Autonomia na educação

Autonomia na educação

Documentário retrata autonomia na educação

Quando Sinto que já Sei traz 50 entrevistas e 7 modelos de ensino não tradicionais; estreia prevista para segundo semestre

Experiências educativas nacionais estão buscando em elementos como autonomia, liberdade, afetividade, felicidade, artes, diversão e bons educadores o segredo para mudar o modelo tradicional de ensino no país. Com a proposta de ajudar professores, especialmente de escolas mais conservadoras, a pensarem em alternativas e novas maneiras de ensinar, três jovens decidiram pesquisar e registrar iniciativas educacionais que seguem essas ideias. O mapeamento deu origem ao documentário independente Quando Sinto Que Já Sei, que será lançado no segundo semestre deste ano. O filme conta com cerca de 50 entrevistas com crianças e jovens que estudam em escolas com modelos inovadores, e também com conversas entre pais, educadores, professores, diretores e especialistas de sete projetos educativos que estão apontando novos caminhos para a educação brasileira.

O documentário foi idealizado pelo estudante de engenharia Antonio Sagrado Lovato, 23, que, em 2012, ao lado de mais dois amigos, percorreu o Brasil captando diferentes experiências, como escolas democráticas, de educação integral, entre outras. Muitas delas, inclusive, já passaram aqui pelo Porvir, como o Projeto Âncora, em Cotia, as escolas Amorim Lima e Politeia, em São Paulo, e o Projeto Gente, no Rio de Janeiro. Além de especialistas entrevistados, como o educador e folclorista Tião Rocha, Rafael Parente, subsecretário de novas tecnologias educacionais da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, e Helena Singer, diretora da Associação Cidade Escola Aprendiz, instituição pioneira no desenvolvimento da educação integral.

crédito udra11 / Fotolia

“Nossa intenção é promover e aquecer o debate em torno do atual momento da educação no Brasil, buscar e apresentar modelos, que se baseiam na participação e autonomia, para mostrar que existem experiências acontecendo, que podem ser replicadas”, afirma Lovato. Agora, com todas as entrevistas realizadas, seu próximo passo é arrecadar, até o dia 20 de maio, R$ 44 mil necessários para a pós-produção do filme. Para conseguir o recurso, o jovem iniciou uma campanha na plataforma de financiamento coletivo no Catarse. O valor inclui gastos com locação e aquisição de equipamentos, viagens da equipe para gravações, distribuição independente e a finalização do filme.

Como parte do pré-lançamento do documentário, Lovato também pretende realizar uma série de encontros, por meio de saraus e seções de filmes em escolas públicas, onde exibirá o Imagine a School… Summerhill (Imagine uma escola… em tradução livre). O documentário inglês, que leva o nome da escola criada nos Inglaterra há mais de 90 anos, retrata a instituição mais antiga do mundo a adotar o modelo de educação democrática. A proposta dos encontros é falar sobre experiências como essas ao redor do mundo e, especialmente, no Brasil.

Nos últimos cinco anos, Lovato vem se dedicando à pesquisa de modelos não-convencionais pelo mundo. Em 2011, depois que ganhar de uma bolsa de intercâmbio na Europa por conta de um trabalho ligado à gestão cultural, um de seus primeiros destinos foi a Escola da Ponte, em Portugal. Lá, viu de perto o trabalho da instituição que é referência mundial na educação democrática. “Fiquei encantando com tudo aquilo”, diz.

No entanto, antes disso, foi buscar inspirações também em terras brasileiras. Viajou para a cidade de Sacramento, em Minas Gerais, onde afirma ter sido instalada a primeira experiência educacional alternativa do país. A escola, datada de 1907, foi criada pelo educador e político Eurípedes Barsanulfo (1880-1918), figura desconhecida pela maioria das pessoas. “Pouca gente o conheceu, na verdade. O colégio foi muito inovador para a época. Não havia seriação e tinha até aulas de astronomia”, diz Lovato. “O [José] Pacheco disse que se tivesse sido europeu seria uma das principais referências no mundo”, afirma.

Veja trailer do documentário:

http://porvir.org/porfazer/documentario-mapeia-educacao-democratica-brasil/20130509

 

‘O melhor da educação alternativa é ter autonomia’

Jovem que faz projeto de doutorado informal sobre modelos inovadores de aprendizagem para adultos vai publicar livro gratuito

Longe das bancas de avaliação e das rigorosas amarras acadêmicas, o mineiro Alex Bretas, 23, decidiu trilhar o caminho de um doutorado informal. Após quase entrar para a pós-graduação tradicional, o recém paulistano, como gosta de se definir, optou pela possibilidade de desenvolver a sua própria metodologia e dar início a uma investigação autônoma sobre novas formas de aprendizagem para adultos, batizada de Educação Fora da Caixa.  E ao invés de ter uma pesquisa publicada no banco de teses e dissertações de alguma universidade, o jovem escolheu transformar o seu projeto em um livro gratuito sob a licença Creative Commons.

“Eu vi o doutorado informal como um caminho inovador e interessante, onde as pessoas poderiam colocar no mundo os seus conhecimentos”, defendeu. Formado em administração pública e com especialização em pedagogia da cooperação, o jovem optou por basear a sua pesquisa em histórias de pessoas, redes e organizações que promovem formas mais autônomas de aprendizado. Segundo ele, a intenção é mostrar que não existem apenas projetos inspiradores com o foco em crianças, adolescentes e escolas. Partindo desse princípio, o estudo irá estabelecer conexões entre questões como a universidade no século 21, empreendedorismo, EJA (Educação de Jovens e Adultos) e a internet no processo de aprendizagem.

vipman4 / fotolia.com

 

Entre os objetos de estudo que servirão de base para a pesquisa, estão: o TED, organização sem fins lucrativos dedicada a disseminar boas ideias; o UnCollege, movimento de autoaprendizagem criado por Dale Stephens nos Estados Unidos; o CIEJA Campo Limpo (Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos), que utiliza o pensamento de Paulo Freire para a alfabetização de adultos; a Escola de Redes, que investiga e dissemina conhecimento sobre o campo das redes sociais de forma não hierárquica; e o Programa Germinar, uma formação de líderes facilitadores que buscam novos rumos de trabalho.

De acordo com Bretas, a ideia do livro é promover um diálogo entre essas iniciativas e as suas próprias experiências, além de contar com a base teórica de pensadores como Juanita Brown, Augusto de Franco, Cristovam Buarque, Rubem Alves e Paulo Freire. “A minha intenção é costurar. Eu gosto dessa ideia de uma colcha de retalhos. É juntar tudo isso dentro de um caldeirão para poder criar alguma coisa nova.”

‘Eu vi o doutorado informal como um caminho inovador e interessante, onde as pessoas poderiam colocar no mundo os seus conhecimentos’

Além das experiências de aprendizagem que serão investigadas por Alex, a própria discussão sobre o método do doutorado informal também irá fazer parte do projeto Educação Fora da Caixa. “Eu tive vontade de incluir esse tema do doutorado informal para empoderar pessoas”, explicou, ao afirmar que esse caminho de pesquisa pode estar acessível para todos. Segundo ele, a ideia de poder construir a sua própria metodologia torna a aprendizagem libertadora.

“O melhor da educação alternativa é ter autonomia para se permitir viver por um caminho que consegue refletir a sua própria vida. A educação ‘fora da caixa’ possibilita que as pessoas sejam felizes com as suas escolhas de como desejam aprender. A grande questão não é onde você está, mas como você consegue colocar isso para o mundo”, destacou Bretas.

Financiamento coletivo

Para viabilizar a pesquisa e a publicação do livro, que deve ser finalizado até 2015, Alex decidiu recorrer ao financiamento coletivo, inspirado por outros projetos como o Caindo no Brasil, a Expedição Liberdade e o Volta ao Mundo em 12 Escolas. A intenção era de arrecadar R$ 8.908, porém, a meta foi batida com apenas 17 dias de campanha. Até agora, o projeto já contou com a participação de mais de 90 colaboradores e tem até o dia 23/8 para continuar sendo financiado. Os apoiadores podem contribuir com valores a partir de R$ 15.

Como nova meta para o projeto Educação Fora da Caixa, ele também propôs a tradução do livro para o inglês e a realização de encontros para compartilhar experiências sobre doutorado informal. Quando questionado sobre a boa aceitação da campanha pelas pessoas, Bretas arriscou: “Acho que a coisa que mais tem chamado a atenção das pessoas é essa história do doutorado informal. Existe uma certa vontade no imaginário coletivo das pessoas de poder acessar esse lugar da autonomia.

http://porvir.org/porpessoas/o-melhor-da-educacao-alternativa-e-ter-autonomia/20140723




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