Desescolarização
Saiba como funciona a desescolarização
Modelo de educação tem sido uma opção de pais que querem priorizar as experiências do cotidiano
Se uma “escola livre” não surgir a tempo, Juliana e Antonio Alberto pretendem seguir educando Lucano, quatro anos, em casa Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS
Para educar a filha, Júlia, 14 anos, o bibliotecário porto-alegrense Celvio Derbi Casal, 34 anos, optou pela desescolarização. Surgida no final da década de 1960, a proposta educacional ganhou impulso em 1971, com a publicação do livroSociedade Sem Escolas, de Ivan Illich, que critica as instituições escolares, sob o argumento de que monopolizam os recursos de aprendizado e desincentivam o desenvolvimento da autonomia de aprender e de ensinar fora delas.
– A escola, ao impor de forma homogênea a todos os alunos um currículo predeterminado, projetado sem a presença da pessoa à qual ele se destina e sem considerar seus interesses e particularidades, desrespeita a diversidade de modos de vida e leituras de mundo, estabelece um único formato considerado correto de aprender e submete as crianças a um método de controle disciplinar – afirma Celvio.
Mestre em Pediatria, a educadora e terapeuta ocupacional Juliana Corullón, 37 anos, também optou pela desescolarização para Lucano, quatro anos. Segundo ela, o método prioriza as experiências do cotidiano, da família e da comunidade, “para que o aprendizado seja dotado de significado e afetividade”, além do desenvolvimento da autonomia da criança:
– Isso significa respeito ao tempo, ao desenvolvimento particular e ao entendimento sobre suas emoções e seus sentimentos. A criança aprende a se autorregular, importante para vivermos em sociedade.
Integrante de um movimento que visa à criação em Porto Alegre de uma “escola livre”, Juliana diz que, se a instituição não entrar em funcionamento a tempo de matricular o filho, pretende mantê-lo em casa, no sistema educacional que vem aplicando desde os primeiros passos do menino.
– Agora ele está interessado por letras e números. Ele identifica as vogais e conta tudo com números o tempo todo – revela.
O cientista social e pesquisador em educação Guilherme Schröder afirma que, na desescolarização, “as pessoas criam o seu próprio percurso curricular”.
– A desescolarização é um questionamento profundo sobre a educação. Já temos provas científicas para dizer que o atual método escolarizado não funciona, com aulas que não ensinam e avaliações que não avaliam. O método é falho por não representar a vontade dos estudantes – diz.
Filha da filósofa e pesquisadora paulistana Carla Ferro, a menina Gaia, sete anos, não frequenta a escola. Segundo a mãe, ela lê e escreve desde os quatro anos, sem ter sido alfabetizada por alguém.
– Certa vez, perguntaram a ela “quem te ensinou a ler e a escrever?”. Ela respondeu que foi o tempo. Aquilo foi esclarecedor. Conheço crianças de nove anos que não escrevem. É importante respeitar o tempo delas, desde que, claro, sejam cercadas por ambientes ricos em recursos – diz Carla, que está escrevendo um livro sobre aprendizagem sem ensino e desescolarização.
Conheça os famosos que optaram pelo homescholling
- Por razões diversas, não são raras as famílias que optam por educar diretamente os seus filhos. No Brasil, um caso conhecido é o da família Schurmann, famosa por velejar ao redor do planeta. Durante as longas jornadas transoceânicas, cabe ao casal
Wilfredo e Heloisa ensinar os filhos. “Levamos a bordo enciclopédias, dezenas de livros de literatura e todo o material didático necessário”, narra a navegadora, no site que descreve as aventuras da família pelo mundo. “Quando partimos em 1984, o barco estava pesado. Mas o que realmente mais pensava era nossa consciência: havíamos tirado nossos filhos da escola!”
- Pais de seis filhos (três biológicos e três adotivos), com quem levam uma vida nômade – entre filmagens e ações humanitárias –, Angelina Jolie e Brad Pitt são adeptos da educação domiciliar. Em 2011, em entrevista ao jornal britânico Daily Mail, a atriz explicou por que preferia contratar tutores para ensinar as crianças em sua casa em vez de matriculá-las em escolas:
– O sistema de ensino americano não condiz com nosso modo de vida e não fala a mesma língua de nossos filhos. Em vez da palhaçada que as salas de aula são hoje, prefiro ir com eles a um museu ou ensiná-
los a tocar violão.