pondo. Esta foi a vida dele e de milhões de brasileiros e brasileiras, e continua sendo a vida de tantos outros milhões.
Muitos dos homens e mulheres que hoje têm mais de 50 anos e que vivem nas cidades trabalharam na roça. Eles não sabem a idade em que começaram a trabalhar porque, antes de ir para a escola – se é que havia escola próxima – tinham que alimentar os animais, buscar água na mina ou no poço, descascar e debulhar milho, etc. Era assim a vida de todos na roça, e hoje continua sendo para grande parte dos que ainda vivem na zona rural.
Na sua preleção, esqueceu o ministro de dizer que o pai dele foi advogado e político. Queria ver, só para ficar em dois exemplos, se ele tivesse sido trabalhador rural ou peão da construção civil. Será que chegaria aos 92 anos trabalhando?
O ministro parece ser um homem gozador. Diz ele que o pai se aposentou contra a vontade dele, Henrique Meirelles. Acho-o gozador até porque, numa entrevista à Folha de S.Paulo, em janeiro de 2003, questionado sobre a aposentadoria que gozava, reagiu dizendo que trabalhou e que tem direito. Concordo: todos que trabalham têm o direito à aposentadoria.
A questão é: quanto tempo tem que trabalhar? Quem se aposentou aos 57 anos de idade, como é o caso do ministro, tem moral para exigir que alguém que trabalhe na construção civil só pode se aposentar após os 65 anos de idade?
O jornalista Leonardo Sakamoto, dias atrás, publicou no seu blog a história de Jonas. Jonas, anos atrás, quando tinha 14 anos de idade, foi resgatado do trabalho escravo. Na Amazônia, ele trabalhava com outros “plantando” cerca de arame farpado. Se servia de um “pequeno açude, turvo e sujo” para matar a sede, cozinhar e tomar banho. Jonas, ao chegar aos 65 anos de idade, já terá trabalhado 50 anos.
É nesse Brasil que homens que usurparam o poder e foram aposentados (aposentadoria de US$ 750 mil anuais), como no caso de Meirelles, aos 57 anos de idade, e de Michel Temer, aposentado aos 55 anos, querem impor ao trabalhador a obrigação de trabalhar 50 anos para ganhar o direito de uma aposentadoria no valor de um salário mínimo.
Mas isso é antigo. A elite brasileira sempre agiu assim; aposenta-se cedo e exige do trabalhador e da trabalhadora a idade mínima. Para confirmar isso, trago aqui uma amostra divulgada pela Folha de S.Paulo (que é anti-PT), de 12 de maio de 1998.
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Informa o jornal que Reinhold Stephanes, ex-ministro da Previdência, aposentou-se aos 47 anos; Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), ex-líder do governo FHC na Câmara, aposentou-se (proporcional) aos 43 anos; Gustavo Krause, ex-ministro do Meio Ambiente, aposentou-se aos 51 anos; Francisco Weffort, ex-ministro da Cultura, aos 58; e, finalmente, Edmar Bacha, um dos pais do Real, aposentou-se com 56 anos de idade.
Só pode propor isso quem não conhece a realidade do trabalhador e da trabalhadora do Brasil. Ou, se então conhece, faz mesmo por maldade e desumanidade.
*Dr. Rosinha é médico, com especialização em Pediatria, Saúde Pública e Medicina do Trabalho, destacou-se como líder sindical antes de se eleger vereador, deputado estadual e deputado federal. Também foi presidente do Parlamento do Mercosul (Parlasul).