Educação para empoderar jovens
Projeto reúne direito e educação para empoderar jovens
Pé na Escola sensibiliza alunos para aprenderem mais sobre direitos humanos, deveres, leis e instituições políticas
Nos corredores da Faculdade de Direito da USP, os colegas Bruno Bissoli, Mariana Vilella, Renata Ferraz e Vanessa Pinheiro descobriram uma paixão em comum. Motivados pelo interesse em entender melhor sobre como funcionava o seu próprio processo de aprendizado, começaram e refletir sobre ideias, práticas e novos espaços educativos. E foi dessa união entre direito e educação que começou a surgiu o projeto Pé na Escola, uma iniciativa que promove oficinas, rodas de estudos e produção de conteúdos sobre educação em direitos.
A ideia teve início em 2007, quando os amigos participaram do RELER, um projeto de extensão universitária. Na ocasião, o grupo colaborava em atividades de alfabetização de adultos, além de promover a discussão sobre políticas públicas com os funcionários da instituição. A atividade, no entanto, durou até o ano seguinte, quando passaram a tomar rumos diferentes. No ano passado, impulsionados pelos protestos de junho e o desejo de promover mudanças, os amigos decidiram se reencontrar e retomar as propostas de anos atrás. “As manifestações deram um impulso e mostraram que existia um espaço para transformação no Brasil”, contou a integrante Renata Ferraz, que atualmente faz mestrado na Faculdade de Educação da USP.
Motivados por esse desejo, decidiram pesquisar sobre referências e pessoas que estavam pensando em novos modelos de educação. Inspirados pelo pensamento de Paulo Freire e outras iniciativas atuais, começaram a desenvolver o Pé na Escola, pensando em como poderiam conectar jovens com seus direitos e papéis na sociedade. “A gente acredita que a escola tem esse papel de formação integral. E [a discussão sobre] direitos humanos ganha essa importância”, explicou Mariana Vilella, que trabalha com advocacia do terceiro setor. A intenção é fazer com que os jovens se apropriem de questões fundamentais relacionadas a direitos, deveres, leis e instituições.
‘A gente acrerojetodita que a escola tem esse papel de formação integral’
O projeto conta com um trabalho focado em turmas dos anos finais do ensino fundamental. Segundo a integrante Vanessa Pinheiro, que faz mestrado em políticas públicas na Espanha, essa fase representa um momento importante para começar a trabalhar questões de democracia, sociedade e direitos com os alunos. “Nesse período a criança está se tornando jovem e começa a perceber que o mundo vai além da família e dos amigos. É nessa idade que os questionamentos começam a surgir”, apontou.
Inicialmente, o projeto já promoveu uma experiência piloto na escola municipal de educação fundamental Desembargador Amorim Lima, na zona oeste de São Paulo. Tomando como gancho o tema “direitos humanos dos povos originários”, que está sendo trabalhado de forma transversal no colégio, a equipe do Pé na Escola desenvolveu uma série de oficinas com os alunos. “A partir desse eixo, a gente pensou em uma estrutura que fizesse sentido para eles”, explicou Renata.
Duas vezes por semana, a equipe realizava atividades com uma hora e meia de duração. As oficinas foram divididas em cinco ciclos:
1) discussão sobre as questões dos povos indígenas no Brasil;
2) conceito de poder judiciário;
3) o poder legislativo e a participação popular;
4) o papel do legislativo;
5) síntese dos conceitos e a estrutura do Estado.
Todas as etapas apresentavam atividades dinâmicas e lúdicas, como a simulação de uma audiência pública ou a divisão dos alunos em grupos de advogados e promotores.
‘Eu acho que o principal é você empoderar esses jovens com conceitos básicos para eles entenderem melhor a sociedade e participarem dela com mais consciência’
“Eu acho que o principal é você empoderar esses jovens com conceitos básicos para eles entenderem melhor a sociedade e participarem dela com mais consciência”, defendeu Vanessa. Segundo ela, o estudante tem o desejo de saber mais sobre o que está acontecendo ao seu redor, porém, ele busca reinventar a política. “O erro dos adultos ao falar de política para os adolescentes é querer falar de uma coisa que já está pronta”, completou Renata. Para o grupo, quando você traz o tema para a realidade do aluno, o interesse se torna algo mais natural.
“Cada vez a gente percebe mais que o nosso foco é educação em diretos humanos, mas de uma forma atual e que faça sentido hoje”, pontuou Renata. Para 2015, o grupo pretende expandir o projeto e fazer um curso de um ano letivo sobre educação e direitos humanos. A ideia é que a atividade possa reunir alunos de diversos colégios. “A gente pretende usar essa escola de cidadania para aprofundar as oficinas e possibilitar que ela seja feita em um espaço de diversidade”, afirmou Mariana.
Confira o vídeo que mostra a experiência realizada no Amorim Lima: