Educação Integral é tema de debate

Educação Integral é tema de debate

Avaliação na Educação Integral é tema de debate virtual

Especialistas analisam projetos voltados à avaliação nesta etapa de ensino. Confira vídeos do debate

Fonte: Centro de Referências em Educação Integral   08 de dezembro de 2014

No último dia 3, o Cenpec realizou mais um de seus debates virtuais cumprindo a agenda de assessoria às políticas de educação integral que mantém em parceria com a Fundação Itaú Social. Sob o tema Avaliação da Educação Integral, o momento reuniu os especialistas Ocimar Munhoz Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP e coordenador do grupo de estudos e pesquisas em avaliação educacional e Débora de Lima Marreiro, pedagoga com especialização na área de educação, coordenadora do Programa Escola Total, em Santos.

O debate começou com a explanação da estrutura do Programa Escola Total, iniciado em 2006. Entre os indicadores de qualidade da iniciativa, como destacou a coordenadora, destaca-se o de avaliação e monitoramento ampliado para cinco dimensões: infraestrutura, acesso e permanência, articulação no território, formação dos educadores e práticas educativas. Projetadas a partir dos pilares de Jacques Delors – aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser – dos quais o programa pactua, delimita-se os saberes que devem ser avaliados em cada um.

O processo teve início em um formato experimental e hoje aponta caminhos para coordenadores, professores e equipe de formação. “Começamos com uma autoavaliação por parte dos alunos, buscando os saberes prévios que eles trazem; depois, compartilhamos com os coordenadores e professores, trazendo a corresponsabilidade deles nesse percurso; partimos para a aplicação de um pre teste com alguns alunos, filmado e trabalhado em uma formação mensal com os educadores antes da avaliação propriamente dita”, relatou Débora.

Mesmo reconhecendo a necessidade de se revistar e ajustar constantemente essas práticas, o professor Ocimar Alavarse enfatizou a importância dada pelo programa à avaliação institucional que tem a intencionalidade de julgar a ação da instituição, da organização proponente. Outro ponto forte, como destacou, “é delimitar o objeto de avaliação e definir critérios segundo os quais as informações podem ser cortejadas, para enfim sair o julgamento”. Em sua análise, a avaliação educacional deve se apresentar para favorecer a tomada de decisões no sentido de manter, alterar ou rever o percurso proposto. A avaliação institucional também tem esse papel de apontar novas perspectivas para as ações.

A avaliação na educação integral
Para Alavarse é importante elucidar o contexto sobre o qual figura a avaliação na perspectiva da educação integral. Como reforçou, não se trata de uma nova avaliação, mas de novos desafios, sobretudo considerando o esforço que se tem pela ampliação curricular, que perpassa a tradição da escola de massa, estruturada em torno de alguns conhecimentos de áreas mais consagradas.

Esse, em sua leitura é o principal desafio. ” A maneira como essas áreas vinham sendo apresentadas na educação de massa é insuficiente, ou porque não eram apresentadas, ou porque não conduziam os alunos para o sucesso das aprendizagens”, problematizou. O docente enfatiza que a educação integral lida, portanto, com velhos e novos conhecimentos que, por sua vez, devem ser traduzidos na organização curricular da escola.

A problemática, em sua opinião, está no fato de que os profissionais de educação para lidar com essa organização são fruto de um tipo de escola, de uma escolarização marcada por uma delimitação curricular. Ele indica que está posta a necessidade da educação integral articular esse diálogo que implica currículo, conhecimento e formação. Diante também do desafio de não diminuir ou menosprezar os domínios cognitivos. “Entre outras possibilidades, a educação integral aparece para criar melhores condições de apropriação de conhecimento. Ou seja, os novos objetos não negam os velhos”, colocou.

Confira vídeos e matéria no site original aqui

 

Confira o debate na íntegra:

Parte 1

 

Parte 2

 http://educacaointegral.org.br/noticias/avaliacao-na-educacao-integral-e-tema-de-debate-virtual/

 

Avaliação na Educação Integral

Avaliar significa atribuir valor, valorar, reconhecer, apreciar. Avaliar a educação implica não apenas em descrever e mensurar a qualidade dos processos de ensino-aprendizagem, como também dos mecanismos de gestão e da formação de educadores. A função dos processos avaliativos educacionais é, portanto, melhorar o processo educacional em todos os seus aspectos.

A avaliação na perspectiva da Educação Integral tem ainda outras características específicas, e necessariamente exige uma reflexão conceitual sobre temas como os tempos-espaços de aprendizagem, o que é qualidade de ensino e quais os métodos de atribuição de valor.

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Esta, no entanto, não é uma tarefa fácil. Se por um lado a Educação Integral tem se expandido não apenas em número de escolas, mas também no debate nacional, por outro lado ainda faltam parâmetros claros no que se refere à qualidade da educação integral. O próprio Ministério da Educação (MEC) reconhece a inexistência de um modelo específico para avaliação da Educação Integral.

Uma vez que a Educação Integral não é sinônimo de tempo integral, não basta replicar, ampliar ou adaptar os mesmos índices oficiais utilizados para avaliação da qualidade do ensino, como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), Exame Nacional do Ensino Médio (Enem),  Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), Exame Nacional do Estudantes (Enade. Na realidade, como afirma o teórico francês Philippe Perrenoud, no livro “Práticas pedagógicas, profissão docente e formação : perspectivas sociológicas”, refletir sobre os processos avaliativos implica em repensar a própria escola.

  • Diretrizes para avaliação como processo

  • O documento “Diretrizes do Programa Ensino Integral” elenca os seis princípios norteadores da avaliação em Educação Integral:

  • 1.Quem avalia tem decisões a tomar no sentido de qualificar o que está sendo avaliado: o avaliador deve refletir sobre a atribuição de valor no processo de ensino-aprendizagem;

  • 2. A avaliação está a serviço da formação do educando e não o inverso. Da maneira como a escola está tradicionalmente organizada, os processos avaliativos costumam determinar os conteúdos de ensino, e desta forma a educação acaba perdendo sua função original (a desenvolver habilidades e competências para a vida, garantir o desenvolvimento integral, etc). A avaliação deve portanto servir à melhoria do ensino, e não o contrário.

  • 3. A avaliação deve ir além da verificação da aprendizagem. O resultado das avaliações de aprendizagem deve necessariamente servir como ponto de partida para uma reflexão aprofundada dentro da escola: os resultados avaliativos só têm sentido na medida em que servem para orientar os próximos passos do planejamento e oferecer diretrizes para a tomada de decisões.

  • 4. A avaliação expressa valores, concepções, crenças e o posicionamento político-ideológico do avaliador. Não existe processo avaliativo neutro. A concepção do que é um “educador” e um “educando” se traduz nos mecanismos avaliativos utilizados. Se por exemplo o educando é entendido como alguém que deve acumular informações, a avaliação medirá o número de informações memorizadas (“provas”). Se, por outro lado, o educando for compreendido como um ser potente, capaz de aprender e dotado de saberes, a avaliação terá um caráter mais dinâmico, processual e com função diagnóstica.

  • 5. O melhor procedimento de avaliação é o procedimento de ensino. É impossível ensinar sem avaliar. Na medida em que se devem investigar os conhecimentos prévios dos educandos antes de iniciar novos percursos de aprendizagem, a avaliação é parte inerente do processo de ensino.

  • 6. O ‘produto’ do trabalho do professor não é a aula, mas sim a aprendizagem do aluno. O professor deve direcionar suas estratégias e métodos de ensino para atender as necessidades específicas dos alunos.

  • Além destes seis princípios, há muitos outros a considerar. Uma vez que a Educação Integral rompe com a dicotomia “turno” e “contraturno”, é preciso que esteja na agenda avaliativa a conexão entre as aprendizagens do turno regular e das atividades fora do turno regular. A avaliação deve analisar, afinal, quão “Integral” e “integrada” está sendo a Educação, de que forma os diversos saberes compõem um currículo único.

  • Outro aspecto importante da avaliação em Educação Integral é considerar que os processos avaliativos vão muito além dos resultados obtidos pelos alunos. A gestão educacional e a atividade docente também devem ser avaliados, e os resultados obtidos devem servir à reflexão e replanejamento de todas as instâncias envolvidas.

  • Há muitos teóricos que defendem que a avaliação dos processos educacionais deve ser participativa, isto é, os avaliados devem necessariamente conceber, planejar e participar dos métodos avaliativos da educação, estabelecendo para si os objetivos que intentam alcançar. A participação dos avaliados no planejamento da avaliação contribui para uma relação autônoma e prazerosa do educando com o conhecimento, estimula o senso crítico, a autonomia e a consciência de seu próprio processo de aprendizagem. A pesquisadora portuguesa, Manuela Terrasêca, defende que uma alternativa às avaliações externas padronizadas é a chamada avaliação negociada, um processo construído de forma horizontal entre todos os envolvidos e com a participação de toda a comunidade educativa.

  • Um aspecto muito importante da avaliação em Educação Integral é o olhar ampliado (integral) para o desenvolvimento de competências e habilidades. Os aprendizados não se referem apenas às habilidades acadêmicas e conteúdos escolares, mas passam por habilidades socioemocionais, de convivência, de respeito à diversidade, de estar e agir no mundo: os aprendizados atitudinais também precisam ser contemplados nos processos avaliativos em Educação Integral. Segundo Antoni Zaballa, no livro Prática educativa: como ensinar, os conteúdos e competências a serem avaliados devem considerar capacidades motoras, de equilíbrio, autonomia, relação interpessoal e inserção social.

  • Por fim, mas não menos importante, é preciso levar em consideração que a avaliação em Educação Integral é sobretudo uma avaliação processual, muito mais do que uma avaliação de resultados. Uma vez que o ponto de partida é a singularidade de cada aluno, torna-se difícil estabelecer parâmetros universais. Novamente como aponta Zaballa, a avaliação deve considerar os saberes prévios dos alunos, o que querem aprender, quais suas formas de aprendizado.

  • A partir de uma avaliação inicial, pode-se não apenas conhecer o aluno, como traçar estratégias metodológicas de ensino para atender às suas próprias necessidades e interesses. A avaliação em educação integral é, portanto, um instrumento processual de acompanhamento da aprendizagem tanto pelo educando como pelo educador, contemplando os diversos saberes, aproximando os conteúdos escolares dos saberes comunitários, convidando o avaliando a se auto-avaliar e a traçar seu próprio percurso nos caminhos do conhecimento.

  • Referências bibliográficas
    ZABALA, Antoni. Prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.ZABALA, Antoni. “Por quê se deve avaliar?”. Disponível online.

  • Governo do Estado de São Paulo, “Diretrizes do programa Ensino  integral” Governo de S Paulo.Disponível online.

  • TERRASÊCA, Manuela. “A avaliação no interior da escola: espaço de inovação construída ou decretada?”. Disponível online.

  • Para saber mais: 
  • http://educacaointegral.org.br/noticias/modelos-de-avaliacao-educacional-devem-fortalecer-a-formacao-dos-estudantes/

http://educacaointegral.org.br/glossario/avaliacao-na-educacao-integral/ 




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