Origem da nossa “festa de Natal”
Qual a origem da nossa “festa de Natal”?
A “ceia de Natal” é mais velha do que normalmente supúnhamos, e esteve mais para última ceia que para festa de comemoração de nascimento. Essa é a informação que recebi da filósofa Francielle Chies.
Que o Natal não era a data provável do nascimento de Jesus, mas a data de uma festa pagã encoberta propositalmente pela cerimônia religiosa cristã, como tantas outras datas, isso eu sabia. O que eu não sabia é que uma tal festa, de troca de presentes e de jantar em família, nessa época do ano que é a de extremo frio no Norte, vinha de nossos ancestrais primitivos. Um terço da população morria a cada época do frio, desse modo, nossos ancestrais se reuniam para trocar comida e fazer uma ceia conjunta, pois terminado esse período, que em nosso calendário é o das “festas de final de ano”, as famílias estariam compostas de modo completamente diferente. Assim, justificava-se muito a troca do que havia sido estocado, pois seria a última vez que todos os que trabalharam e viveram juntos em um período, iriam se encontrar. Quando voltasse o calor, todas as relações familiares seriam outras.
Na maioria das culturas de povos do Norte, então já não mais na situação do homem primitivo, as festas religiosas da época do frio nunca deixaram de existir. Com as diversas invasões de povos do Norte sobre a Europa mediterrânea, mais essa tradição se firmou. Quando o cristianismo veio, não havia outra coisa a fazer, pelas mãos da Igreja, senão antes se apropriar dessa tradição que combatê-la. Claro que, para uma religião nova que celebrava o fim do destino e da lei de honra, que deveriam ser substituídas pela liberdade e pela lei do amor, ficava bem mais fácil comemorar o nascimento que a morte. Além disso, o Norte já havia se tornado capaz de enfrentar o frio, sendo este não mais um dizimador a ponto de criar a reestruturação familiar.
Também a chamada Árvore de Natal pouco tem a ver com as árvores que, em diversas culturas, se planta para acolher a placenta que vem junto com a criança, de modo a erigir vidas paralelas, a do homem e a do vegetal. Também aqui a tradição é de nossos ancestrais primitivos. A Árvore de Natal é um pinheiro que simboliza o que restou da imagem da pilha de mortos, todos vitimados pelo frio, feita ao longo do inverno. Quando o frio deixou de ser uma ameaça tão assustadora e a “festa de final de ano” ganhou outra conotação, então a relação imagética com o monte de cadáveres se perpetuou no formado especial do pinheiro, mais tarde absorvido também pelo cristianismo como Pinheiro de Natal.
Olhando para o que historiadores da chamada “grande história” dizem, cada vez mais essa narrativa faz sentido, uma vez que essas relações imagéticas, de transformação de fatos em situações simbólicas amenas é um processo nosso bem conhecido, e que nunca paramos de fazer. Desgraças são sublimadas e, para tal, contamos sempre com nossa capacidade simbólica e nossa facilidade de teatralização fora dos palcos. Aliás, sabemos bem, o palco inicial sempre foi a vida cotidiana.
Paulo Ghiraldelli, 57, filósofo
http://ghiraldelli.pro.br/natal/