Aprendizagem dentro e fora da escola
Como conciliar a aprendizagem dentro e fora da escola?
Connie Yowell, diretora de Educação da Fundação MacArthur, questiona a atual modelo educacional que não leva em consideração os interesses dos estudantes
Fonte: Centro de Referências em Educação Integral 06 de novembro de 2014
“Parte dos problemas do atual sistema educativo é que ele começa com as questões erradas. Como ‘o que queremos que as crianças aprendam?’ ou ‘quais são os conteúdos que elas têm que aprender?’. E então quase tudo é definido a partir disto. Quase não importa quem a criança é, desde que se consiga seguir o material no ritmo esperado.”
A reflexão vem da diretora de educação da Fundação MacArthur, Connie Yowell, sobre o atual modelo educacional. Junto a outras organizações e pensadores, Connie propõe um novo paradigma, o Connected Learning (Aprendizagem Conectada). “A nossa pergunta nuclear é ‘qual a experiência que queremos que essa criança tenha?’ A questão central é sobre engajamento e se nos perguntarmos se essa criança está engajada, nós temos que prestar atenção na criança. Comumente, se está tão focado nos resultados que esquecemos de quem está aprendendo e de que temos uma paixão por aprender.”
O Connected Learning parte do pressuposto de que o modelo educacional atual não responde às demandas da sociedade contemporânea, nem leva em consideração os interesses dos estudantes. Criatividade, resolução de problemas, comunicação, colaboração e a pesquisa são vistos como habilidades importantes para responder à realidade de um mundo interconectado e de aceleradas mudanças.
Cidades abertas Para o Connected Learning, atualmente há um novo ecossistema de aprendizagem, que pode passar pela educação formal mas não se restringe a ela – inclusive porque a educação é vista como um processo que ocorre ao longo de toda a vida. Neste panorama, as cidades ganham um papel central revelando seus espaços e agentes educativos como museus, praças, organizações, coletivos, zoológicos ou bibliotecas. Já com a disseminação da internet, as oportunidades educativas se multiplicaram ainda mais: cursos abertos online, intercâmbio entre usuários nas redes e projetos construídos online e colaborativamente.
Os pressupostos do Connected Learning dialogam com o conceito de educação integral, contemplando que a aprendizagem acontece em diferentes espaços, diante de diferentes agentes educativos e também em diferentes tempos. Esta diversidade de espaços e atores da aprendizagem pode se concretizar por meio da formação de bairros-escolas, nos quais a comunidade, em parceria com a escola, se mobiliza para reconhecer e ofertar oportunidades de ensinar e aprender em seus diferentes espaços.
Ainda que a ideia de que a educação acontece para além dos muros da escola não seja nova, ainda persiste uma dificuldade em reconhecer os diferentes espaços e agentes educativos considerando todos igualmente importantes na formação de cada pessoa. Para a diretora da MacArthur, “o diploma deveria conectar todas as experiências de aprendizagem que o indivíduo tiver”.
Escolas abertas
Um dos projetos que busca romper essas barreiras é Cities of Learning (Cidades de Aprendizado) que busca conciliar a aprendizagem que acontece dentro e fora da escola. Assim, as instituições de ensino absorvem atividades que seus alunos desenvolvem em outros espaços, seguindo seus interesses e necessidades.
Esta junção dos dois espaços – escola e ativo da cidade – se concretiza por meio dos “Open Badges” (Medalhas abertas) desenvolvido pela Mozilla, também com apoio da Fundação MacArthur. Ao desenvolver uma atividade, curso ou projeto, o estudante ganha um badge. A Medalha simboliza o reconhecimento de que o indivíduo obteve um conhecimento ou participou de alguma atividade, funcionando como uma certificação.
Dentro do Cities of Learning, as medalhas abertas servem para que as escolas reconheçam atividades realizadas por seus alunos em outras instituições e levem isso em consideração como parte do processo de aprendizagem do estudante, como um crédito escolar, por exemplo. Cidades estadunidenses como Chicago, Pittsburgh, Dalas e Los Angeles participam da iniciativa.
Neste panorama, os tradicionais papéis de aluno e professor se modificam. “Neste modelo os adultos tem a tarefa de ajudar os estudantes a fazer conexões entre coisas que podem estar acontecendo fora da escola e as coisas que estão acontecendo dentro da escola”, resume o site do Connected Learning.
>>Como funciona o Open Badges? O projeto se viabiliza com o cadastramento de instituições ou grupos que se habilitam a emitir medalhas e os indivíduos, ao participarem de cursos ou iniciativas, acumulam as credenciais. Atualmente utilizam o sistema de medalhas a Universidade Beuth de Ciências Aplicadas de Berlim, museus, a secretaria de educação de Nova Iorque e cursos online, entre outras instituições. As medalhas podem ser usadas como parte do currículo tanto acadêmico como profissional. O Open Badges é uma ferramenta livre e aberta, podendo ser replicada e apropriada por qualquer interessado.