Cpers aprova desfiliação da CUT

Cpers aprova desfiliação da CUT

Em assembleia tumultuada, Cpers aprova desfiliação da CUT

(Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Por um placar de 1.588 votos a favor e 1.129 contra, os professores aprovaram a desfiliação da CUT. Ao total, foram 2.723 votantes – seis foram nulos ou brancos. A entidade tem cerca de 80 mil filiados. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Jaqueline Silveira

A primeira assembleia dos professores sob o comando da nova direção do Cpers/Sindicato realizada na tarde desta sexta-feira (27), no Gigantinho, foi marcada por uma disputa acirrada entre situação e oposição quanto à desfiliação ou não da entidade da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Depois de um embate com ataques de ambos os lados, foi feita a votação em urnas instaladas no local. Os defensores do desligamento da CUT, que reuniu integrantes das duas chapas derrotadas na eleição do ano passado do sindicato, levaram a melhor. Por um placar de 1.588 votos a favor e 1.129 contra, o Cpers está desfiliado da CUT. Ao total, foram 2.723 votantes – seis foram nulos ou brancos. A entidade tem cerca de 80 mil filiados. “Por enquanto, o Cpers fica livre, mas nós vamos trabalhar para com certeza voltar para a CUT”, avisou a presidente Helenir Aguiar Schürer, após o resultado, que foi muito comemorado pelo outro lado.

O debate em relação à desfiliação começou antes mesmo da assembleia. Do lado de fora do Gigantinho, os grupos de camisetas amarelas – a favor da desfiliação da CUT – e vermelhas – defensores da permanência na Central – faziam o corpo a corpo com os professores que iam chegando ao local. Dois carros de som também foram usados para conquistar o apoio dos mestres. No embate, um tentava abafar a voz do outro. Também havia frases que davam o tom da disputa: “Desfiliar o Cpers Já!” e “A luta do professor é mais forte com a CUT”.

Partidários da desfiliação da CUT festejaram resultado no final da Assembleia. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)Partidários da desfiliação da CUT festejaram resultado no final da Assembleia. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Dentro do Gigantinho, a divisão ficou mais clara ainda: de um lado os de camiseta vermelha e de outro, os que usavam a cor amarela. Também acirrou a rivalidade entre os grupos. “CUT, CUT”, gritava um lado. “Fora, CUT”, respondia o outro. Na hora em que começaram as manifestações de abertura da assembleia, antes de a proposta de desfiliação entrar na pauta, ecoaram vais dos representantes da situação e da oposição, dependendo de quem estivesse ao microfone. O vice-presidente da CUT-RS, Marizar Melo, foi interrompido pelo menos três vezes ao defender a unidade dos trabalhadores e afirmar que a categoria não podia eleger “inimigos aqui dentro”, uma vez que o inimigo comum é o governador José Ivo Sartori (PMDB). “Podem vaiar que vou continuar falando”, desafiou o sindicalista.

Depois dos pronunciamentos, foi colocada em votação se a proposta de desfiliação da CUT seria votada na assembleia ou se a discussão ficaria para mais adiante, como já havia decidido o Conselho Geral em reunião na noite da última quinta-feira (26). O braço levantado do grupo de amarelo prevaleceu e o tema polêmico foi para a pauta. Então, foi definido que três professores a favor e três contra se manifestariam. Os contrários à CUT argumentavam que a Central está do lado do governo Dilma Rousseff e não tem defendido os interesses dos trabalhadores. Por outro lado, os pró-Central sustentavam que o Cpers ficaria enfraquecido e isolado para lutar pelas suas pautas perante o governo Sartori.

A ex-presidente do Cpers/Sindicato Rejane Oliveira, que perdeu a eleição para atual direção, acusou a CUT de abrir mão dos direitos dos trabalhadores e ficar a favor do governo Dilma. Também afirmou que durante seu comando, o Cpers contribuiu com R$ 128 mil para a Central Única dos Trabalhadores e que a entidade não deu respaldo nem com ônibus ao sindicato nas suas mobilizações e que, além disso, no Conselhão do ex-governador Tarso Genro (PT), a entidade teria defendido a alteração no plano de carreira da categoria. “É inadmissível que uma Central defenda a retirada do conjunto de direitos da classe trabalhadora”, cutucou Rejane.

 “Os mesmos que discursam hoje, são os mesmos que carregavam a bandeira da Conlutas (Central Sindical e Popular) e não carregavam a bandeira do Cpers. São os mesmos que fizeram a categoria recuar de forma irresponsável”, criticou Helenir Aguiar Schürer, presidente da entidade. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Já a atual presidente do Cpers pregou a unidade da categoria com o fim de lutar pelo piso do magistério e enfrentar a política adotada pelo governo Sartori com “ameaça” de parcelamento de salários e o corte de 30% no orçamento da Educação. Ela fez duras críticas à antiga direção do sindicato que, de acordo com ela, “fez greve pela greve”. “Os mesmos que discursam hoje, são os mesmos que carregavam a bandeira da Conlutas (Central Sindical e Popular) e não carregavam a bandeira do Cpers. São os mesmos que fizeram a categoria recuar de forma irresponsável”, alfinetou ela.

Comando do sindicato apresenta resultado da auditoria

Enquanto era feita a apuração dos votos, o restante da pauta e de informes foi tocado. Na oportunidade, o atual comando do Cpers/Sindicato apresentou aos participantes da assembleia o resultado da auditoria contratada para analisar a gestão anterior da entidade e que abrangeu o período entre 2011 e 2013.

O relatório apontou, entre outras supostas irregularidades, despesas financeiras incompatíveis com a arrecadação e a finalidade da entidade, doações irregulares a entidades sindicais com depósitos em nome de pessoa física sem recibo, doações a pessoas físicas sem a comprovação de finalidade e omissão do registro de valor relativo às contribuições previdenciárias parceladas. Os ex-integrantes da direção negam qualquer problema. O resultado foi enviado ao Conselho Fiscal do Cpers e aos núcleos do interior do Estado, conforme Helenir. Também foram solicitados esclarecimentos à gestão anterior.

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Uma das poucas unanimidades entre oposição e situação durante a assembleia foi quanto as 10 reivindicações sobre o salário. Todos concordaram. Entre os pontos defendidos, está o pagamento do piso do magistério como básico da carreira: 13,01% de imediato e 34,6%, percentual que falta para integralizar o valor, e a criação do piso nacional aos funcionários de escola.

 Assembleia aprovou uma paralisação para o dia 7 de abril, para avaliar o impacto na educação dos 100 dias dos governos Sartori e Dilma. No dia 24 de abril, o Cpers fará um ato em defesa do pagamento do piso do magistério. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)Assembleia aprovou uma paralisação para o dia 7 de abril, para avaliar o impacto na educação dos 100 dias dos governos Sartori e Dilma. No dia 24 de abril, o Cpers fará um ato em defesa do pagamento do piso do magistério. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Atos de mobilização  da categoria

Já em relação aos atos de mobilização houve algumas divergências, principalmente quanto à participação do Cpers no dia 1° de maio, Dia do Trabalho, em ações promovidas pelas centrais sindicais. Depois de duas votações e alguns bate-bocas foi aprovada a adesão do sindicato nesses atos. Também foi aprovado que dia 7 de abril será feito uma paralisação para avaliar o impacto na educação dos 100 dias dos governos Sartori e Dilma. No dia 24 de abril, o Cpers fará um ato em defesa do pagamento do piso do magistério.

A assembleia durou quase quatro horas com muito bate-boca, disputa do microfone, ânimos alterados e muitas vaias dos dois lados. Encerrado o encontro, uma comitiva do CPERS foi até o Palácio Piratini e entregou a pauta de reivindicações aprovada na Assembleia ao governador José Ivo Sartori e ao secretário da Educação, Vieira da Cunha.

 

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