Aprendizado para além do Enem

Aprendizado para além do Enem

Escrito por Cláudia Lebiedziejewski

 

Apesar de necessárias, as mudanças no sistema educacional brasileiro acontecem a passos lentos e privilegiam reformas ora no ensino superior, ora na educação de nossas crianças e adolescentes. Tal falta de linearidade cria gargalos na formação dos alunos, como o que acontece na aplicação do programa curricular nacional pelos colégios. Embora o Ministério da Educação (MEC) estabeleça um currículo oficial, é possível perceber que provas de larga escala, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e os vestibulares, acabaram tomando para si o papel de definir o que é ou não ensinado nas salas de aula.

Isso se dá, principalmente, por causa de uma grande falha não só no sistema de ingresso ao ensino superior no Brasil, mas também na mentalidade da sociedade. Das escolas, é cobrada apenas a preparação dos alunos para atingir boas médias no Enem, deixando de lado a preocupação com um ensino duradouro, significativo e com possibilidade de aplicação do conteúdo na vida real – o que se espera de um programa curricular excelente.

A busca por resoluções rápidas, com esquemas e um caminho curto para entrar na faculdade, impede a reflexão sobre o que pode acontecer com o jovem depois de seu ingresso no ensino superior. O Enem virou um fim, e não um meio de acesso a uma fase da vida que não é nem metade do que os adultos terão pela frente. A dificuldade de se levar em consideração esses pontos e a mercantilização da educação padronizada, com foco nos processos de ensino, e não na formação para a vida, endossam e perpetuam essa situação.

Minha experiência de mais de 15 anos de como educadora me permite relatar que, para uma boa formação acadêmica, as instituições de ensino devem ter currículos bem estruturados, com uma filosofia educacional que privilegie o aprendizado duradouro. Outra dica valiosa é ter menos alunos em sala de aula, priorizando a relação personalizada com o professor em conjunto com um programa curricular mais flexível, com oferta de atividades extracurriculares, para que o aluno foque em suas áreas de interesse. Isso sem contar a imprescindível participação da família na vida escolar do aluno.

Um bom programa curricular é sustentado por esses valores, alunos e professores que acreditam que exames como o Enem são apenas uma etapa da vida, que será cheia de possibilidades para a aplicação do aprendizado.

Baseando-se em provas de larga escala, o ensino perde grande parte de sua missão maior. O aprendizado deixa de ser significativo e se torna um fardo para os alunos. O “X” marcado no lugar certo é a meta para conseguir entrar na universidade, que será vista por esse jovem apenas como um consórcio para obtenção do diploma, que dará acesso ao mercado de trabalho, e assim por diante.

E quem perde não é apenas o estudante. A sociedade sofre as consequências. Podemos notar lacunas no mercado de trabalho geradas pela dificuldade de se encontrar profissionais de determinadas áreas. Além disso, existe o risco de moldar cidadãos que não são acostumados a refletir e formar opiniões embasadas, o que resulta em gerações apáticas e sem capacidade de se posicionar.

A mudança tem que ser dos valores em geral, e não somente do currículo. O programa curricular é uma consequência. Quem escolhe a escola do filho são os pais. É deles e das instituições de ensino que precisamos esperar uma mudança, para que os colégios se comprometam a oferecer programas mais completos, com ensino de qualidade, e mostrem que os resultados vêm em longo prazo, e não somente no concurso de vestibular.

 

Autora: Cláudia Lebiedziejewski, diretora do International School of Curitiba  

http://www.profissaomestre.com.br/index.php/artigos/mais-educacao/1025-aprendizado-para-alem-do-enem




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