Mães adolescentes no RS
Renda inferior e fora da escola: pesquisa traça perfil e dificuldades de mães adolescentes no RS
Da Redação*
Uma análise feita pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) aponta que das crianças e adolescentes, entre 10 e 19 anos, do Rio Grande do Sul, 4,12% têm filhos. Já no Brasil, o percentual é de 5,80% do total. Os dados foram analisados pela pesquisadora em Sociologia da FEE Carina Ribas Furstenau a partir das informações extraídas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2014 (PNAD-2014).
O levantamento revela também que a renda familiar per capita média das adolescentes do Estado nessa faixa de idade e com filho é 37,29% inferior a daquelas que ainda não são mães. De acordo com o estudo, elas têm renda média de R$ 570,14, enquanto entre aquelas que não têm filho sobe para R$ 909,13.
Os dados analisados pela pesquisadora da FEE apontam, ainda, uma elevada representação de negras e pardas entre as jovens com filhos, tanto no Rio Grande do Sul quanto no Brasil. No Estado, o índice é de 36,41%, e no país, o percentual alcança 69,08%.
Quanto à educação, Carina avaliou que o quadro é muito preocupante, a partir das informações fornecidas pela pesquisa. Das adolescentes gaúchas com filhos, somente 36,75% estão na escola. No país, essa média é ainda menor: 30,86%. “Em relação à educação, percebe-se o impacto negativo sobre a frequência escolar nas adolescentes com filhos: mesmo fazendo a proporção para as jovens menores de 17 anos, período em que obrigatoriamente deveriam estar em atendimento escolar, os números impressionam”, observou ela, em um dos trechos da análise
No que se refere à proporção de adolescentes no mercado de trabalho, 30,18% das jovens gaúchas que têm filhos trabalham, enquanto entre as que não são mães, somente 19,75% estão empregadas.
Baixa incidência
Em sua avaliação, a pesquisadora em Sociologia da FEE subdividiu a faixa dos 10 a 19 anos em duas (10 aos 14 anos e dos 15 aos 19 anos) para avaliar as diferenças da gravidez em termos de saúde e educação. Contudo, frisou ela, os números não permitem fazer uma análise mais profunda do perfil socioeconômico dessas adolescentes. A menor incidência da gravidez nas faixas etárias mais baixas se reflete tanto no Rio Grande do Sul quanto no Brasil. “Numa ótica de saúde e educação especialmente, pode ser interpretado como um resultado positivo”, observou Carina, sobre esses dados.
Na análise, a pesquisadora ressaltou que, em termos gerais, a gravidez na adolescência tanto no Brasil quanto no Rio Grande do Sul está associada às jovens de renda e de escolaridade mais baixas. “A gente verifica que os dados acabam por confirmar a literatura”, diz. “O Brasil é uma média de todas as regiões, o Rio Grande do Sul está menos pior que o Brasil”, comparou ela.
Em sua conclusão, a pesquisadora defendeu que a questão precisa ser analisada multidisciplinarmente para a compreensão dos fatores que interferem na ocorrência de uma gravidez na adolescência. “Essa é uma questão que tem de ser acordada de forma multidisciplinar”, reforçou Carina. A partir dessa análise, segundo ela, será possível elaborar políticas públicas e programas que contemplem aspectos educacionais, culturais e de formação profissional com o fim de criar novas alternativas às adolescentes.
Campanhas de prevenção
A pesquisadora da FEE defendeu, ainda, mais campanhas de prevenção à gravidez na adolescência, ao mesmo tempo que reconhece que iniciativas nesse sentido, por vezes, geram polêmica, já que muitos interpretam como incentivo à atividade sexual. “É melhor que faça de forma mais segura, mais informativa”, argumentou Carina, acrescentando que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem ofertado métodos contraceptivos.
Perfil das crianças e adolescentes, de 10 a 19 anos, no Rio Grande do Sul e no Brasil
Rio Grande do Sul Brasil
C/filho | s/ filho | C/filho | s/ filho | |
Renda per capita média | R$ 570,14 | R$ 909,13 | R$ 412,27 | R$ 700,84 |
Proporção de negros e pardos | 36,41% | 24,35% | 69,08% | 57,56% |
Proporção de estudantes | 22,24% | 85,79% | 20,51% | 14,09% |
Proporção de trabalhadoras | 30,18% | 19,75% | 22,97% | 14,09% |
Total | 33.476 | 779.918 | 950.023 | 15.417.753 |
*Com informações da FEE