Escolas com queda no Ideb
Dezoito capitais aumentam porcentagem de escolas com queda no Ideb
Mariana Tokarnia - Agência Brasil - 25/09/2014 - Brasília, DF
Dezoito capitais aumentaram a porcentagem de escolas em estado de alerta, de 2011 para 2013. São escolas que atendem a estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental - do 1º ao 5º ano, que tiveram queda no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2013 e que não cumpriram a meta para o ano. Em números, são 894 escolas de um total de 2.974. Essas escolas também não atingiram o índice 6, que é a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e a meta brasileira para 2022. A Agência Brasil procurou algumas delas.
No Rio de Janeiro, a Escola Municipal Comenius está abaixo da meta desde 2009. Em 2013, a escola deveria ter alcançado Ideb de 5,3, mas caiu de 4,3 para 4,1. `Nossa escola foi esquecida. Há anos não é reformada. O prédio chama a atenção: é todo depredado`, diz a diretora Susi Teixeira Gonçalves. Segundo ela, o centro de ensino atende a estudantes do 4º ao 9º ano. Não ter uma formação completa nos anos iniciais é, segundo ela, um dos motivos para não conseguirem um bom desempenho no Ideb. `Teve um ano que recebemos dez ou 11 semianalfabetos. Recebemos estudantes de várias unidades escolares`.
A escola fica em Bangu e, segundo a diretora, em área com conflitos. A escola também tem problemas com o quadro de docentes e tem que remanejar as cargas horárias para atender às turmas. Susi diz que seriam necessários mais três professores de matemática, um de geografia, um de ciências e dois de artes para atender bem aos estudantes.
Em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, a Escola Municipal Professora Ione Catarina Gianotti Igydio vem de uma trajetória em que cumpre a meta do Ideb desde 2009. Em 2013, no entanto, caiu de 5 para 4,2 e ficou abaixo da meta (4,4). O diretor da escola, Juraci Felix da Rocha, diz que o problema enfrentado extrapola os muros da escola, que fica a algumas quadras do presídio de segurança máxima de Campo Grande, no Jardim Noroeste.
`A rotatividade na escola é muito grande. Do ano passado para cá, houve manifestação dentro do presídio e o que ocorre lá interfere aqui. São muitas crianças ligadas às famílias dos detentos`, diz o diretor. Ainda segundo ele, a escola está localizada em uma região pobre e os alunos enfrentam diversos problemas familiares. Ele elogia o corpo docente e diz que foi feito um trabalho para que as famílias fizessem parte da formação dos estudantes, mas que `um pequeno percentual que acaba não participando, tem um impacto`.
Ainda de acordo com Rocha, a escola fica próxima a uma aldeia indígena urbana e atende a 145 estudantes da comunidade. `Quando tem rituais ou celebrações, eles viajam, quando morre alguém, ficam 22 dias fora. Faltam muito e essas faltas acabam tendo um impacto na aprendizagem`, analisa o diretor.
No Rio de Janeiro, o Ideb caiu de 5,4 para 5,3, cravando a meta. O número de escolas em situação de alerta, no entanto, passou de 11,7% para 40,1%. Já em Campo Grande, o Ideb teve uma variação de 5,8 para 5,4, também cumprindo a meta de 5,3. Nessa capital, a porcentagem de escolas em situação de alerta passou de 2,4% para 30,5%. No outro extremo, na capital do Acre, Rio Branco, 86% das escolas cresceram no Ideb. O percentual em alerta diminuiu de 47,6% para 14,3%.
A escola Ione Portela da Costa Casas, na capital acriana, passou de Ideb 5 para 5,8 cumprindo a meta de 5,1 para 2013. `Temos um trabalho que vem se realizando há algum tempo, não necessariamente para a elevação do Ideb, mas para a elevação da qualidade de ensino. O Ideb é uma consequência maravilhosa`, explica a coordenadora pedagógica da escola, Cleonice Duarte. De acordo com ela, a escola atende a crianças de bairros periféricos e a maior parte dos alunos é de famílias de baixa renda.
Como um dos fatores que ajuda no bom desempenho, ela diz que não há uma grande rotatividade de docentes no ensino fundamental e que muitos professores estão na instituição desde a fundação, há mais de 25 anos.
De acordo com a Secretaria Municipal de Educação de Rio Branco, no ano passado, foi feito um trabalho de formação com todas as escolas da rede municipal. Os professores foram semanalmente à secretaria, por seis meses, planejar as aulas e receber orientações. Os professores discutiam os problemas encontrados em sala de aula e receberam reforços em português e matemática, além da formação em outras áreas, já oferecida pela secretaria.
`Focamos no período porque acreditamos que quando trabalhamos muito bem os anos iniciais, os alunos vão tendo mais capacidade de assimilar melhor, compreender melhor`, diz a coordenadora do Ensino Fundamental da secretaria, Gleicecléia Gonçalves de Souza.
Em nota, Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro diz: `mesmo tendo passado por uma greve de quase três meses, encerrada uma semana antes da aplicação da Prova Brasil, o Rio manteve os resultados alcançados em 2011`. A secretaria diz ainda que das 80 escolas que estavam em estado de alerta, em 2011, 62 unidades saíram desse grupamento, em 2013.
`Desde 2009, a prefeitura do Rio, por meio da Secretaria Municipal de Educação, vem investindo na melhoria da aprendizagem e também na estrutura da rede com o objetivo de dar um salto de qualidade na educação carioca. Uma série de programas e ações foi realizada, a partir de três medidas fundamentais: a adoção de um currículo básico para todas as escolas, com a produção do nosso próprio material pedagógico; a realização de provas bimestrais; e um programa intensivo e contínuo de reforço escolar`, diz o órgão.
A Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande foi procurada mas não respondeu à reportagem, até a publicação.
Os dados são do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), organizados pela plataforma de dados educacionais QEdu, uma parceria entre a Meritt e a Fundação Lemann, organização sem fins lucrativos voltada para a educação. O QEdu classifica as escolas de acordo com o índice como em situação de alerta, atenção, melhorar ou manter.