Silêncio com os crimes

Silêncio com os crimes

O conivente silêncio com os crimes

 

Até pouco tempo atrás, a luta pela democratização da mídia tinha como principal objetivo se opor ao oligopólio, formado por menos de uma dezena de famílias, que controlam os meios de comunicação no país. Se este motivo já era suficiente para exigir do governo uma lei de mídas, indispensável para a consolidação da democracia brasileira, a ele juntou-se outro: combater o principal foco de difusão das ideias mais reacionárias,  anti-sociais e a conivência, com seu silencio, com praticas criminosas que deveriam ser investigadas.

Sobre a brutal violência com que o governador tucano do Paraná, Beto Richa, promoveu contra os professores e funcionalismo público, o jornal O Estado de S. Paulo não hesitou em culpar as próprias vitimas da insana repressão policial. Os milhares manifestantes foram rotulados de “partidários” e “selvagens” e,  portanto, “não se poderia esperar outra reação da força de segurança destacada”, escreveu em editorial.  O uso de balas de borracha, gás lacrimogêneo, cães, bombas de efeito moral e helicópteros, resultou em quase 200 feridos, alguns em estado grave. Para o jornal paulistano, diante dos servidores públicos, mobilizados em defesa dos seus direitos já adquiridos, a policia militar só poderia ter agido da forma que agiu. Nada é mais esclarecedor da visão de mundo que tem esse jornal.

Há tempos, a mídia empresarial nativa – é um acinte  chama-la de brasileira -  não se pauta mais pela realidade dos fatos e, muito menos, adota um comportamento ético em seu jornalismo. Assassinato de reputação, prática vexaminosa da revista Veja, seguidamente exposta pelo jornalista Luís Nassif, parece ter feito escola e, sentindo-se impune, não encontra mais limites. Denuncismo sem provas, divulgação seletiva e um silêncio conivente com as falcatruas dos aliados, são as principais características da mídia brasileira nos dias de hoje.

Será que é inexplicável  ter sumido do noticiário o caso dos 450 quilos de pasta de cocaína apreendida no helicóptero da família Perrella, aliada politica do senador tucano Aécio Neves? Não é inexplicável. Faz parte do conluio. Inexplicável, e vergonhoso, é o governo Dilma e, principalmente, seu ministro da Justiça, que se vangloriam de ter uma Policia Federal republicana, não dar nenhuma resposta para a sociedade  sobre esse caso.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, detentor de generosos espaços na mídia para divagar suas ideias – agora flertando com o golpismo de Estado ao defender o  impeachment da presidenta Dilma Rousseff – sofre uma verdadeira blindagem da mídia. Coube ao jornalista Ricardo Melo, nessa semana, perguntar: “Fernando Henrique Cardoso vive do quê? O príncipe que virou sapo, tão logo deixou o Alvorada, foi morar num apartamento que pertencia a uma família de banqueiros. Diz que comprou a preços módicos...” sobre isso, um silencio sepulcral na mídia, que não existiria se o comprador do imóvel fosse o presidente de 2003-2010.

Qual seria o comportamento da mídia se soubesse que numa repartição publica de um governo petista há denuncias de corrupção e casos de pedofilia? O jornalista James Alberti, da RPC TV, fez uma reportagem onde denunciou a existência de uma rede de corrupção e pedofilia dentro da Receita Estadual do Paraná, envolvendo pessoas muito próximas e parentes  do governador tucano Beto Richa. Hoje o jornalista está ameaçado de morte. Silêncio, na mídia burguesa.

Há outros silêncios coniventes da mídia oligopolizada em nosso país. As fortunas escondidas no banco HSBC, na Suíça, para fugir da tributação brasileira (ou por que não tem origem comprovada?) inexistem para a mídia da família Marinho. A operação Zelotes, da Policia Federal, onde é estimado a sonegação de 19 bilhões de reais em impostos, foi jogada no buraco negro das praticas criminosas das elites desse país. A organização Tax Justice Network, sediada em Londres, estima que, em 2010, o Brasil perdeu 280 bilhões de dólares em impostos por causa das fortunas depositadas em paraísos fiscais.

E o que dizer do silêncio de algumas práticas do juiz, do Ministério Publico Federal  e da Policia Federal que conduzem a investigação sobre a corrupção existente na esfera da Petrobrás? É sempre elogiável, seja o governo que for, combater a corrupção e punir seus responsáveis.

Como explicar que o ex-gente da PF Jayme Alves de Oliveira Filho, o “Jayme Careca”, depois de ter sido preso e ter denunciado que o senador tucano Anastasia  recebeu R$ 1 milhão, foi posto em liberdade e hoje está foragido? Os empresário libertados na semana passada,  por ordem do STF, estão  prisão domiciliar com tornozeleiras  eletrônicas.  E o Careca, juiz Moro?

Manter prisões dos suspeitos por tempo indeterminado com o objetivo de coagir para obter uma delação “voluntária” mostra apenas uma sede de punir a qualquer custo, e não de fazer justiça.

Sabe-se agora que ao assinar a deleção premiada, o doleiro havia se comprometido em colaborar para esclarecer casos de corrupção envolvendo o tucano Aécio Neves, em estatal do setor elétrico. O delator não cumpriu o acordo e  a valorosa equipe de investigação, parece, não mostrou interesse pelo caso.

Caberia ainda, ao juiz Moro, usar parte do tempo que ocupa nos noticiários da rede Globo, para como é possível o doleiro Alberto Youssef ter sido agraciado com duas delações premidas. A primeira foi em 2006, no caso Banestado – engavetado sem punir ninguém. E agora com a operação lava-jato. As duas delações firmadas pelo mesmo juiz, Sergio Fernando Moro – ganhador do prêmio “faz a diferença”, dado pela Globo. Haverá no troféu a inscrição: “tudo a ver...”?

Após três mandatos está evidenciado que os governos petistas são incapazes de promover uma lei de mídias, que nos coloque, nessa questão,  ao mesmo nível de países como o Reino Unido, Argentina ou Estados Unidos. Restará as mobilizações populares, como as da “descomemoração dos 50 anos da Globo” exigir isso nas ruas.

BRASIL DE fATO




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