Castigado por falar a verdade

Castigado por falar a verdade

Quem fala a verdade merece castigo

por Marino Boeira

Esta semana, o então Ministro da Educação, Cid Gomes disse na Câmara dos Deputados que os parlamentares da base do governo que votavam contra os projetos do Palácio do Planalto deveriam “largar o osso”.

Cid Gomes estava na Câmara, convocado pelo PMDB, para explicar outra declaração sua de que existiam no Parlamento de 300 a 400 “achacadores”.

Os irmãos Gomes, Ciro e Cid, são famosos pelo seu destempero verbal, mas desta vez, o Cid parece ter ultrapassado o limite da urbanidade que deve existir na relação entre os poderes maiores da República.

Não fica bem para um ministro usar essa classificação para generalizar a atuação dos deputados, embora ele certamente verbalizou aquela que é a opinião da maioria dos brasileiros.

O próprio Lula, antes de ser presidente, disse que havia no Congresso uns 300 picaretas, frase que depois virou letra de música de sucesso.

Agora, os tempos são outros e tudo que a Presidente Dilma não precisava era criar outra fonte de atrito com o Presidente da Câmara Eduardo Cunha, que apesar de suspeito de participar do processo de corrupção na Petrobrás, se julga defensor de uma discutível moralidade dos parlamentares.

O Parlamento deve ser a instituição brasileira mais desacreditada pela população, mas sua existência é a garantia de que a democracia formal em que vivemos não seja substituída por uma fórmula muito pior, como foi durante o regime militar, quando ele foi fechado algumas vezes e mutilado tantas outras.

Os deputados e senadores que lá estão, foram eleitos pela população, ainda que o processo eleitoral tenha sido sempre deformado pelo poder do dinheiro, pela influência de uma mídia reacionária e pela ação nefasta de instituições obscurantistas como são as chamadas igrejas pentecostais.

A crítica justa que se faz ao conservadorismo da maioria dos parlamentares deve buscar a conscientização dos eleitores de que não basta eleger um Chefe do Executivo progressista, mas que é preciso também escolher deputados e senadores por critérios ideológicos e não como costuma ocorrer hoje, quando as motivações dos eleitores não são de natureza política.

Dentro desse quadro é que as palavras de Cid Gomes, ainda que verdadeiras, prestam um desserviço ao Governo e ao País, na medida que incentiva o discurso daqueles que pregam o fechamento do Congresso e a volta dos militares ao poder, como vimos no último dia 15.

O castigo, sua demissão do Ministério, por ter falado a verdade, foi merecido esta vez.

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Marino Boeira é professor universitário.

http://www.sul21.com.br/jornal/quem-fala-a-verdade-merece-castigo-por-marino-boeira/




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