Resposta do Enem – Filosofia
Resposta correta da pergunta do ENEM que virou meme na internet.
A resposta correta é a B. Platão é um realista, na terminologia anglo saxônica atual, ou um idealista, na terminologia do passado (quando falávamos muito em “mundo das ideias”). Em ambos os casos o quadro é interpretado como Platão apontando para o “mundo das formas (ideas = eidos = o essencial)” que, para ele, é o real, ontologicamente falando – o mundo imutável que está em relação com a parte intelectual de nossa alma (a alma é tripartite), o que não é aprendido pelos sentidos, o que não é a doxa, ou seja, o que não é o conhecimento opinativo, mas o conhecimento mesmo. Do lado oposto, Aristóteles mostra que o real é melhor encontrado na diversidade terrena.
O que pode ser lembrado no quadro, e por isso valeria à pergunta ser dissertativa de modo que o ENEM não fosse tão fraco, é o seguinte.
O quadro não é de um filósofo e sim de um pintor – Rafael. Rafael era culto, mas jovem. Pegou o tema como ele estava na época, já crivado pela apropriação da disputa entre Platão e Aristóteles a partir da filosofia medieval e do Renascimento. Nesse caso, a disputa já não se dava considerando o “mundo das formas” enquanto algo com estatuto ontológico forte, mas como algo equivalente ao que hoje entendemos como conceito, os chamados “universais” (Platão não tinha o conceito de conceito). Os medievais já estavam trabalhando com o termos gregos enquanto antes de tudo o que acessamos enquanto o que está posto na linguagem. Desse modo, as formas ou ideais eram já os universais, que possibilitam os particulares, ao menos na conta de Platão, o Platão aí do quadro, renascentista. O Aristóteles renascentista aí falava o oposto: o que há da nossa linguagem que é para ser levado a sério como existente são particulares, os universais são apenas “nomes”, sem existência real. Eu me encontro na rua não com o Homem ou a Pedra, mas com o homem José ou homem Pedro ou com esta pedra e com aquela pedra, não com a pedra. Estes aristotélicos então são chamados de nominalistas.
Nesse sentido, Platão não está apontando para o Céu, mas para o alto no sentido de que os nomes estão acima, cobrem os particulares, e ali está o real. Aristóteles está mostrando que as palavras que apontam para o existente apontam para o que é terreno, as coisas existentes que existem enquanto particulares e que estão entre nós sensivelmente, e isso é o real. Eles, os existentes particulares é que dão as características apreendidas por abstração mental e formam então os conceitos, os universais. Essa forma de pensar, aristotélica, é a que monta os nossos dicionários. Não a platônica.
Paulo Ghiraldelli – para aprender isso consulte A aventura da filosofia, da Editora Manole, dois volumes.
http://ghiraldelli.pro.br/resposta-enem-filosofia/