Tendências na educação em 2015

Tendências na educação em 2015

 

Vinicius de Oliveira - Porvir - 03/02/2015 - São Paulo, SP


É cada vez mais comum encontrar plataformas tecnológicas – e atrativas – para promover aprendizado, jogos que imediatamente elaboram rankings da classe ou ferramentas que geram relatórios com desempenho de alunos. Mas professores ainda sentem falta de um norte que apoie e fomente estratégias para impulsionar o desempenho de alunos. Especialistas ouvidos pelo Porvir consideram que 2015 pode começar a mudar esse quadro e veem como tendências que estarão no centro do debate educacional a adoção de plataformas de gestão de dados, o aprendizado baseado em competências e as novas formas de avaliar e de certificar conhecimentos. É por meio deste pacote inovador, segundo eles, que se conseguirá fomentar o empreendedorismo, a consciência e competências para resolver problemas urgentes relacionados à sustentabilidade e desenvolver as habilidades do século 21.

Tudo começa com o enfrentamento de dois grandes desafios: a garantia de conectividade plena, que permitirá acesso a recursos multimídia de maneira eficiente, e uma formação de professores que os prepare para inovar e lidar com ferramentas digitais.

Outra questão a caminho de ser resolvida é a fragmentação do ecossistema de tecnologias educacionais. Assim como acontece no mundo do entretenimento e dos sistemas operacionais de celulares, o impacto da tecnologia trouxe claros benefícios, mas gerou uma quantidade enorme de dados (big data) de aplicações — que nem sempre conversam entre si –, como jogos, plataformas adaptativas e aplicativos usados dentro ou fora da sala de aula. Por isso, Michael Horn, cofundador e diretor-executivo do Clayton Christensen Institute, vê o setor caminhando para a adoção de ambientes integradores conhecidos como LRM (sigla em inglês para programas de computador de gestão de aprendizado). “Eles são similares aos CRM [acrônimo também em inglês para ferramentas de gestão de relacionamento com o cliente, muito presentes em setores como o comércio] e surgem como uma nova categoria de ferramentas que tornarão mais produtivos os ensinos online, híbrido e por competências, além do desmembramento dos cursos universitários”, diz.

Horn coloca como pioneiras neste nicho empresas americanas como a Fidelis Education (onde ele também é um dos executivos) e a Motivis Learning, nascida a partir da College for America, uma iniciativa online da Southern New Hampshire University, que se dedica a ensinar e certificar competências através de projetos realizados totalmente à distância. “Essa tendência [de LRMs] crescerá rapidamente na educação superior em 2015, sendo seguida pelo ensino corporativo e, depois, pela educação básica nos próximos anos”, explica.

Este tipo de solução tecnológica também surge para tratar de um problema ligado à maneira com que o professor e líderes educacionais devem interagir com os dados. Se apenas o “dado útil” fosse coletado, seria mais fácil para tomar iniciativa, perceber falhas e corrigir o caminho de cada estudante. Mas isso não é tão simples, como explica o professor Alex Bowers, do Teachers College, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. “Mais dados não geram melhor desempenho, da mesma maneira que dirigir por um caminho mais longo não implica diretamente em uma melhora do caminho até o trabalho”, compara.

Ao longo do ano, os testes padronizados que formam rankings e que tanto preocupam gestores e políticos, também devem ocupar o centro da arena de debate e sofrer questionamento maior. David Albury, consultor independente de educação e diretor do Innovation Unit, instituição parceira do Porvir, chega a falar até em “desilusão” com este tipo de método para avaliar desempenho escolar. “Mais e mais países começam a entender as características e competências que jovens precisam para sobreviver e ser bem-sucedidos no século 21, como tomar iniciativa, criatividade, resolução de problemas de forma colaborativa, etc”, diz Albury.

Uma das receitas para alcançar esse aprendizado mais profundo, que dê conta das competências inter e intrapessoais, é novamente o uso da tecnologia e o olhar criterioso para os dados. Em recente estudo do grupo editorial Pearson publicado pelo Porvir, os consultores Michael Barber e Peter Hill preveem uma “revolução” que tirará o professor do trabalho repetitivo e pemitirá testes personalizados. “No lugar dos cumulativos, é possível realizar apenas aqueles com propósito específico [com possibilidade de repetição] e proporcionar relatórios que incentivam o crescimento sem a ideia de sucesso ou fracasso”, diz o documento.

A outra tendência citada por especialistas para atacar esse desafio começa antes da avaliação, mas permeia todo o processo de aprendizado, que deixa de ser guiado pelo tempo e passa a ser baseado em competências. Métodos como o ensino baseado na resolução de problemas e o uso elementos do mundo dos jogos são algumas das formas de concectar aprendizados com o mundo real. No Brasil, segundo Adriana Martinelli, consultora em educação e sócia-fundadora do LED (Laboratório de Experimentações Didáticas), será um ano importante para a expansão dos FabLabs, laboratórios integrados para aprendizado que combinam física, química com robótica e programação.

Com novas formas de ensinar e avaliar, a maneira de atestar conhecimento também é impactada e começa a ficar mais flexível, se adaptando aos conteúdos e à duração. Assim, surgem os nanocertificados (ou nanodegrees, em inglês), que oferecem apenas algumas áreas de cursos tradicionais, como o MBA, para o estudante se concentrar. Parece distante? A Udacity, empresa gestada na Universidade de Stanford, nos EUA, já oferece modelos de cursos assim que podem ser feitos online (e de qualquer lugar do mundo). A Fundação Mozilla, por meio do openbadges.org, também aposta na tendência de desmembramento dos cursos universitários e, junto a instituições como museus e centros de pesquisa, oferece badges (condecorações) online para atestar o domínio de uma determinada área de programação, por exemplo. Apesar de inovadoras, essas formas diferentes de chancelar o domínio sobre determinado assunto ainda enfrentam um grande desafio: convencer empregadores. “O ano de 2015 terá uma maior atividade de formas alternativas de certificação atuando sobre o mercado de trabalho, mas sua aceitação acontecerá em um ritmo menor do que a esperada pelas pessoas”, diz Michael Horn, do Clayton Christensen Institute.

“Tenho o sonho de que o nanodregree aterrisse no Brasil trazendo características muito parecidas com a residência, no curso medicina. É muito ligado à prática, dura entre seis meses e um ano, e você sai um especialista. Com ele, você dá ao aluno a chance de customizar a aprendizagem”, diz a consultora Adriana Martinelli. A expansão desta modalidade no Brasil também esbarra na lei que, dentre outros requisitos, exige 360 horas de aulas. “Por causa de regulamentação do MEC, por enquanto é possível criar cursos como esses de caráter livre, mas não como especialização”, diz.

Uma formação que conecta o indivíduo à realidade além do muro da escola, com competências específicas para resolver problemas, também propicia uma nova visão a respeito do empreendedorismo. “Um negócio bem-sucedido precisa atacar um grande problema para que as pessoas se interessem pelo produto. Olhando para coisas concretas, tecnologias para otimizar e reusar água vão abrir janelas de oportunidades para soluções que devem ser produzidas rapidamente, porque estamos falando de questões [como a falta de água] que atingem as maiores regiões metropolitanas do país”, diz Paulo Lemos, professor universitário e pesquisador da Unicamp. Os eventuais obstáculos para o desenvolvimento de novos negócios, de acordo com Lemos, servirão para mudar o viés “festivo” do ambiente de startups: “Muitas pessoas entram na onda até tomarem consciência que empreender não é sua praia, e que traz dificuldades. Até lá, novos negócios vão surgir e outros desaparecer para que a economia retome o crescimento”.




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