Educação e trabalho

Educação e trabalho

Educação e trabalho - binômio inseparável

"O analfabetismo é excludente e, segundo a Unesco, o Brasil ocupava, em janeiro de 2014, o oitavo lugar entre os países com maior número de analfabetos",

afirma Aldo Paviani

Fonte: Correio Braziliense (DF)    29 de janeiro de 2015

 

Trabalho e Educação têm muitos vínculos, e são inseparáveis na nossa busca pela rota do bem-estar humano. Os chamados países desenvolvidos colocaram a Educação como prioridade por décadas e, com isso, evoluíram tecnológica, cultural e economicamente, com a manutenção de elevadas possibilidades de trabalho para as pessoas que se apresentam para qualquer atividade. Assim, a almejada equidade social, pela rota educacional, estará disponível para a ascensão se o trabalho contar com o suporte da Educação plena.

Pela Educação, abrem-se portas para as oportunidades compensadoras e benéficas aos trabalhadores. Há países que concentram esforços e recursos em Escolas, tornando-as atrativas. Neles, Docentes são respeitados e valorizados pelo preparo e pela dedicação, tendo, assim, maior êxito nas atividades pedagógicas.

No extremo oposto, estão regiões, países e cidades deprimidas, mal equipadas, pouco produtivas, com altas taxas de desemprego e pouco afeitos à valorização do magistério. Não há estímulo para os Professores, nem para a Educação em geral. Escolas não recebem investimentos e operam em condições mínimas, com edificações depredadas, muros pichados, lixo acumulado. Veem-se mais como centros de correção de menores do que como centros de conhecimento. Um desrespeito às crianças, que abandonam a Escola. Muito desse retrato se aplica a diversos estados brasileiros.

Ao percorrer o Brasil, encontramos as duas situações acima descritas: estados ricos educacionalmente e estados com miséria educacional. Esse contraste tem impacto na questão do desemprego. Estados ricos, com Educação mais eficiente, têm baixas taxas de desemprego, como revelam os dados do Censo do IBGE/2010 e do Dieese, 2014. Porto Alegre com taxa de Analfabetismo de 3,2%, apresenta 6,5% de taxa de desemprego; São Paulo tem 3,2% de Analfabetismo e 9,8% de desemprego.

Em contrapartida, Salvador exibe 17% de desemprego e o Analfabetismo é de 16,6%, e Recife está na mesma esteira com 12,4% de desemprego e 18% de Analfabetos (taxas da PED/Dieese - nov./2014 e Censo IBGE - 2010). Nessas mesmas capitais (e nos respectivos estados), há altas taxas de evasão Escolar e repetência, além do que o Analfabetismo se mantém acima da média nacional, de 9,6%. Nesses estados, pouco se realiza em favor dos que ainda não saíram da amargurada e vexatória escuridão de não saber ler ou escrever.

O Analfabetismo é excludente e, segundo a Unesco, o Brasil ocupava, em janeiro de 2014, o oitavo lugar entre os países com maior número de Analfabetos. Todavia, esse dado negativo foi reduzido. O IBGE, ao divulgar a Pnad, em setembro de 2014, mostrou que o total de Analfabetos era de 13.048.000 pessoas, ou 8,3% da população. Parece pouco, mas é quase a população da metrópole paulista. Portanto, ainda necessitamos de medidas urgentes para resgatar as áreas — algumas metropolitanas e muitos estados — da condição de abrigos de Analfabetos. Ao reduzir ou eliminar o Analfabetismo, colocamos as pessoas (crianças e jovens, sobretudo) na rota do conhecimento e da elevação do padrão de vida. Talvez, aí esteja a chave para o tão falado controle e conservação do ambiente (natural e humano) para os herdeiros desse país continental.

No que tange a Brasília e ao DF, a taxa de desemprego (PED/Dieese/Codeplan - novembro de 2014) cravou em 12,2%, significando 183 mil desempregados, dado quase equivale à população de Taguatinga (213 mil habitantes). Já o Analfabetismo no DF foi reduzido de 5,7%, em 2000, para 3,5%, em 2010, segundo o Censo do IBGE de 2010. Portanto, Brasília torna-se um caso de estudo, já que a reduzida taxa de Analfabetismo não se correlaciona com a alta taxa de desemprego. A capital federal reflete a fragilidade do sistema educacional do país, que não prepara o cidadão para atuar no chamado mercado de trabalho local. Portanto, temos de nos perguntar para que servem as Escolas. Se elas se furtam a pensar a respeito das necessidades do presente e do futuro dos estudantes, então, não poderemos esperar mais que desinteresse, evasão e despreparo para as perspectivas da vida coletiva, com visão de futuro.

Em conclusão, há que se cortar pela raiz o Analfabetismo e o desemprego. Quem não tem Educação e emprego não é um cidadão produtivo e capacitado para o acesso à cidadania e aos bens essenciais da vida moderna. Dele ou dela roubaram a dignidade, bilhete único para a rota da esperança e do bem-estar.

*Professor emérito da UnB e geógrafo da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan)

Matéria publicada apenas em veículo impresso
 




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