O que pode dar certo

O que pode dar certo

 

Antônio Gois - O Globo - 23/02/2015 - Rio de Janeiro, RJ


Lançado no ano passado nos Estados Unidos, o livro “Restoring Opportunity”, dos professores Greg Duncan (Universidade da California) e Richard Murnane (Harvard), traz boas e más notícias para quem acredita que a escola é capaz de reduzir desigualdades e garantir ensino de alta qualidade para os alunos mais pobres. A boa é que essa é uma missão possível, como demonstram iniciativas bem-sucedidas que passaram por rigorosas avaliações. A má é que não é uma tarefa simples e, para dar conta dela, não há bala de prata.

Sempre baseados num enorme arsenal de pesquisas acadêmicas, os autores primeiro demonstram como a pobreza e o crescimento da desigualdade estão ameaçando o sonho americano de mobilidade social. Famílias mais ricas, cujas crianças já entram na pré-escola com um vocabulário muito mais amplo que o das demais, estão investindo cada vez mais na educação de seus filhos, desde a educação infantil até o ensino superior. Enquanto isso, os mais pobres estudam em escolas de pior qualidade, exatamente como ocorre no Brasil.

Duncan e Murnane apresentam então três projetos com ótimos resultados e destacam duas características comuns a todos. A primeira é a existência de uma forte estrutura de apoio à escola e, principalmente, aos professores, para que possam desenvolver um currículo de alto padrão, com elevadas expectativas acadêmicas para todos os estudantes. A segunda é a avaliação (não apenas por testes padronizados) e monitoramento constante desse trabalho, de modo a garantir que os resultados estejam sendo alcançados, detectar problemas, e corrigir rumos. Para os autores, essas duas dimensões são essenciais. Avaliar e cobrar resultados das escolas sem que elas tenham apoio para promover as mudanças é tão ineficiente quanto oferecer ajuda sem monitorar se o projeto está sendo de fato bem executado.

Na educação infantil, o projeto destacado foi implementado em pré-escolas na cidade de Boston, onde a secretaria de educação estabeleceu um currículo de alto padrão, elevou significativamente os salários dos professores dos primeiros anos para atrair bons profissionais, e ofereceu a eles apoio e acompanhamento intensivo do trabalho em sala de aula. No ensino fundamental, o livro retrata uma rede de escolas privadas que, mantida com dinheiro público, atende alunos de baixa renda em Chicago. Aqui também o destaque é para a forte estrutura de apoio criada para orientar diretores e professores a desenvolverem seu projeto pedagógico. Já no ensino médio, os autores contam a história de escolas públicas de Nova York que receberam apoio de empresas e organizações educacionais contratadas pela prefeitura para dar suporte a esses colégios.

Ao final, Duncan e Murnane se deparam com um dilema. Por um lado, lembram que há ampla evidência de que simplesmente gastar mais dinheiro na educação não garante melhoria da qualidade do ensino. Por outro, reconhecem que os projetos destacados no livro demandaram significativos recursos adicionais. Diante disso, concluem: “É errado dizer que dinheiro não importa. Ele pode fazer a diferença, mas somente se usado efetivamente para melhorar a qualidade da instrução e enriquecer as experiências de aprendizado das crianças de baixa renda”.




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