Jovens fora de sala de aula

Jovens fora de sala de aula

Jovens fora de sala de aula - um problema de quem?

"De acordo com os dados apresentados pela Pnad de 2013, apenas 54,3% dos jovens brasileiros, com 19 anos, concluem a etapa do Ensino médio, considerada a idade ideal", afirma Maria Cristina Sebba

Fonte: Correio Braziliense (DF)          13 de dezembro de 2014

 

De acordo com os dados apresentados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2013, apenas 54,3% dos jovens brasileiros, com 19 anos, concluem a etapa do Ensino médio, considerada a idade ideal. Essa taxa cai assustadoramente entre estudantes pobres, negros e das regiões Norte e Nordeste.

Os dados para o Ensino fundamental também não foram animadores. Apenas 71,7%, na faixa etária de 16 anos, conseguiram finalizar o Ensino fundamental, quando a meta era de 84%.

É a propósito dessa imagem tão comum em nossa sociedade e tão negativa em relação aos jovens que alguns comentários se fazem necessários. São poucos os cidadãos que refletem mais a sério sobre as reais necessidades e potencialidades dos jovens brasileiros. Potencialidades essas que, na grande maioria, não encontram possibilidade de concretização.

Como é possível que nossos jovens possam destacar com suas capacidades intelectuais na Escola e na sociedade se uma parte deles não consegue se matricular no sistema educacional e como tantos outros abandonam a Escola muito precocemente sem condições de manter-se nela? Eles terão de superar inúmeras dificuldades, como manter-se na Escola, entendendo sua linguagem e sua dinâmica. Arcar com todos os gastos que ela acarreta, como condução, uniforme ou roupa adequada, material, atividades externas etc.

Por outro lado, o garoto de família rica ou de classe média, mesmo que decida não frequentar a Escola, dificilmente perderá o padrão de vida e o lugar social. Assim, se decidir ser motorista de caminhão, logo poderá se tornar um empresário do transporte.

Na realidade, é a inexistência de políticas públicas explícitas que contemplem as necessidades educativas, criativas, afetivas etc. dos nossos jovens. Essa responsabilidade é própria de governos nacionais, estaduais e municipais de nosso país. O Brasil sinaliza melhora nesse quesito, embora em ritmo lento, a favor da dignidade, do respeito, da proteção social do jovem e contra a violência e maus-tratos, ou seja, todos os tipos de negligência. A fase que deveriam estar na Escola, firmando em seus propósitos e em seus relacionamentos sociais, mas não é isso que normalmente ocorre.

O que ocorre geralmente é a baixa autoestima, o pessimismo, o complexo de inferioridade, o isolamento, a depressão e o vazio existencial. Essas, sim, são as verdadeiras responsáveis por comportamentos de risco que levam ao consumo de drogas, ao abandono ao lar, à gravidez precoce, além de fazer da rua moradia em busca de algo e cometem alguns atos inaceitáveis pela sociedade e pela própria família.

Onde está a motivação desses jovens para permanecer na Escola? A motivação continua sendo um complexo tema para as teorias de aprendizagem e Ensino. Atribuímos à motivação tanto a facilidade quanto a dificuldade para aprender.

Na sociedade moderna, com o advento das tecnologias da informação e da comunicação, o trabalho foi se tornando cada vez mais especializado e sofisticado, exigindo uma formação mais ampla adquirida na Escola e complicando cada vez mais para os que não a frequentam. Enquanto, os filhos das classes média e alta permanecem nas Escolas, que foram se expandindo.

De acordo com a pesquisa da Pnad, quanto ao fator econômico, entre os 25% mais ricos, 83,3% dos Alunos concluem o Ensino médio até a idade ideal, 19 anos. Por outro lado, entre os 25% mais pobres o índice caí para 32,4%. A situação para o Ensino fundamental é semelhante. As regiões Norte e Nordeste apresentam taxas de conclusão inferior nacional. Os melhores resultados estão para o Sudeste.

A partir dessas reflexões, são eles os culpados por não permanecer na Escola ou são um produto de seu meio e da problemática social ainda longe de ser solucionada? É importante salientar que Alunos na Escola de Ensino fundamental e médio é uma fase para todas as classes sociais. A instabilidade na vida dos jovens de classe pobre não permite que tenham a Educação como prioridade, o que os leva a abandonar a Escola diversas vezes.

A repetência só não é maior devido o aumento da evasão Escolar. Para superar o problema, é preciso investir em políticas públicas, tirá-las do papel, implantá-las e executá-las a fim de atingir 90% da população, ou melhor, 100%, mas já sabemos que isso será impossível, desde a infância até, pelo menos, o fim da fase da adolescência.  
 

Matéria publicada apenas em veículo impresso




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