Orientação vocacional na escola
Escrito por Carolina Mainardes
A busca pelo sucesso e por uma carreira profissional promissora tem feito com que as escolas mantenham o foco de seu trabalho, principalmente no ensino médio, na aprovação dos estudantes em cursos de ensino superior. O momento da escolha do curso que definirá o futuro do aluno tem uma importância muitas vezes ampliada, o que gera estresse. Com o intuito de ajudar o aluno nessa escolha, muitas escolas já oferecem um programa de orientação vocacional. A Gestão Educacional conversou sobre a questão com a psicanalista e educadora Deborah Bulbarelli Valentini, autora do livro Orientação vocacional: o que as escolas têm a ver com isso? (Ed. Papirus). “Cabe à escola um papel informativo”, afirma Deborah. Ela ressalta que a orientação vocacional não nasceu no interior das escolas. “Uma série de fatores contribuiu para que projetos que auxiliam os alunos a escolherem suas profissões migrassem para o interior dos colégios, de tal maneira que, hoje, a orientação vocacional é tratada como mais um dos objetivos da escolarização”, explica. Acompanhe a seguir as principais ideias da autora sobre o assunto.
O papel da escola
Segundo Deborah, é preciso levar em consideração a imbricação das dimensões econômicas e científicas no campo da educação e a sua relação com as mudanças que têm caracterizado as famílias atualmente, em especial no que diz respeito ao declínio do patriarcado. “As funções e os objetivos das escolas, o papel do professor, as atribuições do aluno, as teorias e os métodos pedagógicos não permaneceram inalterados no decorrer dos tempos nem alheios às inserções discursivas que incidem sobre o que deve ou não ser considerado projeto pedagógico”, ressalta.
Papel informativo da escola
As escolas podem assumir papel informativo sobre as diferentes profissões, bem como aproximar os alunos das universidades, de forma a ajudá-los a conhecer as diferentes composições curriculares e possibilidades de trabalho. “Algo além disso não deveria ser função da escola”, acredita a psicanalista. Deborah sugere que a escola ofereça a seus alunos fóruns de profissões, palestras com diferentes profissionais, debates em classe etc.
Participação da família
A autora considera válido o desenvolvimento de um programa ou projeto de orientação vocacional transversal às outras disciplinas, que possa ter em seu espectro de abrangência os limites da escola e redirecionar os alunos para conversarem em família sobre esse tema. “Por entender a escolha de uma profissão como mais uma das milhares de escolhas que fazemos na vida, ela não deveria ser reduzida a uma práxis educativa, desalojada da família e desarticulada de aspectos inconscientes”, diz.
Equipe envolvida
Vários profissionais poderão participar desse processo na escola: professores, coordenadores pedagógicos e orientadores educacionais, desde que estejam alinhados quanto aos eixos que definirão o projeto.
Para o ensino médio
Se uma escola considerar importante a implantação de um projeto de orientação vocacional, ela deve se concentrar nos alunos do ensino médio.
Só na escola?
Na opinião da autora, a orientação vocacional não deve ser limitada às escolas. “À escola cabe um papel informativo justamente por se tratar de uma escolha como tantas outras”, afirma. A psicanalista destaca que o que se observa hoje, com raras exceções, é uma tendência em insuflar as responsabilidades da escola, com um exagero que beira a descaracterização das funções próprias à educação acadêmica: “Como se cada vez mais liberados de seus pais, as famílias devessem encaminhar às escolas toda sorte de demanda dos filhos, da educação sexual à educação para o trânsito, passando pela profissional, e por aí afora. Diante desse panorama, uma ‘boa escola’ deve ser aquela que ‘prepara o aluno para a vida’, com ‘desenvolvimento integral’”, critica.
Responsabilidades
Para Deborah, quanto mais a escola tomar para si, respaldada por determinadas propostas cientificistas, responsabilidades que outrora eram das famílias, menores as oportunidades para que pais e filhos se conheçam. “Em vez disso, talvez seja mais interessante inventarmos meios de redirecionar a educação parental para as famílias, [tornando-a] menos dependente do saber autorizado por especialistas ou legislado pelo estado”, acredita a psicanalista.
Sem estresse
“A escolha profissional tem sido posta como a primeira e mais importante escolha que o adolescente faz na vida; além disso, não se pode voltar atrás, ou seja, deve ser certeira e promissora, de excelente retorno financeiro em curtíssimo prazo. Só aí já encontramos desenhadas todas as coordenadas que levam qualquer um ao estresse”, alerta Deborah. “Se pudermos pensar que muitas outras escolhas já foram feitas, inclusive com consequências importantes para a vida, que é possível rever ideias, refazer caminhos e esperar um pouco para ser reconhecido profissionalmente, não sem esforço, talvez estejamos diante de outro cenário”, acrescenta.
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