Para entender Gaza
Quatro filmes para entender Gaza
Seleção de obras de ficção cinematográfica ajuda a compreender o conflito entre árabes e israelenses
Por Sergio Rizzo
Paradise Now (2005)
A leitura atenta do noticiário não basta ao observador distante para compreender os meandros do conflito entre judeus e árabes no Oriente Médio. Aquecido desde a criação do Estado de Israel, no pós-Segunda Guerra Mundial, o caldeirão regional jamais deixou de ferver. Por vezes, como nos últimos tempos, o conflito se torna mais agudo e o número de vítimas o leva de volta à mídia internacional. Nesses momentos, o cinema pode ajudar a entender melhor o que se passa ali, atribuindo dimensão humana ao drama político.
É o caso de Paradise Now (2005), uma envolvente e perturbadora imersão nas condições bem objetivas que alimentam a criação dos homens-bomba árabes responsáveis por operações suicidas em território israelense, ação que os governos de Tel-Aviv sempre usaram como justificativa para retaliações. Nascido em Nazareth, o diretor Hany Abu-Assad foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro por uma detalhada recriação da máquina de fabricar atos terroristas. Primeiro, deixa claro de onde vem o ressentimento, matéria-prima indispensável para recrutar voluntários.
Depois, o filme possibilita vislumbrar a falta de esperança em soluções pacíficas, que atinge boa parte dos palestinos. Por fim, reconstitui – usando seus dois jovens protagonistas e o desejo de vingança que os move – como são planejadas e executadas as operações. Abu-Assad não busca fazer nenhum julgamento sobre quem seriam os vilões e os mocinhos do conflito, sobretudo porque não parece acreditar que as diferenças históricas entre judeus e árabes possam ser traduzidas dessa forma simplista.
Bubble (2006)
A bolha do título refere-se à forma com que alguns israelenses, jovens, sobretudo, assumem viver com alguma distância em relação ao conflito político na região. O diretor Eytan Fox (Delicada Relação) mostra um grupo de amigos que parecem tocar o cotidiano, em Tel-Aviv, como se não houvesse mundo lá fora, até que ele bate à porta.
Aproximação (2007)
Diversos filmes do israelense Amos Gitai, como O Dia do Perdão (2000) e Free Zone (2005), dedicam-se a visões agudas e controvertidas do conflito entre judeus e árabes. Em Aproximação, Juliette Binoche interpreta uma francesa de origem israelense que volta à Faixa de Gaza em busca da filha abandonada muito tempo atrás.
Lemon Tree (2008)
Nascida em Nazareth, como o diretor de Paradise Now (no qual ela também trabalha), a ótima atriz Hiam Abbass interpreta uma viúva palestina que tem o azar de ganhar um vizinho ilustre: o ministro da Defesa de Israel. O governo julga que o limoeiro da viúva precisa desaparecer, por razões de segurança, e começa então uma batalha legal e moral.
Publicado na edição 90, de setembro de 2014
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