Além da sala de aula
Educação que vai além da sala de aula
Kelsiane Nunes - Correio Braziliense - 16/10/2014 - Brasília, DF
Para educar as pessoas sobre as necessidades que a diabetes trás e dar autonomia para que elas aprendam a cuidar de si, a professora da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB) Jane Dullius desenvolve desde 2001 o projeto Doce Desafio. `A iniciativa é um tratamento de prevenção em saúde, voltado para diabetes com ênfase em atividade física`, explica Jane. A ideia surgiu quando ela fazia doutorado e desde então ela se dedica a manter o projeto.
A iniciativa já fez 20 mil atendimentos. `O intuito é que os diabéticos possam adiquirir conhecimento, experiência e serem acompanhados não só em atividade física, mas também em relação a saúde que é a chave para ter uma qualidade de vida boa tendo uma doença crônica como a diabetes`, completa Jane, que tem diabetes tipo 1. `Sou diabética há 43 anos e tenho certeza que muito da minha qualidade de vida tem a ver com minha boa educação, conhecimento e habilidade para lidar com as situações que a doença impõe`, defende a coordenadora.
Estrutura do projeto
Hoje, o projeto atende quatro grupos em três cidades: dois grupos no Plano Piloto, um no Paranoá e outro em Ceilândia. A equipe é composta por 11 professores e cerca de 56 estudantes universitários. Os colaboradores são de cursos como nutrição, pedagogia, estatística, medicina, enfermagem, famárcia e fisioterapia. `Os estudantes universitários ministram as atividades com os diabéticos sobre a supervisão de professores`, explica a coordenadora do projeto.
A iniciativa tem quatro objetivos fundamentais: atender pessoas com diabetes, capacitar estudantes universitários e profissionais da saúde a atuarem em educação sobre diabetes, desenvolver pesquisa e produção científica na área e divulgar informações sobre o tratamento da doença para a comunidade. `A função número 1 do projeto é o ensino, seja ele para os pesquisadores, alunos universitários ou diabéticos atendidos`, explica a professora Jane.
Os atendimentos são divididos em quatro momentos distintos. O primeiro é a avaliação das condições do diabético ao chegar no projeto. Os monitores verificam a pressão arterial, nível de glicemia e fazem levantamento do que a pessoa comeu e se toma medicamentos. Depois passa-se para o exercício físico orientado. `A manutenção de uma vida ativa, não sedentária, é o principal fator que inibe a manifestação dos efeitos da diabetes tipo 2, a mais comum entre a população`, justifica Jane. O terceiro momento é dedicado a uma atividade educativa, que são discussões sobre temas que afetam a rotina do diabético. Para finalizar o atendimento, é feita uma nova avaliação das condições da pessoa.
A professora afirma que o projeto a ensinou que cada pessoa aprende de forma diferente. “Temos no programa diabéticos pós doutorados e analfabetos, crianças e pessoas com mais de noventa anos, de bem com a vida e amarguradas. Você descobre que não tem um método para ensinar todo mundo”, comenta Jane. A aluna do 4º semestre de pedagogia da UnB Larissa Lira afirma que o projeto complementa o conhecimento adquirido na sala de aula. `Consigo aprender como deve ser a relação entre professor e aluno, além de ver na prática as metodologias de ensino e avaliação`, conta a aluna.
Conhecimento para a vida
Participante do projeto há 6 anos, dona Maria Coelho não gosta de perder um atendimento. Ela participa de um dos grupos do Plano Piloto, que se reúne no Centro Olímpico da UnB. `Lá é muito bom. Os alunos cuidam da gente com muito carinho`, elogia. `Depois que entrei no projeto, passei a fazer atividade física regularmente. Com isso, minha diabetes está sempre controlada`, aponta.
Filipe Luzine é um dos monitores do projeto. Ele está no 8° semestre de educação física da UnB. Ele participa do Doce Desafio desde março de 2011 de formar contínua. Atualmente, ele atua no CO e em Ceilândia no Centro de Saúde 3. `Me apeguei às pessoas que trabalham e participam do projeto. O retorno é surpreendente. Os diabéticos dizem que ajudamos na vida deles`, conta. Filipe afirma que os anos de dedicação lhe renderam boa experiência profissional. `O maior retorno é aprender como lidar com a doença na teoria e como aplicar e transmitir o conhecimento para os participantes`, completa.