Educação no campo
Educação no campo, um desafio de todos
"Quando avaliado o universo total das unidades rurais públicas, 18% delas ainda não têm água filtrada e 14,7% não dispõem de esgoto sanitário", afirma Rui Castro
Fonte: A Gazeta (MT) 07 de abril de 2015
A escolarização rural no Brasil vai muito mal, para não dizer desastrosa. Tomei conhecimento de um estudo intitulado "Escolas Esquecidas", responsável por traçar um raio-X das unidades rurais do país a partir do Censo Escolar de 2012, do Ministério da Educação, e fiquei impressionado com alguns números desvendados no material.
Conforme a tabulação elaborada pelo Instituto de Pesquisas Sociais e o Agronegócio, em parceria com o Observatório das Desproteções Sociais no Campo, a população rural brasileira dispõe de 75.678 escolas públicas, das quais 508 são consideradas "esquecidas". O adjetivo usado na pesquisa diz respeito aos critérios balizadores: abandono escolar com índices superiores a 5% e taxas de aprovação inferiores a 80%, além da ausência de uma série de itens essenciais ao aprendizado, como livros e tecnologia da informação.
Quando avaliado o universo total das unidades rurais públicas, 18% delas ainda não têm água filtrada e 14,7% não dispõem de esgoto sanitário. E acesso à literatura? Neste quesito, a situação fica bem mais crítica. São 88,5% das unidades públicas do campo sem uma biblioteca. Diante desse último índice, fica mais "fácil" admitir o inadmissível - enquanto habitante de um mundo digital e globalizado: 61% das unidades rurais não têm computadores e 52%, aparelhos de TV.
A realidade das Escolas Esquecidas não está em todo país. Concentra-se, maciçamente, nas regiões Norte e Nordeste, e Mato Grosso é o único estado representante do Centro-Oeste nos tristes indicadores, conforme a pesquisa. Justamente o maior produtor rural do país, campeão de grãos, rebanho bovino, algodão e peixes de cativeiro! Como não se impactar com essa realidade?
O setor produtivo de Mato Grosso, responsável por 50% do Produto Interno Bruto do Estado, está preocupado com a formação educacional de sua população sim! Uma região que produz tantas riquezas não pode alijar seu povo do acesso ao bem imaterial mais importante de transformação. A garantia constitucional da educação gratuita e de qualidade precisa de fato acontecer e os meios para se chegar a ela devem ser exaustivamente debatidos, bem como uma constante preocupação de todos, entes públicos ou privados.
A qualidade do trabalho no campo e a manutenção daqueles que lá vivem passam, essencialmente, por uma formação educacional digna. A riqueza de Mato Grosso é produzida em seus milhares de hectares de terra plantada, com uma agricultura em larga escala, ou habitada por animais para o abate, com a pecuária de corte expressiva, atividades que carecem de mão de obra qualificada para ampliar ainda mais essa riqueza.
Um profissional bem-sucedido do agronegócio é, certamente, uma pessoa que teve formação educacional de qualidade, o que não está exclusivamente ligada à educação superior, mas pode estar diretamente relacionada à base dos estudos. E são esses os profissionais que o setor produtivo quer contar em seus quadros! Sendo assim, nada mais pertinente do que entrar na discussão e na luta pela defesa da educação de qualidade para os mato-grossenses.
O setor também contribui para a qualificação profissional do homem do campo, diretamente pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, entidade que completa aniversário hoje em Mato Grosso, a qual tenho o orgulho de presidir. O Senar já prestou atendimento, ao longo dos 22 anos de existência no Estado, a mais de 700 mil pessoas por meio de seus cursos e treinamentos de Formação Profissional Rural e programas como o Mutirão Rural da Cidadania.
Suas atividades são realizadas em todos os 141 municípios de Mato Grosso, através das parcerias com os sindicatos rurais e as prefeituras, proporcionando acesso a todos que no campo estão trabalhando e lá querem permanecer, mas cada vez melhor preparados, de forma gratuita. A entidade atende a 15 cadeias produtivas no Estado com o oferecimento de mais de 150 treinamentos. Por mês, são cerca de 56 mil horas de aula.
O Senar também inova em Mato Grosso quando propõe e traz para o setor produtivo, por meio do evento Cresce-MT, que será realizado no próximo dia 14, a discussão sobre os rumos econômicos e políticos que o Estado pode tomar a partir do momento em que o olhar sobre a educação for de fato como ela merece.
Comemoro, assim, a atuação do Senar no Estado, assim como a do setor produtivo, para que Mato Grosso possa cada vez mais crescer e desenvolver-se.