O Ensino Médio continua ruim

O Ensino Médio continua ruim

 O Ensino Médio continua ruim, mas pode melhorar

"Com a racionalização dos conteúdos, haverá carga horária disponível", afirma Jacir Venturi

Fonte: O Povo (CE)     30 de setembro de 2014

 

Há poucos dias divulgou-se o resultado do Ideb 2013 e, para o Ensino médio, obteve-se a nota 3,7, abaixo da meta. É no Ensino médio que residem nossas mais deletérias mazelas. A taxa de reprovação e abandono beira os 30% no 1º ano; estão fora da Escola 1,7 milhão de jovens de 15 a 17 anos e, se alongarmos essa faixa etária, teremos resultado mais funesto: 5,3 milhões de jovens estão na categoria que os demógrafos denominam jocosamente de nem-nem – nem estudam, nem trabalham.

A Escola precisa ser mais atraente. De acordo com pesquisas, o principal motivo de abandono e reprovação é que a “Escola é chata” e só se preocupa com o vestibular. O programa das disciplinas é genérico e acadêmico, sem se importar com os diversos tipos de inteligências e potencialidades do Aluno. Há poucas ‘quase unanimidades’ entre os Educadores, e uma delas, que a grade curricular privilegie mais a prática, a interdisciplinaridade e a contextualização, eliminando-se penduricalhos desnecessários. Ensina-se muito – quando se ensina – e aprende-se pouco.

Ao MEC caberia a tarefa de definir programa mais enxuto e único para o Brasil. Com a racionalização dos conteúdos, haverá carga horária disponível, cuja utilização passa a ser liberalidade de cada Escola, com espaço na grade curricular para implementar diversidade de oficinas e disciplinas. E todos os concursos e vestibulares não poderão extrapolar esse programa mínimo. Isto posto, há outras sugestões de ‘quase unanimidades’: oferta intensa de período integral; formação continuada de Professores; carreira Docente com valorização pela meritocracia; investimentos em novas tecnologias educacionais. A ampliação de vagas na Educação profissional é clamor de décadas, e só recentemente implantada. Até 5 anos atrás, apenas 7% dos nossos jovens de 15 a 18 anos estavam matriculados em cursos técnicos, enorme descompasso com os países da OCDE, cujo índice era, e ainda é, de 40% a 60%.

O Ensino técnico tem o condão de reduzir a evasão e a reprovação, pois o estímulo vem da aplicação prática dos conhecimentos e da sedução do ingresso rápido no mercado. Em 2013, 1,4 milhão de Alunos se matricularam no Ensino técnico, 52% deles em Escolas públicas e o restante nas particulares, Senai e Senac. Por que tão tarde? Resposta: políticas públicas equivocadas.

As consequências foram perversas para mercado ávido por mão de obra qualificada, e para parcela dos 5,3 milhões de jovens nem-nem. Destes, outra parcela deveria assumir o mea culpa. São hedonistas, acomodados e a 1ª lei a ser revogada é a que impera entre eles: a do mínimo esforço. No mundo competitivo, não há como obter conquistas sem disposição e disciplina para o trabalho e os estudos.

Jacir Venturi 

Hora de abraçar o Ensino Médio

"Ideb confirma que escola perde os alunos ? nas notas e na sala de aula ? à medida que eles passam para a adolescência", afirma jornal

Fonte: Gazeta do Povo (PR)    18 de setembro de 2014

Tempos atrás – para desgosto de muitos – o economista Gustavo Ioschpe afirmou que a Escola pública é o maior sistema de fracasso do país. Usou da seguinte analogia: nenhum ramo de atividade seria viável se metade de seu investimento se perdesse. Mas esse raciocínio não é aplicado à Escola: metade dos que ingressam não terminam o Ensino médio, e tudo bem. 

O país naturalizou o disparate da evasão juvenil, ignorando que, à medida que os jovens abandonam o Ensino médio, mais vulneráveis estão à informalidade e ao subemprego. Se esse argumento não provoca nem uma furtiva lágrima em quem deveria, lembre-se de que o sumiço desses Alunos dos bancos Escolares nos priva dos préstimos futuros de profissionais qualificados. Os ausentes poderiam ser médicos, por exemplo. Bem precisamos.

É provável que a crença algo absurda de que somos uma nação jovem, que em se plantando dá, ainda nos mantenha tão iludidos quanto anestesiados. Chegará o dia, quem sabe, em que um grande movimento nacional – um arrastão cívico, quem sabe – vai pedir aos adultos que façam das tripas coração para manter os jovens na Escola. Seria uma boa razão para viver.

Não faltará matéria-prima para argumentar. Os dados do último Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb) confirmaram o que já se afirmava à boca pequena nos circuitos educacionais. Os ditos três anos finais antes da faculdade são o gargalo. À medida que passa da infância para a adolescência, mais a Escola se torna desinteressante para os Alunos. A Escola “ganha” os muito jovens, “perde” os jovens. Os desempenhos Escolares seguem tendência semelhante. Curitiba é um caso: nos primeiros anos do Ensino fundamental, é a segunda do ranking, com 5,9 (atrás de Florianópolis, com 6,1). Nos últimos anos dessa etapa, a nota cai para 4,7.

As explicações não são nenhum mistério e brotam em cascata. Passam pelo currículo fragmentado e sem aplicação clara; pela paixão da Escola pelas práticas pedagógicas do século 19. Retóricas e prolixas, aulas soam para os Alunos como um discurso sem freios, um tempo perdido, por mais agressiva que essa verdade inconveniente possa soar a quem ensina. Avançou-se: admite-se hoje com certa folga a reforma do currículo, mas o debate anda em gatinhas.

Não fica por aí. Embora os índices do Ensino fundamental se mantenham no limite do aceitável, é nessa fase que certas insuficiências educacionais são gestadas, tornando-se um problema grave nos anos que se seguem. As disciplinas de áreas de exatas, em particular, “cobram” mais adiante os conteúdos que não foram bem trabalhados. Sentindo-se sem o fio da meada, muitos desistem, somando-se ao exército de brasileiros de baixa Escolaridade, não raro vitimados pelo alfabetismo funcional.

Do ponto de vista técnico, os resultados do Ideb 2014 indicam que é preciso somar forças nos últimos anos do Ensino fundamental. Em 16 estados, a nota caiu – incluindo o Paraná, mesmo sendo o oitavo do ranking nacional. É no “médio” que a sedução do Ensino começa a perder fôlego. Do mesmo modo, já são horas de abraçar a reforma dessa etapa, contendo sua estagnação, de modo a completar a formação dos jovens. É conter o fantasma da evasão ou não veremos país nenhum. Passa pela nota? Passa – o Ensino médio nas Escolas públicas estacionou em 3,4, quando deve chegar a 4,9. Mas passa sobremaneira por um pensar educacional mais apurado, capaz de vencer a inércia instalada nessa fase do sistema. Envolver a sociedade organizada nessa conversa é uma boa pedida.

Em tempo, o sistema privado de Ensino também diminuiu dígitos nas suas notas – em uma década, a avaliação do Ensino médio baixou de 5,6 para 5,4. Uma das explicações é a de que, com o aumento da renda média dos brasileiros, mais pais tenham trocado a Escola pública pela particular, abaixando o escore. Mas o argumento é um tanto ingênuo.

Aumentou o número de Escolas ou de vagas em Escolas que não cumprem o que prometem. Surgem como alternativa de investimento ao Ensino público, mas outra coisa não fazem senão enfraquecê-lo entre as classes médias. De 2010 a 2013 a rede privada teria recebido 1,1 milhão de novos Alunos, aumentando em mais de 17% a participação dessa rede na Educação brasileira. Que todo e qualquer recado seja endereçado para esse grupo também. 

 




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