Decepções na educação

Decepções na educação

 

  A semana passada trouxe notícias decepcionantes para a educação do país. A principal delas foi a divulgação dos resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2013, que mostraram que a qualidade da educação no Brasil está avançando bem menos do que o esperado. A sociedade deveria ter ficado indignada com esses resultados, principalmente em época de eleições, mas isso infelizmente não aconteceu. Afinal, o que está acontecendo com a educação no Brasil?

O aprendizado dos nossos alunos está estacionando num nível muito abaixo dos países de alto desempenho

Na verdade, vários indicadores mostram que está havendo uma desaceleração no ritmo de crescimento educacional que estávamos observando no Brasil. O Ideb da 4ª série aumentou 0,4 entre 2005 e 2007, mas apenas 0,2 nos últimos 2 anos. O índice da 8ª série aumentou somente 0,1 entre 2011 e 2013, passando de 4,1 para 4,2 e deixando de atingir a meta estabelecida pelo próprio MEC (4,4). No ensino médio não houve avanço no período recente. Ou seja, o aprendizado dos nossos alunos está estacionando num nível muito abaixo dos países de alto desempenho, como Coreia do Sul e Finlândia.

Isso também aconteceu com vários outros indicadores. Os anos médios de escolaridade para os jovens de 22 anos de idade (que estão entrando no mercado de trabalho), por exemplo, cresceram 0,7 entre 1992 e 1997. Entre 1997 e 2002 o ritmo quase dobrou, passando de 7 para 8,2 anos completos (equivalente ao ensino fundamental completo). Porém, a partir daí, o ritmo começou a decair, atingindo 0,9 entre 2002 e 2007 e apenas 0,6 nos últimos cinco anos.

A porcentagem de jovens que está na escola na idade certa aumentou 21 pontos percentuais entre 1992 e 2002, mas apenas 14 pontos nos últimos 10 anos. Vale lembrar que apenas metade dos jovens de 15 a 17 anos de idade está frequentando o ensino médio atualmente. O número de matrículas presenciais no ensino superior cresceu 126% entre 1992 e 2002, mas apenas 70% na última década. Apenas 14% dos jovens de 25 a 34 anos concluiu o ensino superior no Brasil. Nos EUA essa taxa é de 44% e na Coreia atinge 66%. Ou seja, ainda teríamos muito a avançar. O que está acontecendo?

Depois de um período bastante promissor na área educacional dos governos de FHC e Lula, com grandes avanços institucionais, nos últimos anos a educação parece ter deixado de ser prioridade. Apenas “programas-vitrine”, de grande impacto na mídia, tais como o “Ciências sem fronteiras”, estão sendo priorizados. Muito pouco está sendo feito pelo governo federal para aumentar as matrículas e o aprendizado dos nossos alunos.

Há municípios que conseguem avançar bastante em termos de aprendizado, mesmo atendendo estudantes com baixo nível socioeconômico, como mostrou um estudo recente da Fundação Lemann (Excelência com Equidade). Mas esse avanço ainda está concentrado nos anos iniciais do ensino fundamental (4ª série) e acontece apenas em poucos municípios, que têm uma equipe de gestores bastante competente. Seria necessário expandir as boas práticas educacionais para as demais escolas do Brasil.

Para isso, é necessário que o governo federal lidere um programa nacional para incentivar todas as redes escolares a adotarem as práticas educacionais que dão resultados. Que práticas são essas? O economista Roland Fryer, de Harvard, tem feito vários estudos mostrando as políticas educacionais que funcionam para melhorar o aprendizado nas escolas em áreas de alta vulnerabilidade, mesmo nas séries mais avançadas. São elas: conversas frequentes do diretor com os professores para melhorar as aulas, uso de dados e avaliações para reformular os programas de ensino de cada série, aulas de reforço frequentes para todos os alunos, aumento do número de horas-aula e fazer com que os professores tenham expectativas altas quanto ao resultado acadêmico e comportamento de todos os alunos.

Vários estudos mostram que não adianta somente aumentar os gastos com educação. É necessário induzir as redes a adotarem as práticas que funcionam. Para isso, é necessário que parte dos recursos que o governo federal repassa para as redes (e diretamente para as escolas) dependa da adoção dessas medidas que se mostraram efetivas.

Além disso, é necessário ter um programa de desenvolvimento infantil que trate dos problemas que afetam as crianças nascidas em famílias mais pobres e que atrasa o desenvolvimento das suas habilidades cognitivas e sócio-emocionais. Temos que atuar tanto no lado das famílias dos alunos como nas práticas escolares. Não há outra maneira de fazer com que a educação do Brasil volte a avançar no ritmo adequado.

Fonte: Valor Econômico, 19/09/2014.

http://www.imil.org.br/artigos/decepes-na-educao/




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